A apresentadora Fátima Bernardes, de 58 anos, revelou nesta quarta-feira (2) que foi diagnosticada com câncer de útero. O tumor está em estágio inicial e ela terá que se afastar do programa por um período para realizar o tratamento. Namorado da jornalista, o político Túlio Gadêlha postou uma pequena homenagem com uma foto dela nas redes sociais: “Você é mais forte do que pensa. Tudo será mais fácil do que imagina. Estamos juntos nessa, meu amor”, escreveu Túlio no Instagram.

Felizmente ela descobriu a doença em estágio inicial, graças a um check-up. A notícia acende um alerta sobre a importância das consultas de rotina. Mais de meio milhão de mulheres no mundo todo são afetadas pelo câncer de colo de útero anualmente. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a doença – causada pelo papilomavírus humano (HPV) – atinge mais de 16 mil mulheres no Brasil por ano, o que já faz desse o terceiro tipo de tumor mais comum entre a população feminina.

Segundo o Ministério da Saúde, 75% das brasileiras sexualmente ativas entrarão em contato com o HPV ao longo da vida, sendo que o ápice da transmissão do vírus se dá na faixa dos 25 anos.  Após o contágio, ao menos 5% delas irão desenvolver câncer de colo do útero em um prazo de dois a 10 anos. A Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) anunciou, em conjunto com a OMS, uma campanha para erradicar a doença no país.

Sintomas nem sempre aparecem no início

Os sintomas do câncer de colo de útero só aparecem com sinais de corrimento alterado, dor abdominal ou pélvica, e até mesmo sangramento fora do período menstrual, quando está num estágio muito avançado. “O acompanhamento anual com um ginecologista, mesmo que a paciente esteja bem e não apresente nenhum tipo de sintoma, é de extrema importância. Algumas doenças, como o câncer de útero, no início podem ser assintomáticas”, enfatiza Fernando Prado, ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana.

De acordo com o especialista, o exame preventivo inicial mais indicado para todas as mulheres que iniciaram a vida sexual é o Papanicolau. “O exame é o responsável por detectar infecções e alterações na região íntima, além de analisar as condições do útero, se há algum tipo de lesão que precisa ser investigada por biopsia ou até mesmo raspagem para descartar qualquer indicativo de câncer”, explica. Nos casos de resultados anormais no Papanicolau, o ginecologista pode solicitar também a Colposcopia, exame que analisa diretamente o colo uterino, além de outras estruturas genitais.

Tratamento pode incluir cirurgia, radio e quimioterapia

Ao falar de câncer de útero a primeira dúvida levantada é sobre a necessidade da remoção do órgão. “O ginecologista junto com o time de oncologia avaliará cada caso. Primeiro deve-se analisar a extensão do câncer, e caso seja possível, realizar uma conização, ou seja, a retirada de um pedaço um pouco maior do tecido uterino. Desta maneira é possível remover a parte doente sem que ela se espalhe para o resto do corpo, conservando também a funcionalidade do útero”, esclarece Dr Prado.

Se a expansão das células cancerígenas for muito grande também será realizado tratamento de radioterapia ou quimioterapia. “Nessas situações é importante uma conversa com a paciente sobre o desejo de uma gravidez futura, já que os tratamentos quimioterápicos e a radiação podem levar a uma menopausa precoce. Quando a mulher está em idade fértil é válido considerar deixar óvulos ou embriões congelados que podem ser fertilizados quando a paciente estiver livre da doença”, enfatiza. Caso o câncer tenha se espalhado para todo o órgão, é necessário realizar a remoção.

Vacina para meninas e meninos evita HPV

A principal causa do câncer do colo do útero é a infecção pelo vírus HPV (papilomavírus humano). “Quando não causa o sintoma mais comum das verrugas genitais, o vírus vai lesionando a parede do útero aos poucos. Podem passar anos até que se desenvolva um câncer”, explica Dr Prado, doutor pelo Imperial College London e pela Universidade Federal de São Paulo.

A vacinação contra o HPV tem como função prevenir as doenças causadas por este tipo de vírus. Desde 2014 o SUS distribui a vacina gratuitamente para meninas entre 9 e 14 anos, e meninos entre 11 e 14. A vacina também pode ser tomada pela população com idade superior em clínicas particulares.

