Uma ação que vem chamando a atenção nas redes sociais em meio à onda de solidariedade ao Rio Grande do Sul é a liderada pelo comunicador e empresário Felipe Neto, que visava levantar R$ 4,8 milhões para a compra de 220 purificadores de água para atender à população que enfrenta dificuldades de acesso à água potável em cidades gaúchas. A meta foi batida em 24 horas. Segundo o influenciador, os purificadores serão entregues nesta quarta-feira (7), pela Força Aérea Brasileira (FAB).

“A Defesa Civil já está aguardando para instalar em 220 regiões diferentes do estado, gerando milhões de litros de água potável com a própria água da enchente”, disse ele. Ele ainda disse que todo o dinheiro excedente doado pelo PIX felipenetoajuda@gmail.com, no Itaú/Unibanco, será usado para ajudar o estado. “Vou atualizando vocês de cada centavo”, prometeu o influenciador.

No vídeo da campanha, lançado na segunda-feira (6), Felipe Neto dizia que todos os pouco mais de 200 equipamentos da empresa PWTech disponíveis no Brasil deveriam ser adquiridos e levados pela Força Aérea Brasileira (FAB), após solicitação da primeira dama Janja da Silva.

“Nesse momento existe uma quantidade enorme de pessoas passando sede e essas pessoas estão em áreas de dificílimo acesso. Ao mesmo tempo que estamos mobilizando para levar água para onde é possível acessar, encontramos solução para levar água potável para pessoas em áreas que não dar para chegar, somente por meio de via aérea”, disse o influencer.

Felipe Neto contou que conversou com Janja, que conseguiu que a FAB fique responsável por pegar os filtros e levar para as áreas do Rio Grande do Sul que ainda não podem ser acessadas via estrada. O comunicador enfatizou que era preciso comprar todos os purificadores disponíveis no país, em tempo recorde e de uma só vez, pois não seria possível mandar a FAB duas vezes para a região.

Purificadores custavam 30% menos há pouco mais de 1 mês

A ação é inquestionavelmente louvável. O purificador da marca escolhida promete “transformar água contaminada em água potável, com capacidade para até 10 mil litros por dia”. Uma solução emergencial para quem tem pressa em meio à possibilidade de novas chuvas até meados de maio, que podem gerar ainda mais problemas à região.

No entanto, o valor de cada equipamento chamou a atenção do Portal ViDA & Ação, já que no dia 20 de março, menos de 40 dias antes da tragédia no Rio Grande do Sul, a assessoria da empresa informava que “o purificador custa entre R$ 16.000,00 e R$ 18.500,00, dependendo do modelo”.

Decidimos, então, procurar a empresa para saber por que a diferença de preço neste momento de tragédia. Questionado se a tecnologia seria diferente, o empresário Francisco Marcos Silva, presidente da empresa, explicou, por meio de sua assessoria, que “os 220 purificadores de água em estoque e disponíveis para envio ao Rio Grande do Sul são os modelos PW5660 e PW5660 Plus”, sem detalhar as diferenças entre eles.

Em relação ao preço maior, explicou que “além do equipamento (no valor de R$ 18 mil), estão sendo enviados kits de manutenção e um filtro de linha, visando garantir uma maior durabilidade do equipamento”. Questionado se a empresa pretende dar um desconto nesse valor, a PWTech informou que “está disponibilizando 100% do seu estoque e praticando o mesmo nível de preço para os modelos PW5660 e PW5660 Plus”.

A empresa descartou qualquer previsão de doação de equipamentos, informando apenas que “doou R$ 33 mil à ação coordenada pela União BR que levou 16 purificadores para o Sul”. Ainda segundo a empresa, o equipamento “produz água limpa ao custo de médio de R$ 7 por metro cúbico, abaixo do valor da água da torneira ou de água de caminhão-pipa”.

“Batizado de PW5660, o purificador consiste em uma caixa com menos de 1 metro de largura e 43 cm de altura, e aproximadamente 18 quilos. O equipamento é capaz de purificar de 5.600 litros a 10.000 litros de água doce (da chuva, rios ou açudes) por dia, reduzindo em até 99,5% a presença de partículas e eliminando 100% os vírus e as bactérias”, diz a PWTech em seu texto de divulgação.

