O drama da jornalista Marina Costa, de 24 anos, reflete o de milhares de brasileiros e brasileiras que dependem da hemodiálise para sobreviver em tempos de coronavírus. A jovem carioca foi diagnosticada com doença renal crônica em novembro de 2019. Foi uma reviravolta em sua vida. Entre os estudos e as sessões de hemodiálise três vezes por semana na Barra da Tijuca, onde mora, aguardava na fila do transplante no Estado do Rio. Quando se preparava para receber o rim da mãe, a também jornalista Ana Paula Costa, veio a pandemia. E os planos, por ora, estão suspensos.
Como se não bastasse a frustração e o medo iminente de sair de casa para cumprir a necessária rotina da diálise – sem a qual seus rins não funcionariam -, Marina teve que passar 9 dias internada – quatro deles numa UTI – , sem contato com a família, diante de uma possível infecção pelo novo coronavírus. No hospital Barra D´Or, esperou três dias para conseguir fazer o teste e descartar a suspeita. A jovem jornalista foi diagnosticada com uma pericardite, associada a uma pneumonia, o que causou sintomas semelhantes aos da Covid-19.
Não bastasse a situação de Marina, sua mãe ainda teve que dividir os cuidados com o marido, que foi diagnosticado com Covid-19 e precisou ficar hospitalizado, seis dias numa unidade intensiva. “Eu tinha que mudar de casa no dia 22 de março e precisava preservar a Marina. No dia da mudança, ele internou e foi direto para o CTI. Começou numa terça-feira com os sintomas e na quarta-seguinte foi internado. Foi uma loucura em casa. Graças a Deus que tinha um quarto para deixá-lo no isolamento por 21 dias”, contou Ana Paula.
Ela estava se dedicando a um novo trabalho na área de comunicação e se viu obrigada a suspender tudo em nome da maior missão de sua vida: salvar a vida da filha. “Minha vida virou de cabeça para baixo. Tive que deixar no início de fevereiro para me dedicar ao transplante e agora isso tudo”, conta, referindo-se à pandemia que paralisou todo o processo de transplantes no Rio de Janeiro. Ana Paula não sabe agora quando poderá doar o rim para livrar Marina da rotina árdua das sessões de hemodiálise.
Em casa desde o dia 31 de março, Marina tenta se readaptar à nova rotina, enquanto aguarda pelo transplante, mas não pode abrir mão de sair de casa para ir à clínica Renal Vida, rotina que cumpre três vezes por semana. Com o quadro de pneumonia e pericardite sob controle, e teve que redobrar os cuidados na hora de fazer as sessões de hemodiálise, com atenção às medidas sanitárias recomendadas, como uso de máscaras e higienização constante das mãos.
Ao ViDA & Ação, Marina Costa concedeu, pelo Whatsapp, a seguinte entrevista:
Qual a sensação de estar no hospital, diante do fantasma do coronavírus?
Foi uma sensação horrível. Eu internei num sábado e só fui para o quarto numa quarta-feira. Eu tinha praticamente certeza que eu não tinha coronavírus. Os médicos já tinham falado que o problema era o coração. O sintoma mais forte que tive foi a dor no peito. Minha febre não era muito alta, no máximo chegou a 38.3. Foi muito ruim, tive que ficar no isolamento total, não podia ver nem a cara dos médicos e dos enfermeiros. Não sabia nem como eles eram. Você não vê ninguém, seus parentes não podem te visitar, você só vê gente encapuzada. É bem agoniante. Achei legal uma coisa que fizeram em um hospital que vi na internet: os funcionários colocavam as fotos deles sem os equipamentos nos jalecos para os pacientes verem a identificação.
Como está sendo sua rotina de diálise depois da pandemia?
É muito complicado, muito difícil. Agradeço muito aos enfermeiros, aos técnicos de enfermagem que estão na linha de frente, aos médicos da clínica. Eles se arriscam todos os dias. Alguns moram em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e têm que trabalhar na Barra da Tijuca, tendo que pegar três meios de transporte para chegar lá por conta da paralisação dos ônibus intermunicipais. O movimento na clínica é grande, são várias pessoas para fazer hemodiálise. Tiraram a sala de espera e colocaram do lado de fora e tentam ao máximo manter os 2 metros de distância entre as cadeiras (dos pacientes). Todos os funcionários estão usando máscaras, inclusive os da recepção, da administração, os técnicos de máquinas…Tem muitos funcionários com suspeita lá na clínica e tiveram que ser afastados.
E como fica agora a expectativa em torno da espera pelo transplante?
Isso foi o mais duro. Tenho duas possibilidades de transplante: o da fila, que é muito demorado e não existe possibilidade de surgir um rim neste momento, e o transplante de doador vivo, que é minha mãe. Esse estava bem adiantado. Eu e minha mãe tínhamos feito todos os exames para ver o funcionamento dos rins, das nossas bexigas. Só faltava o exame de compatibilidade, que é o mais importante. Esse exame estava marcado para o dia 25 de março, mas como foi logo no início da pandemia, foi muito tudo foi suspenso. O que era para demorar seis meses – porque eu fiquei renal em novembro de 2019 – deve agora demorar um ano ou um pouco mais. Quando voltar, todo mundo vai querer marcar transplante. Não vai dar para ficar marcando cirurgia assim. Então, não sei como vai ser.
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Além do cuidado com os pacientes, o(a) nefrologista precisa estar atualizado constantemente quanto às recomendações, normas e procedimentos envolvidos nos centros de terapia renal substitutiva para prevenção, controle e resolução adequada quando surgirem casos positivos de Covid-19″, explica a diretora da SBN.