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Gastroplastia endoscópica deve ajudar pacientes com grau leve a moderado de obesidade (Ilustração – Reprodução da Internet)

Imagine uma mulher de 1,60 metro de altura. Seu peso normal deveria ser no máximo 64 quilos, segundo especialistas. Mas mesmo com todo regime que ela já fez, não consegue baixar dos 80. Ela quer emagrecer, sua autoestima está comprometida e sua saúde já inspira cuidados. Mas como não é considerada obesa grau III (mais de 100 quilos), não é uma boa candidata à cirurgia bariátrica. Até hoje, sua alternativa girava em torno de tratamentos de emagrecimento, dietas e exercícios. A esperança pode estar na gastroplastia endoscópica, uma nova técnica de cirurgia sem cortes.

A novidade,  que acena como possibilidade de tratamento da obesidade leve, foi desenvolvida pelo médico Manoel Galvão Neto, em conjunto com os médicos Eduardo Grecco, Thiago Souza e Gustavo Quadros.  O cirurgião e endoscopista Eduardo Grecco, que integrou a equipe médica responsável pela implantação do novo método no Brasil garante que a técnica é segura, eficaz e sem cortes na barriga. “O procedimento consiste na introdução de um equipamento flexível pela boca, como acontece nos exames endoscópicos. Com ampla visão do estômago, realizamos suturas no órgão, deixando-o com a forma tubular.”

A nova técnica  é realizada em ambiente hospitalar, dura em média 60 minutos, e prevê apenas um período de quatro horas para que o paciente fique em observação, sendo liberado na sequência. “Em casa, deve apenas seguir uma dieta prescrita antecipadamente”, explica. O acompanhamento é feito em consultório e pode ser necessário realizar endoscopia ou exames de contraste para avaliação dos resultados. Nos primeiros casos tratados, a perda de peso girou em torno de 14% no primeiro mês.

 “Além de todas as vantagens de um procedimento minimamente invasivo, essa técnica pode ser realizada em pacientes com obesidade grau I e II – que são pacientes não candidatos às cirurgias bariátricas convencionais. Portanto, não são métodos que se competem ou se comparam”, ressalta. “A obesidade grau I vem logo depois do sobrepeso (IMC entre 25 e 29,9). Ou seja, quando o paciente atinge IMC 30 e não consegue mais perder peso com exercícios físicos e dieta, a gastroplastia endoscópica já pode ser considerada uma opção de tratamento”, diz Grecco.

Especialista responde dúvidas sobre nova técnica

Manoel Galvão Neto participou de uma equipe internacional que desenvolveu a técnica e a trouxe recentemente para o Brasil. As primeiras cirurgias aconteceram no hospital da Faculdade de Medicina do ABC, onde ele é professor afiliado da disciplina de Cirurgia.  Neto responde a cinco perguntas e respostas sobre essa novidade. Confira:

1.     Como surgiu a gastroplastia endoscópica?

Essa técnica foi desenvolvida há cinco anos, fruto de uma parceria entre a Florida International University (Miami), onde sou professor associado, com outras universidades dos Estados Unidos e um serviço de Endoscopia no Panamá. Fiz parte dessa equipe internacional atuando principalmente na idealização e execução da técnica. Depois, a levamos para a Espanha. No Hospital Universitário Sanchinarro (Madri), nós desenvolvemos a maior série de pacientes tratados com essa técnica, juntamente com o médico Gontrand López-Nava. Desde então, mais de duas mil cirurgias já foram realizadas em 12 países. Já tivemos a oportunidade de treinar a maior parte dos médicos que executam essa técnica. 

2.     Quem é candidato a esse tratamento?

Pacientes com obesidade grau I e II – que normalmente nem são candidatos às cirurgias bariátricas – são os que apresentam melhores resultados e podem se beneficiar muito com essa técnica. Não são métodos que se competem ou se comparam. Vale lembrar que a obesidade grau I vem logo depois do sobrepeso. Ou seja, quando o paciente atinge IMC 30 e em geral não consegue mais perder peso com exercícios físicos, mudança de hábitos e dieta. Nesses casos a gastroplastia endoscópica pode ser considerada uma opção de tratamento, com resultados eficazes, menor complexidade e poucos riscos.

