A cidade do Rio de Janeiro entrou nesta segunda-feira (5) em situação de emergência devido ao aumento do número de internações por suspeita de dengue. O decreto assinado sexta-feira (2) pelo prefeito Eduardo Paes foi publicado na edição desta segunda do Diário Oficial do município. Dados divulgados na sexta-feira (2) apontam que a capital já registra mais de 10 mil casos este ano, quase a metade de todo o ano de 2023 (22.959). A taxa de incidência é de 160,68 por 100 mil habitantes.

Como parte do plano de contingência para enfrentamento da epidemia de dengue, declarada pelo prefeito na última sexta, o primeiro polo de atendimento para pacientes com suspeita de dengue a doença na cidade foi aberto nesta segunda-feira (5), no Centro Municipal de Saúde Raphael de Paula Souza, em Curicica, na Zona Oeste. Outros dois polos foram abertos pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), nos bairros de Campo Grande e Santa Cruz, também na Zona Oeste, região que concentra os maiores números de casos da doença.

São os primeiros de um total de 10 previstos, inicialmente, no plano de contingência da Prefeitura para o enfrentamento da epidemia. Nos polos, os pacientes poderão fazer testes rápidos de detecção da dengue e receberão um primeiro atendimento, que inclui a hidratação com soro. Caso haja necessidade, os pacientes serão encaminhados para internação em unidades hospitalares. A cidade entrou nesta segunda-feira em situação de emergência devido ao aumento de casos da doença.

Usuária do CMS Raphael de Paula Souza, Cirlane Sampaio, de 62 anos, trouxe a neta Karina, de 9, ao polo de atendimento na manhã desta segunda-feira (5/2). Com queixa de febre, dor de cabeça, falta de apetite e cansaço, a menina fez um hemograma e a prova do laço, que deu negativo.

“Por causa da epidemia, fiquei alerta. A gente precisava desse polo aqui em Curicica, porque tem muita gente com dengue. Aproveitei que tinha que buscar um remédio e trouxe minha neta. O atendimento foi excelente, sem burocracia. Você vem, faz o teste e é atendido, tudo muito rápido”, afirmou Cirlane.

Outros 7 polos serão inaugurados até o Carnaval

Ainda esta semana estão previstas as inaugurações de outros sete polos para dengue, nos bairros de Bangu, Madureira, Del Castilho, Tijuca, Gávea, Centro e Complexo do Alemão. Caso haja necessidade, em razão do aumento do número de casos, mais centros de atendimento poderão ser abertos.

Esta é uma das ações do plano de contingência para o enfrentamento da epidemia de dengue, anunciado na última sexta-feira (2), que prevê uma série de medidas para a assistência da população e o combate ao Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença e também de  outras arboviroses, como zika e chicungunya.

Entre as medidas anunciadas estão a criação do Centro de Operações de Emergência (COE-Dengue) e a oferta de leitos para pacientes com dengue nos hospitais da rede municipal. Além disso, estão previstos o uso de carros fumacê nas regiões com maiores incidências de casos e a entrada compulsória em imóveis fechados e abandonados.

Além dos polos, os 150 centros de hidratação montados no final do ano passado nas unidades de saúde para o atendimento de pacientes devido aos efeitos do calor também serão usados na assistência às pessoas com dengue.

O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, justificou a importância da medida ao lembrar que o Rio teve 11 mil casos de dengue em janeiro e chegou a 360 internações, trazendo um impacto importante na rede assistencial.

“Por isso, hoje a gente amplia nossa capacidade instalada visando atender todas as pessoas que tenham sintomas de dengue. A gente pede para qualquer pessoa que tenha dor no corpo, que tenha febre, que tenha dor de cabeça que procure uma unidade básica de saúde e também um dos nossos polos de atendimento”, disse ele.

Como funcionam os polos de atendimento de dengue no Rio

Os polos estão localizados em unidades de Atenção Primária ou hospitais, e funcionarão de segunda-feira a sábado, das 7h às 19h. Durante o carnaval, o funcionamento será ininterrupto, inclusive no domingo (11/02). Todos eles contam com consultório e sala de coleta e terão plantões diários com cerca de 12 profissionais, entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, além de pessoal de apoio operacional.