Purificadores usados no Haiti e Gaza e em aldeias yanomamis

Falta de água na Faixa de Gaza (Foto: Divulgação)

A empresa explica ainda que seu modelo de purificador é usado pela ONU em projetos envolvendo crises humanitárias. “A tecnologia já promoveu o acesso à água potável em regiões de conflito e sob o efeito de emergências climáticas como Ucrânia, Faixa de Gaza, Síria, Haiti, Paquistão e, mais recentemente, Etiópia”, garante, informando que vende seus produtos em 20 países.

A PWTech diz que foi classificada como ‘Empresa Estratégica de Defesa e Produto Estratégico de Defesa’ pelo governo brasileiro e que tem seus equipamentos destinados a áreas remotas e sem infraestrutura de saneamento básico. “Os purificadores estão em comunidades, escolas, unidades básicas de saúde e canteiros de obras em estados como Amazonas, Pará, Minas Gerais, São Paulo, entre outros”, informa.

Aldeias yanomami recebem purificadores de água (Foto: Divulgação)

“A versatilidade e o baixo custo do purificador da PWTech são um dos principais atributos do equipamento, além da diversidade de fontes de energia em que opera –funcionando tanto na rede elétrica como em geradores ou placas de energia solar, e até com inversores veiculares. Levamos nosso equipamento onde haja necessidade de água limpa em pequena e média escala. Nosso objetivo é oferecer uma solução inovadora para garantir um direito básico, que é o acesso à água potável”, explica o engenheiro químico Fernando Marcos Silva, presidente da empresa.

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O ‘negócio’ água potável: lucro em meio a tragédias humanitárias

Água potável, aliás, é um negócio e tanto. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o acesso à água potável é um desafio para quase 2 bilhões de pessoas. Só no Brasil, 32 milhões vivem sem água tratada, segundo dados do Ranking do Saneamento 2024, divulgados no Dia Mundial da Água (20 de março), pelo Instituto Trata Brasil.

Ainda segundo o estudo, 90 milhões não estão conectadas à rede de esgoto, com reflexos à saúde da população. A falta de água potável traz impactos diretos na erradicação da pobreza, na saúde e na educação de qualidade – objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).

Tragédia no Haiti: equipamentos para transformar água contaminada em água potável (Fotos: Divulgação)

“Fundada em 2019, a PWTech surgiu justamente com o propósito de promover a universalização do acesso a água potável e, para isso, desenvolveu um purificador de água portátil, de baixo custo e fácil instalação e manutenção”, informa a empresa, que se apresenta como uma “start-up” social. Segundo a cofundadora e diretora de operações, Maria Helena Azevedo, a estratégia para este ano é ampliar os setores atendidos.

“Atualmente, o nosso purificador é usado na construção civil, na siderurgia e no agronegócio. Em um canteiro de obras, por exemplo, o purificador garante melhores condições de saúde dos trabalhadores e reduz baixas. Queremos ampliar a área de benefício”, explica a executiva.

Pelo visto, com a venda de todo o seu estoque no Brasil em tempo recorde a preços inflacionados para o Rio Grande do Sul e um garoto-propaganda que só no Instagram influencia 17,3 milhões de seguidores, as metas da empresa facilmente serão atingidas. Uma estratégia de marketing (social), no mínimo, lucrativa!

Direitos Humanos e Coca-Cola enviam água

Quem também embarcou na onda do marketing social tendo a água como principal atributo é a gigante Coca-Cola. O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) anunciou a assinatura, nesta terça-feira (7), de um aditivo a um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) que irá formalizar o oferecimento de água potável para as vítimas das enchentes, “com o intuito de minimizar os impactos avassaladores que assolam o Rio Grande do Sul (RS) e ajudar os mais afetados”.

A parceria contará com o apoio da Força Aérea Brasileira, da Defesa Civil do Estado do RS, junto à ONG Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, organização não-governamental fundada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Não foram dados detalhes sobre o volume de água que deverá ser doado, nem o prazo para entrega e locais de distribuição.

Segundo Rita Oliveira, secretária-executiva do MDHC, a distribuição da água potável será feita de acordo com as prioridades determinadas pela Defesa Civil, em especial para os locais de mais difícil acesso. O objetivo, segundo ela, é garantir a logística de entrega de tudo o que tem sido doado.

“O acordo tem o intuito de garantir esforços conjuntos no direcionamento dos auxílios aos públicos mais vulneráveis e prioritários dentro do escopo de atuação do MDHC, a exemplo de crianças e adolescentes, pessoas idosas, em situação de rua, com deficiência, entre outros”, informou a pasta.

Com Assessorias

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