Em tempos de pandemia, a busca por vacinas e até mesmo consultas de rotina caíram bastante. “Quanto mais cedo a doença for detectada mais fácil será o processo, então é importante manter em dia a visita anual com seu ginecologista”, finaliza Fernando Prado, diretor técnico da Neo Vita e diretor do setor de embriologia do Labforlife.

Quais são os tipos da doença e como prevenir

Para se prevenir, é preciso saber mais sobre os diferentes tipos de tumores que podem atingir a região: os de colo de útero e os de corpo uterino.

O câncer de colo de útero, relacionado ao HPV, que é um vírus sexualmente transmitido, é mais frequente e é uma verdadeira tragédia social, pois significa falha no rastreio de lesões pré-malignas que podem ser diagnosticadas por meio do exame preventivo com o ginecologista. Mas quando falamos em termos de tumores malignos que atingem o corpo de útero, o câncer de endométrio é o mais comum, causado pelo excesso de estrogênio, hormônio feminino, e com fatores de risco como a obesidade”, esclarece a oncologista clínica Natália Nunes, do Grupo Oncoclínicas no Rio de Janeiro.

Em relação ao câncer de corpo uterino, no Brasil, estima-se 6.540 casos novos em mulheres. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer do corpo do útero ocupa a oitava posição mais frequente no país. Quanto à distribuição geográfica, na Região Sudeste, esse tipo de câncer ocupa a sexta posição entre os mais incidentes. Esse tipo de tumor ocorre mais comumente em mulheres acima de 60 anos, mas entre 2 a 5% deles podem ocorrer em mulheres com menos de 40 anos.

Câncer de colo de útero

A prevenção primária é a vacinação contra o HPV, disponível contra diferentes subtipos do vírus. Estima-se que a vacina proteja por aproximadamente nove anos, porém há estudos que indicam alta concentração de anticorpos por, no mínimo, 20 anos.

“Quando diagnosticado precocemente, é possível que haja uma redução de até 80% de mortalidade por este câncer. Considerando que o tumor de colo do útero é uma doença com sintomas silenciosos, muitas vezes as mulheres perdem a chance de descobrir a condição ainda na fase inicial. Sempre aconselho as mulheres a realizarem os exames como o Papanicolau periodicamente, para que aumentem as chances da doença ser diagnosticada precocemente”, explica a também oncologista Michelle Samora, especialista em tumores femininos, do Grupo Oncoclínicas.

Quanto aos sinais, aparecem por meio de sangramento vaginal, seguido de corrimento e dor na pelve. Quando a doença já se encontra em um estágio mais avançado, a mulher pode apresentar um quadro de anemia devido à perda de sangue, além de dores nas pernas, nas costas, problemas urinários ou intestinais e até perda de peso sem intenção. 

“Os sangramentos podem ocorrer durante a relação sexual, fora do período menstrual e em mulheres que já estão no período da menopausa”, diz Michelle. Quando detectado, os procedimentos para o tratamento do câncer são cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia.

Câncer de corpo uterino

O principal fator de risco de desenvolvimento dessa doença é o excesso de hormônio estrogênio, associado à obesidade – já que os tecidos gordurosos são responsáveis pela conversão de androstenediona e andrógenos em hormônio feminino estradiol –, à anovulação crônica – que ocorre em pacientes com síndrome do ovário policístico, por exemplo – , ao uso de terapias de reposição hormonal baseadas em estrógeno – como terapia e reposição hormonal na menopausa –, além de fatores genéticos.

Devido aos sintomas precoces de sangramento vaginal, tipicamente esses tumores apresentam diagnóstico em estágios iniciais, apresentando alta chance de cura quando assim diagnosticados. Além disso, nos últimos anos, entendimento moleculares sobre essa doença levaram a um melhor entendimento sobre seu prognóstico e possibilidade de discutir individualização de tratamentos”, ressalta a médica Natália Nunes.

Em mulheres mais idosas, o sintoma mais comum associado a essa doença é sangramento vaginal anormal. Nessas mulheres, esse diagnóstico deve ser pensado e excluído através de investigação ginecológica.

Com Assessorias e Agências

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