“Aqui, o paciente consegue fazer todo o tratamento. Ele chega, faz o hemograma e também a sorologia. Se precisar, faz a hidratação venosa e oral aqui mesmo. E se necessitar de internação, temos leitos dedicados para arboviroses e infectologia. O objetivo é reduzir o número de casos graves e de óbitos por dengue. Esse tratamento precoce faz toda a diferença”, destacou Daniel Soranz.

O polo de Curicica funciona no Hospital Municipal Raphael de Paula Souza (Estrada de Curicica, 2.000) e conta com 20 cadeiras de medicação. Em Campo Grande, foi instalado no CMS Belizário Penna (Rua Franklin, 29), com 28 poltronas e macas.  Já em Santa Cruz fica na Policlínica Lincoln de Freitas Filho (Rua Álvaro Alberto, 601), com 11 cadeiras e macas.

Os polos são preparados para o diagnóstico e tratamento das pessoas com dengue, com pontos para hidratação venosa ou oral, conforme necessidade de cada caso. Para os quadros mais graves, com indicação de internação, os pacientes serão regulados como emergências pela Central Municipal de Regulação e transferidos para leitos dedicados à dengue nos hospitais da rede de urgência e emergência do município.

O Hospital Municipal Ronaldo Gazolla (HMRG), em Acari, será unidade de concentração para a doença, inicialmente com 20 leitos. Durante a pandemia da covid-19, o HMRG foi referência para o tratamento dos pacientes com quadros mais graves, tem expertise e preparo para passar rapidamente pelas alterações de fluxo necessárias em uma situação de epidemia.

Ministra da Saúde alerta para risco da automedicação

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, esteve no Rio de Janeiro para inaugurar o primeiro dos dez polos de atendimento que serão abertos até o fim desta semana na cidade. “Há quase 40 anos nós temos convivido com epidemias de dengue. E sabemos as ações que são importantes, como o atendimento para hidratação, por exemplo”, disse.

Ela ressaltou a importância de procurar logo atendimento médico assim que surgirem os sintomas. “As pessoas não devem se automedicar. Os sintomas já são conhecidos: febre alta, dores nas articulações e atrás dos olhos, e manchas na pele. Devem procurar o atendimento na unidade de saúde para que os casos não se agravem”.

Nise voltou a chamar a atenção para a importância de a população colaborar na prevenção da doença, a partir da eliminação de focos do mosquito causador da dengue.

“Quero fazer um apelo à toda a população e, também, aos prefeitos e prefeitas, para que nós tenhamos uma ação efetiva de combate aos focos do mosquito. Sabemos que 75% dos focos do mosquito encontram-se nas nossas casas. Então, a população tem um papel fundamental neste momento na prevenção”, destacou a ministra.

Ela lembrou que, no último sábado (3), foi impantado o Centro de Operações de Emergência contra a dengue e outras arboviroses (COE-Dengue). “Também fizemos uma reunião com as entidades de prefeitos de todo o Brasil para estarmos juntos nessa luta. A nossa mensagem principal é o Brasil unido contra a dengue”, afirmou.

Três estados e DF decretam situação de emergência

Durante o ato de abertura do polo de atendimento a pacientes de dengue no Rio, Nísia Trindade reforçou que o Ministério da Saúde acompanha diariamente o cenário epidemiológico de todos os estados brasileiros, especialmente os que declararam emergência em razão da dengue.

A explosão de casos de dengue em diversas regiões do país fez com que pelo menos três estados – Acre, Minas Gerais e Goiás, além do Distrito Federal – decretassem situação de emergência em saúde pública.

O decreto do estado de Goiás foi publicado na última sexta-feira (2). Dados da Secretaria de Saúde indicam que, este ano, foram registrados 22.275 casos de dengue e duas mortes no estado – um aumento de 58% na comparação com o mesmo período de 2023.

Minas Gerais publicou decreto de emergência em saúde pública no último dia 27. Até o dia 29, foram registrados 64.724 casos prováveis e 23.389 casos confirmados da doença, além de um óbito confirmado e 35 em investigação.

Já o Distrito Federal publicou seu decreto no último dia 25. O boletim epidemiológico mais recente aponta 29.492 casos prováveis de dengue nas primeiras quatro semanas do ano, além de seis mortes pela doença.

O decreto do estado do Acre foi publicado logo no início do ano, no dia 5. Até meados de janeiro, o estado havia contabilizado 2.532 notificações de casos de dengue. A capital, Rio Branco, lidera o quantitativo de casos.