3.     Como é a realizada a gastroplastia endoscópica?

O procedimento implica na introdução de um tubo flexível pela boca, assim como acontece num exame comum de endoscopia, só que sob anestesia geral. Com ampla visão do estômago, o cirurgião endoscopista realiza suturas no órgão, deixando-o com a forma tubular fazendo uso de um equipamento chamado OverStitch. A gastroplastia endoscópica é realizada em ambiente hospitalar, dura em média 60 minutos, e exige apenas um período em torno de quatro a seis horas de observação. Eventualmente, dependendo do caso, pode ser necessário passar a noite no hospital –saindo no dia seguinte. O acompanhamento antes e depois do procedimento é feito em consultório, sendo que pode ser necessário realizar endoscopia ou exames de contraste para avaliação dos resultados.

4.     Quanto peso a pessoa perde? Ela tem de tomar vitaminas para o resto da vida, assim como na maioria das cirurgias bariátricas?

A sutura endoscópica não causa déficit absortivo, somente restritivo. Ela também altera o esvaziamento do estômago, levando à sensação de saciedade precoce e ajudando o paciente a identificar que já comeu o bastante. Ou seja, problemas como desnutrição, anemia e deficiência de vitaminas não foram registrados até o momento, no acompanhamento de até dois anos. Mas é necessário seguir uma dieta recomendada pelo médico. É claro que a pessoa não comerá como antes, porque reduziu bastante o volume do seu estômago. Em média, segundo resultado de estudos com essa técnica depois da cirurgia, o paciente perde em torno de 15% de seu peso de modo gradativo. A principal vantagem é de ser um procedimento minimamente invasivo, sem cortes e seguro.

5.     Além de reduzir o peso corporal, esse tratamento contribui para evitar outros problemas de saúde?

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o sobrepeso em adultos no Brasil passou de 51,1% (2010) para 54,1% (2014). A tendência de aumento também foi registrada na avaliação nacional da obesidade. Em 2010, 17,8% da população era obesa; em 2014, o índice chegou aos 20%, sendo a maior prevalência entre as mulheres (22,7%). Essa situação gera impactos importantes na saúde, já que a obesidade está intimamente associada a doenças do coração, ao diabetes tipo 2, hipertensão, câncer, problemas nas articulações etc.  Sendo assim, todo tratamento voltado para a obesidade, seja grau I, II ou III, é muito importante e deve ser considerado atentamente, levando sempre em conta o perfil do paciente bem como seu histórico de saúde. É importante reprisar que, com a redução efetiva do peso, ocorre significativa melhora nas doenças associadas à obesidade.

Primeiro hospital a oferecer a técnica

Com a obesidade atingindo proporções epidêmicas, o CFM (Conselho Federal de Medicina) ampliou de seis para 21 o número de doenças que podem justificar a cirurgia bariátrica. O procedimento contribui para tratar o diabetes tipo 2, hipertensão, problemas nas articulações, asma, doenças do refluxo gástrico e apneia do sono, entre outros. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o número de cirurgias realizadas saltou de 60 mil, em 2010, para 100 mil no ano passado. A nova técnica deve elevar ainda mais o número de pessoas que tratam desse grande problema de saúde pública.

O Hospital Saha, em São Paulo, referência em cirurgia videoassistida em várias áreas, incluindo cirurgias do aparelho digestivo, foi o primeiro hospital privado a investir no equipamento – aprovado pela Anvisa. E montou toda a infraestrutura necessária para a realização da gastroplastia endoscópica.  O primeiro procedimento aconteceu no final de junho e já existe um planejamento com várias gastroplastias endoscópicas agendadas pelos principais especialistas no tratamento da obesidade.

Fonte: Hospital Saha

 

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