Aos 39 anos, A. (nome fictício) teve um AVC (acidente vascular cerebral) por conta de uma Doença de Chagas não diagnosticada. Um detalhe: ela é carioca e morava na Tijuca — ou seja, fora de região endêmica, onde a patologia costuma prevalecer. É mais uma vítima da negligência da indústria farmacêutica frente a um problema que atinge 16 milhões de brasileiros.
As chamadas doenças negligenciadas, como chagas, leshmaniose e hepatite C – todas bastante incidentes em nosso país -, afetam aproximadamente 1 bilhão de pessoas no mundo. Apesar disso, são enfermidades que os laboratórios ignoram por atingirem, sobretudo, a população mais pobre. A visão da indústria é de que não haveria mercado para desenvolver novos produtos.
Para se ter ideia, dos 850 novos medicamentos e vacinas aprovados entre os anos 2000 e 2011, apenas 4% se destinavam a este público. Um desafio e tanto para médicos e especialistas de todo o mundo, empenhados em ampliar o acesso a medicamentos e outros recursos terapêuticos e preventivos. O ciclo de Chagas, por exemplo, foi mapeado em 1906 e até hoje não existem drogas com eficácia ideal, de baixo custo e fácil manejo no tratamento. O não tratamento precoce de Chagas custa direta e indiretamente aos cofres do país mais de 130 milhões de dólares ao ano.
“Até quando o mundo vai viver estas epidemias e se ver despreparado na hora em que uma epidemia explode? Como fazer com que estas inovações cheguem a quem mais precisa? Como não atuar somente em crise?”, questiona Carolina Batista, diretora médica da DNDi (Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas).
Confira o vídeo da entrevista exclusiva da especialista Carolina Batista ao Canal Vida & Ação no Youtube.
Evento no Rio discute doenças negligenciadas
Mais de 300 médicos especialistas, representando 30 países, estão reunidos até esta quarta-feira (8), no Rio de Janeiro, para discutir a questão das doenças negligenciadas. Entre os temas em pauta estão zika e ebola e a resistência a medicamentos. A descoberta de novos remédios para combater a doença de Chagas e a leishmaniose também será tratada.
Realizado pelo DNDI no Rio Othon Palace, conta com representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS), Médicos Sem Fronteiras, Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), Fiocruz, BNDES e universidades brasileiras e de outros países, como a de Harvard e de Barcelona.
* Colaboração de Malu Fernandes e Ana Carolina Almeida, com Redação