Fortes cólicas, dificuldade para engravidar e uma série de problemas na hora do sexo. Estas são algumas das complicações na vida de quem sofre de endometriose. Mulheres com a doença têm mais que o dobro de disfunções sexuais, como desejo, excitação, dor na relação sexual e orgasmo/satisfação. É o que aponta estudo realizado por Flávia Fairbanks, que culminou em sua tese de doutorado pela Faculdade de Medicina da USP.
Foram avaliadas 583 mulheres entre 2013 e 2015, sendo que 254 pacientes com endometriose e 329 mulheres sem a doença. Na avaliação geral, 43,3% das pacientes com endometriose apresentaram disfunções sexuais, enquanto que na população sem a doença as disfunções ocorreram em 17,6%.
“É uma doença com impacto negativo em diversos aspectos da vida da mulher, inclusive na função sexual. Os principais sintomas da endometriose são representados por dor e infertilidade, relacionam-se diretamente com prejuízos na atividade sexual, mas aspectos específicos da função sexual dessas mulheres permanecem obscuros, o que motivou a realização deste estudo”, conta Flávia.
Entre 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva (13 a 45) podem desenvolvê-la e 30% tem chances de ficarem estéreis. Os dados são alarmantes: 7 milhões de brasileiras podem ter a doença e não sabem. Muitas têm os sintomas e não sabem porque não procuram atendimento ou porque o diagnóstico não é preciso. É o caso de Mônica Marinho, que depois de muitos anos de sofrimento, descobriu que tem a doença, mas não consegue uma cirurgia pela rede pública de saúde (veja o depoimento dela aqui).
Por falta de conhecimento, em média, uma paciente leva cerca de sete anos para descobrir que tem endometriose e, muitas vezes, já está em um grau avançado e comprometendo outros órgãos. A endometriose pode começar ainda na adolescência e é responsável por 40% dos casos de infertilidade no país. Além de alterar a rotinas diárias (também por forte dor no período menstrual. As fortes cólicas e a dificuldade para engravidar são alguns dos principais sintomas da patologia.
Para entender a endometriose
Apesar de muito conhecida, a endometriose ainda é um mistério para muitas mulheres. Mas o que é esta doença que pode levar à infertilidade? A endometriose caracteriza-se pelo implante, crescimento e desenvolvimento de glândula/tecido endometriais fora do útero. Trata-se de uma doença ginecológica benigna que ocorre pelo refluxo de menstruação pelas trompas, acumulando células parecidas com o endométrio (e que, portanto, também “menstruam”), fora da cavidade uterina.
E essa formação de tecido sobressalente, normalmente, aparece nos ovários, intestino, no reto, na bexiga e na membrana que reveste a pélvis, embora possa aparecer em outros órgãos. De acordo com a Associação Brasileira de Endometriose, estima-se que 10% da população feminina apresentam essa doença e, quando são estudadas populações específicas de mulheres com dor pélvica ou infertilidade, a prevalência pode atingir até 47% dos casos.
As principais causas são o refluxo menstrual, associado a causas genéticas (o risco é maior entre parentes de primeiro grau), ambientais (exposição a ambientes poluídos com resíduos de monóxido de carbono como as dioxinas) e imunológicas (o organismo não reconhece, adequadamente, esse tecido fora de lugar e não faz uma faxina adequada todos os meses, que serviria para remover esse tecido e evitar a doença).
O tratamento mais adequado
Diogo Rosa, um dos coordenadores do centro de ginecologista do Grupo Perinatal, aponta que a escolha do tipo de tratamento a ser utilizado depende de vários fatores, mas pode ser feito clinicamente, à base de hormônios, ou com intervenção cirúrgica, em casos específicos, para a retirada de focos da doença. “Existem diversas opções para o controle clínico hormonal. Pode-se utilizar progesterona isoladamente ou terapia hormonal combinada, como os contraceptivos orais. Usam-se também medicações hormonais injetáveis e, em casos específicos, um dispositivo intrauterino (DIU) à base de progesterona”, explica.
