A depressão e outras doenças mentais são consideradas o mal do século, pra piorar o quadro ainda existem muitas pessoas que buscam medicamentos psiquiátricos para se automedicar, remédios como valium, diazepam e o famoso rivotril são exemplos dessa ação. Estudos recentes já revelaram que esses remédios para regular o sono, ansiedade podem ter efeitos piores que a própria cocaína, por exemplo. Podem matar mais que a droga ilícita e a heroína.
Estudos indicam que automedicação com remédios de tarja preta podem ser piores que as próprias drogas como a cocaína e a heroína. A pesquisa foi publicada no American Journal of Health. De acordo com estudo da IQVIA, empresa norte-americana de auditoria e pesquisa de mercado farmacêutico, entre julho de 2013 e junho de 2014, o número de vendas de antidepressivos e estabilizadores de humor era de quase 47 milhões de comprimidos, enquanto entre julho de 2017 e junho de 2018 a venda foi de quase 71 milhões.
No Brasil, a automedicação já é um um hábito que atinge 77% da população, por exemplo. Um estudo da Funcional Health Tech – empresa líder em inteligência de dados e serviços de gestão no setor de saúde – feito com base em 327 mil clientes da companhia, localizados em todo o país, demonstra que de 2014 a 2018 o consumo de antidepressivos cresceu 23%.
De acordo com o estudo, mulheres na faixa de 40 anos são as que mais utilizam antidepressivos. Ainda com base nos dados da Funcional Health Tech, foi criado um ranking de vendas de medicamentos, dividido por classes terapêuticas, que demonstra que a psiquiatria é a 10ª classe mais consumida no país. Dentro dessa classe, os medicamentos mais vendidos são antidepressivos e analépticos (drogas estimulantes do sistema nervoso central), depois sedativos e ansiolíticos (medicamentos usados no controle da ansiedade).
Pior: uma pesquisa feita em todo o país pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto Datafolha, apontou que entre pessoas que tomaram algum medicamento nos últimos seis meses, 47% fez isso sem prescrição médica pelo menos uma vez por mês, sendo que em um quarto destes casos, amigos, vizinhos e parentes foram os principais influenciadores na hora da decisão. Dentre os 77% que confessaram que se automedicam, 25% fazem isso todos os dias ou pelo menos uma vez por semana, 22% uma vez ao mês e 30% menos de uma vez a cada 30 dias.
Segundo o psiquiatra Elie Cheniaux, professor titular de psiquiatria da UERJ e membro licenciado da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro; no caso dos remédios psiquiátricos, o grande perigo é que, além de causarem dependência química ou psicológica, muitos consumidores fazem uso concomitante a outros remédios, sem orientação médica ou mesmo sem comunicar ao seu profissional de saúde. E a interação de antidepressivos com determinados medicamentos pode representar uma verdadeira bomba-relógio ao organismo.
Sobre interação medicamentosa
De acordo com Cheniaux, há dois tipos de interação medicamentosa: farmacocinética e farmacodinâmica. A farmacocinética é a influência de uma medicação sobre outra no que diz respeito ao “trajeto” do remédio no corpo, desde sua absorção e circulação no organismo até sua metabolização e excreção. A farmacodinâmica diz respeito à influência de uma medicação no funcionamento (sua ação farmacológica) de outro remédio.
A interação farmacocinética ocorre principalmente no fígado, responsável pela metabolização da maioria dos medicamentos. Há um sistema de enzimas (o sistema citocromo P450) que metaboliza as medicações. “Se um determinado remédio inibe o funcionamento de alguma enzima desse sistema, outro medicamento que seja metabolizado por esta mesma enzima sofrerá uma redução desta metabolização, resultando numa quantidade maior da medicação circulando no organismo, o que pode causar mais efeitos colaterais ou mesmo uma intoxicação medicamentosa”, explica o psiquiatra.
Inversamente, se um medicamento estimula o funcionamento de uma enzima, outra medicação, que reaja por esta mesma enzima, será metabolizada em quantidade maior, resultando na redução de sua quantidade no sangue, com redução do seu efeito terapêutico.
“Tomamos como exemplo os antifúngicos, usados para tratamento de micoses como pé de atleta, dermatofitoses, candidíase, infecções sistêmicas como meningite, entre outros. A terapia envolvendo os antifúngicos imidazólicos fluconazol ou cetoconazol, concomitantemente ao escitalopram, um antidepressivo inibidor seletivo de recaptação da serotonina (isrs), pode resultar no aumento dos efeitos colaterais deste”, exemplifica Cheniaux.
Isso acontece, segundo ele, porque o escitalopram é um substrato da cyp450, e tanto o fluconazol como o cetoconazol inibem esta enzima. Com a ingestão dos dois medicamentos, o paciente pode ter náusea, vômitos, constipação, diarreia, dor abdominal, redução da libido, insônia, sonolência diurna, aumento da sudorese, entre outros. No caso da interação do antidepressivo com o antifúngico imidazólico, é raro que haja necessidade de reduzir a dose do antidepressivo.
“Neste caso, o médico responsável pela prescrição do antidepressivo deve verificar a necessidade de ajustar a dose do medicamento e/ou monitorar periodicamente a eficácia e os efeitos colaterais dos antidepressivos, especialmente no início do tratamento. Daí a importância de deixar o médico a par de todas as medicações que estão sendo usadas pelo paciente”, alerta o psiquiatra.
Sobre o álcool e suas interações
O álcool é uma substância depressora do sistema nervoso central (SNC). Ele age estimulando o sistema GABAérgico (inibidor do SNC) e inibindo o sistema glutamatérgico (estimulador do SNC), além de agir em outros sistemas de neurotransmissão. O álcool é metabolizado no fígado pelas enzimas álcool-dehidrogenase e aldeído-dehidrogenase. Medicações que inibem a aldeído-dehidrogenase provocam aumento dos níveis de álcool no sangue (interação farmacocinética), por exemplo, algumas substâncias antifúngicas (metronidazol, cetoconazol).
Em relação aos psicofármacos como benzodiazepínicos, antidepressivos e antipsicóticos, a interação medicamentosa mais importante é a farmacodinâmica. Segundo Elie Cheniaux, esses medicamentos potencializam o efeito depressor do álcool, pois são, eles próprios, substâncias depressoras do sistema nervoso central. “Do ponto de vista da pessoa que ingeriu álcool e alguma dessas substâncias, a sensação é de ter bebido muito mais do que bebeu de fato; os efeitos de embriaguez são mais acentuados com doses pequenas de álcool”.
O que os medicamentos sob prescrição têm em comum?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em escala global, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4% nos últimos dez anos. São 322 milhões de indivíduos, ou 4,4% da população da Terra. Na América Latina, o Brasil é o país mais ansioso e estressado. Cerca de 5,8% dos brasileiros sofrem de depressão e 9,3% de ansiedade.
A saúde mental e a saúde física são duas vertentes fundamentais para o bom funcionamento do corpo humano”, diz Ricardo Ramos, médico e vice-presidente da Funcional Health Tech. “Ansiedade e depressão têm afetado a população do mundo todo e o cuidado especial com a ajuda de um médico especialista em saúde mental é muito importante”, ressalta.
Com Assessorias