Hanseníase, dengue, leishmaniose, esquistossomose, raiva humana transmitida por cães, escabiose (sarna), doença de Chagas, parasitoses intestinais. Essas são algumas das mais de 20 patologias conhecidas como doenças infecciosas negligenciadas que põem em risco mais de 1,7 bilhão de pessoas, em todo o planeta, sendo mais de 200 milhões de pessoas nas Américas.
Conhecidas em inglês como NTDs, são um grupo diversificado de doenças transmissíveis que prevalecem em condições tropicais e subtropicais em 149 países. Além de matar milhões de seres humanos, essas enfermidades custam bilhões de dólares às economias em desenvolvimento a cada ano. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as NTDs são mais prevalentes nas regiões mais pobres do mundo, onde a segurança da água, o saneamento e o acesso aos cuidados de saúde são precários.
Neste primeiro Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas (30 de janeiro), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) pede aos governos que prestem atenção integral e universal aos milhões de pessoas afetadas por essas enfermidades relacionadas à pobreza nas Américas. A data foi instituída em 2020 pela Assembleia Mundial da Saúde e tem como tema “Alcançar a equidade em saúde para acabar com a negligência com as doenças relacionadas à pobreza”.
A Opas/OMS lançou uma nova iniciativa para eliminar cerca de 30 doenças infecciosas e condições relacionadas até 2030. Mas a pandemia de Covid-19 interrompeu intervenções e programas de eliminação dessas doenças nas Américas, como campanhas de administração de medicamentos em massa, pesquisas e rastreamento ativo de casos.
A maioria foi cancelada em 2020 e retomada gradualmente em 2021. A OPAS alerta que essas interrupções podem atrasar a eliminação ou o controle de algumas dessas enfermidades, além dos prazos propostos pré-pandemia.
Essas enfermidades incluem equinococose, fasciolíase, filariose linfática, micetoma, cromoblastomicose e outras micoses profundas, oncocercose (“cegueira dos rios”), helmintíases transmitidas pelo solo, envenenamento por picada de cobra, teníase/cisticercose, tracoma e bouba e outros ectoparasitos também estão na lista.
“Prevenir e tratar essas doenças tem custo-benefício. As estratégias para combatê-las incluem aproximar a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das comunidades vulneráveis, além de melhorar suas condições de vida, como acesso à educação, água potável, saneamento básico e moradia”, disse Marcos Espinal, diretor de Doenças Transmissíveis e Determinantes Ambientais da Saúde da OPAS.
Resultados já alcançados no combate às doenças negligenciadas
A OPAS vem apoiando os países para fortalecer a implementação, monitoramento e avaliação de programas para controlar e eliminar as doenças tropicais negligenciadas por meio de cooperação técnica, desenvolvimento de diretrizes e capacitação, bem como por meio da doação de medicamentos e outras ferramentas médicas, como testes diagnósticos. Com o apoio da OPAS, OMS e outros parceiros, a região alcançou vários marcos no combate às doenças tropicais negligenciadas.
Em 2013, a Colômbia se tornou o primeiro país do mundo a eliminar a oncocercose, uma doença parasitária que pode levar à cegueira. Equador, Guatemala e México seguiram o mesmo caminho e, atualmente, há apenas um foco remanescente de oncocercose em nível regional na fronteira entre Brasil e Venezuela.
Costa Rica, Suriname e Trinidad e Tobago já puseram fim à filariose linfática, conhecida como elefantíase por causa do espessamento característico dos membros. Brasil, Guiana, Haiti e República Dominicana caminham para a eliminação da doença.
O México pôs fim à raiva humana transmitida por cães e ao tracoma como problema de saúde pública. A Guatemala está prestes a eliminar o tracoma e vários países do Caribe devem ver a eliminação da esquistossomose, uma infecção causada por vermes parasitas, nos próximos anos.
Atualmente, na América Latina e no Caribe, 59 milhões de crianças vivem em áreas de risco de infecção ou reinfecção por geo-helmintos, ou parasitas intestinais, e aproximadamente 5,7 milhões de pessoas estão infectadas com a doença de Chagas, com cerca de 70 milhões em risco de contraí-la.
Além disso, cerca de 68 mil novos casos de leishmaniose visceral foram notificados entre 2001 e 2020 em 13 países das Américas, e mais de 39,7 mil casos de leishmaniose cutânea e mucosa foram registrados em 2020 na América Latina e no Caribe.
A leishmaniose visceral é causada por um parasita e é fatal em mais de 95% dos casos; a leishmaniose cutânea causa ulceração e resulta na destruição parcial ou completa das mucosas do nariz, boca e garganta.
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