Vacinação deve começar nos próximos dias

O Ministério da Saúde definirá esta semana o calendário de vacinação contra a dengue, segundo informou a ministra Nísia Trindade, em visita ao Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (5). O governo já havia divulgado que a imunização, inicialmente de crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, começa neste mês nos municípios selecionados. 

“Hoje, nós vamos trabalhar com a faixa de 10 a 14 anos de idade naqueles municípios que apresentaram, nos últimos anos, o quadro mais intenso de dengue e também onde circula mais o sorotipo 2, que é aquele que está muito associado a essa explosão de casos que temos visto em algumas cidades e, muitas vezes, com agravamento”, disse a ministra.

Destacou, a seguir, que a vacina é um instrumento importante na luta contra a dengue, mas que ela não terá um efeito imediato. Por isso, ressaltou, a eliminação de água parada dentro das casas, que são focos de proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da dengue, é fundamental para a prevenção da doença.

“Neste momento, ela [a vacina] não oferece uma resposta para a situação atual porque ela é aplicada com o intervalo de três meses, já que é uma vacina de duas doses. Ela é muito importante, mas será uma estratégia progressiva para ter um impacto que a gente espera de controlar a dengue e, no futuro, não ter mais a dengue como um problema tão importante de saúde pública”, explicou.

Junto com a aplicação da vacina, o Ministério da Saúde fará pesquisas em alguns locais para acompanhar a efetividade da imunização.  “É uma vacina eficaz e segura. Mas ela terá que ter uma ampliação”, enfatizou.

Segundo ela, o Ministério da Saúde lidera o esforço nacional para vermos a capacidade de ampliação com a vacina atual, já aprovada, da Takeda, com a vacina candidata, do Instituto Butantan, que recentemente publicou seus excelentes resultados de pesquisas de fase 3. “Então, vai ser um esforço nacional”, afirmou a ministra.

Quantas às vacinas, a ministra da Saúde disse que nos próximos dias deve ser organizada a logística de distribuição para os municípios contemplados com as primeiras doses. “A vacinação será uma estratégia progressiva para que tenhamos o impacto que a gente espera ao controlar a dengue e, no futuro, não ter mais a doença como um problema tão importante de saúde pública”, disse.

Ela ainda acrescentou que o ministério coordena esforços para ampliar o acesso de toda população às vacinas, tanto as produzidas pelo laboratório japonês Takeda como a que está em desenvolvimento pelo Instituto Butantan. As duas instituições manifestaram interesse em atuar em conjunto para acelerar a produção do imunizante no país.

Em Brasília, FAB monta hospital de campanha

Força Aérea Brasileira montou hospital de campanha em Brasília, onde casos de dengue são elevados (Foto: Divulgação FAB)

Montado durante este final de semana pela Força Aérea Brasileira (FAB), o Hospital de Campanha começa a atender pacientes com sintomas de dengue nesta segunda-feira (5) no Distrito Federal (DF). O objetivo é desafogar as UPAS [Unidades de Pronto-Atendimento] da região.

Serão oferecidos 60 leitos para atender pacientes 24 horas por dia. A unidade conta ainda com duas salas para hidratação, uma de adultos e outra infantil, além de um laboratório para coleta e exames para o diagnóstico da doença.

O Hospital de Campanha foi montado na Ceilândia, região administrativa do DF que fica a 30 quilômetros da Esplanada dos Ministérios. O local é o mais populoso da unidade federativa e concentra o maior número de casos de dengue até agora registrados, representando 20% do total no país.

A população do DF tem sofrido com o aumento de 920% nos casos de dengue neste ano se comparado com o ano passado. Foram 29,5 mil casos de dengue confirmados na capital em 2024, sendo mais de 7 mil na Ceilândia. Seis pessoas já morreram em decorrência da doença no Distrito Federal.

Ao todo, 29 profissionais de saúde militares, entre médicos, enfermeiros e técnicos de laboratório, vão atuar na unidade que deve funcionar por 45 dias. A situação levou o governo do DF a decretar estado de emergência no dia 25 de janeiro, pedindo apoio do governo federal. Ao todo, 247 miliares foram treinados para reforçar o combate à doença com visitas domiciliares.

Com informações da Agência Brasil e SMS-Rio

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