De acordo com Alexandre Stadnick, também coordenador do centro de ginecologia da Perinatal, o uso de métodos contraceptivos como pílula e DIU influencia também no tratamento da patologia. Principalmente no controle da dor, que é o sintoma mais comum da doença. “O ideal é que logo nos primeiros sinais de cólicas muito fortes, a jovem procure um médico. Isso pode ser o sinal de endometriose”, contou Stadnick.
No dia 8 de maio, Dia Nacional da Luta contra a Endometriose, os médicos ressaltam também, que a cirurgia é uma das opções de tratamento, mas que não deve ser generalizada. Os casos devem ser avaliados individualmente. A escolha deve levar em conta o objetivo principal da paciente, que pode ser melhora da dor, tratamento de infertilidade ou evitar progressão da doença para órgãos próximos, como intestino e vias urinárias.
Saiba mais sobre a doença
A endometriose é uma doença inflamatória que ocorre quando o tecido que reveste o útero (conhecido como endométrio), se expande fora dele, chegando a lugares onde não deveria crescer, como nos ovários e na cavidade abdominal. Esse distúrbio pode surgir a partir da primeira menstruação, e por isso, recomenda-se também atenção às adolescentes. De acordo com a ginecologista e obstetra Maria Cecília Erthal, ainda não se conhece exatamente o que causa a endometriose, mas já se sabe que fatores imunológicos, genéticos e hormonais estão associados ao surgimento da doença.
“Quase metade das mulheres diagnosticadas levam cerca de cinco anos reclamando de dores e desconfortos até chegar ao diagnóstico definitivo. Os sintomas mais comuns são dores pélvicas, menstruações dolorosas, fluxo intenso e alterações no hábito intestinal (diarreia ou obstipação) e urinário”, explica ela que é diretora da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana Assistida e diretora-médica do Vida – Centro de Fertilidade.
Com o diagnóstico precoce, elas têm opções de tratamento que minimizam os impactos no bem-estar diário e possibilitam a programação de uma gravidez com tranquilidade. “Em caso de diagnóstico tardio, as trompas, que são responsáveis por conduzir o óvulo ao útero, podem ser comprometidas e os hormônios e o sistema imunológico alterados, dificultando uma gravidez”, afirma o ginecologista e obstetra Paulo Gallo de Sá, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e também diretor-médico do Vida – Centro de Fertilidade.
Quando procurar ajuda
Mulheres que estão tentando engravidar há mais de um ano sem sucesso, e que tenham sintomas como os descritos, podem ter endometriose. Por esse motivo, devem procurar um especialista o mais rápido possível, para pesquisar a causa da infertilidade. Exames como ultrassom, ressonância ou ecocolonoscopia ajudam a comprovar o diagnóstico. O tratamento da endometriose pode ser cirúrgico (vídeo-laparoscopia) ou por meio de medicações. Entre as opções mais utilizadas está o uso de pílulas contraceptivas orais que reduzem a cólica menstrual e a dor pélvica.
A Endometriose pode ocorrer entre a adolescência e a menopausa, em qualquer idade, mas a faixa dos 30-40 anos é a mais comum. O diagnóstico se baseia em ouvir as queixas da paciente (cólicas menstruais muito severas, dor nas relações sexuais, dores na barriga durante o mês, dificuldade para engravidar, alterações do intestino durante a menstruação e também da urina). Também pode ser feito por exames complementares especializados (ultrassom pélvico e transvaginal com preparo intestinal ou ressonância magnética da pelve) e também por videolaparoscopia – uma cirurgia que pode ajudar a tratar o problema.
Mesmo com os tratamentos acredita-se que a prevenção verdadeira não exista. Há muitos fatores envolvidos, porém, existem medidas que evitam que a menstruação seja muito abundante, como o uso de anticoncepcionais que reduzem o fluxo menstrual, o que é benéfico.
Os tratamentos são à base de medicamentos gerais, para alívio dos sintomas (analgésicos e anti-inflamatórios, associados a hormônios, para reduzir a menstruação e agir nos focos da doença, anticoncepcionais ou progesteronas específicas e, por vezes, cirurgia para restaurar a pelve.). Há, também, a possibilidade de tratamentos complementares, simultaneamente, com excelentes resultados: acupuntura para as dores, fisioterapia do assoalho pélvico e, recentemente, um estudo mostrou que a homeopatia também pode ter algum benefício.
Da Redação, com assessorias