Foi preciso um estrondoso #forabolsonaro, ritmado pelo som de panelas saído das janelas de prédios chiques de grandes capitais do país, para que a ficha realmente caísse – ou fosse forçada a cair. Uma hora depois – e justamente no dia em que o Brasil registrou a primeira morte por coronavírus – Jair Bolsonaro – que até a tarde desta sexta-feira (17) era um dos quase 9 mil suspeitos de ter contraído o Covid-19 – resolveu reconhecer a gravidade da pandemia.
À noite, uma hora após o início do panelaço, o presidente anunciou que pedirá ao Congresso Nacional que declare calamidade pública até 31 de dezembro de 2020, por conta da crise causada pelo avanço do coronavírus. Símbolo do movimento que levou ao golpe da ex-presidente Dilma Rousseff em 2014, apoiado por Bolsonaro, o panelaço às avessas agora aconteceu um dia antes do previsto e mobilizou moradores de bairros nobres de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Belo Horizonte.
Bolsonaro, que vinda zombando do “clima de histeria” por conta do coronavírus, chegou a participar de manifestação em Brasília no domingo (15). Na ocasião, mesmo quando deveria estar em quarentena até a confirmação do teste, ele foi até o ato de protesto contra o Congresso e o STF, apertou as mãos de dezenas de pessoas, transformando-se em perigo em potencial para muitos apoiadores. O ato foi tão criticado que mobilizou várias correntes, levando à apresentação formal de seu pedido de impeachment, também nesta terça.
A decisão de solicitar a decretação de calamidade pública foi elogiada por alguns aliados, que saíram na frente para defender o presidente, mas considerada tardia por adversários e até por seus próprios eleitores, que se sentiram ofendidos com o desdém do presidente para um problema que tem paralisado parte do país nos últimos dias. Mais cedo, o próprio ministro da Saúde de Bolsonaro havia informado que somente em agosto o país deve começar a controlar o surto epidêmico. Até Donald Trump acordou antes da letargia e já admite os estragos que a força do novo vírus pode provocar, ceifando vidas e corroendo “a maior economia do mundo’.
Segundo especialistas em política econômica, a calamidade significa que a União poderá ter liberdade para remanejar os gastos públicos, sem a necessidade de cumprir a meta fiscal para este ano, que já tinha previsão de um déficit público de R$ 147 bilhões. A medida foi tomada no dia seguinte ao anúncio, pelos governos do Rio e de São Paulo, de estado de emergência por conta do Covid-19. Bolsonaro anunciou ainda que vai fechar as fronteiras com a Venezuela para a entrada de pessoas, não de mercadorias (?).
Indicadores globais apresentados pelo mercado e agentes financeiros esta noite na China, França e até Estados Unidos apontam que o mundo caminha para uma recessão de proporções desconhecidas. No Brasil, o Banco Central indica que a economia já começa a entrar em recessão este ano, fechando com números negativos, com menos empregos e menos arrecadação. É o coronavírus confirmando o mantra no mundo financeiro:”não se cuida da economia sem cuidar das pessoas primeiro”. A solidariedade e a empatia pedem passagem para a extrema direita neoliberal.