A maioria das pessoas sabe que fumar é altamente prejudicial para a saúde, afinal, o tabagismo está relacionado a mais de 50 doenças, como infecções respiratórias, câncer, desordens cardiovasculares, problemas crônicos, infertilidade, impotência sexual, úlceras do aparelho digestivo, entre outras. No entanto, muitos ainda não percebem os danos para a boca, gengiva e dentes.

Além de poder predispor doenças bucais como periodontite e halitose, e ainda induzir as pigmentações nos dentes e mucosa, o tabagismo é o principal fator de risco para o câncer de boca e ainda ao câncer de laringe.

Dados do Centro de Oncologia Bucal (COB), uma unidade auxiliar vinculada à Faculdade de Odontologia de Araçatuba (FOA/Unesp) especializada no diagnóstico e tratamento do câncer de boca, mostram que mais de 80% dos pacientes diagnosticados com câncer de boca apresentam histórico de tabagismo.

Destes, cerca de 75% consomem cigarros em conjunto com o álcool e mais de 20% são apenas tabagistas. Os registros também mostram que a maioria dos pacientes que desenvolveram câncer de boca tratados no COB fumou mais de 35 anos ao longo da vida e consumia, em média, 20 cigarros por dia. Isso denota uma relação direta do desenvolvimento dos tumores de boca na população de tabagistas com o tempo e intensidade do consumo de cigarros.

Pacientes de câncer de boca começaram a fumar com 12 anos

Um outro dado que chama atenção nos registros do Centro Oncológico da FOA/Unesp é que os pacientes diagnosticados com câncer de boca começam a fumar com uma idade média de 12 anos. O dado indica uma necessidade de atenção para esta faixa de idade, como afirma o professor de Estomatologia da FOA/Unesp  supervisor do COB e membro da Comissão Temática de Políticas Públicas do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp), Daniel Galera Bernabé.

“Os pacientes que desenvolvem câncer de boca associado ao consumo de tabaco começam a fumar muito cedo, o que denota a necessidade de estabelecermos estratégias de prevenção para o tabagismo desde a infância e adolescência”.

Além de ser o principal fator de risco para o câncer de boca, o tabagismo tem sido associado a um pior prognóstico da doença. Muitos pacientes com câncer de boca continuam fumando mesmo após o tratamento oncológico, o que aumenta as chances de segundo tumor primário e tem impacto negativo no tempo de sobrevida.

De acordo com o Dr. Daniel Bernabé, o aconselhamento e tratamento do tabagismo deve ser oferecido para todos os fumantes e deve fazer parte do suporte oncológico multidisciplinar para pacientes com câncer de boca.

O risco dos cigarros eletrônicos ou vapes

Daniel Bernabé destaca o crescente consumo, principalmente por jovens, de formas alternativas de nicotina, como o narguilé e os denominados sistemas eletrônicos de entrega de nicotina, tais como os cigarros eletrônicos ou vapes.

Embora os efeitos a longo prazo do uso dos sistemas eletrônicos de entrega de nicotina sobre a ocorrência de câncer de boca sejam ainda desconhecidos, evidências recentes mostram que o uso destes dispositivos pode promover alterações genotóxicas (capacidade de alguns agentes químicos de danificar a informação genética no interior de uma célula, causando mutações) no caso, das células da mucosa bucal.

Além disso, segundo a pós-graduada em dependência química pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), referência técnica de tabagismo na SES-SP e presidente da Comissão Temática de Políticas Públicas do Crosp, Sandra Silva Marques, o consumo de cigarros eletrônicos pode causar irritação na boca e garganta, náuseas, tosse e mal-estar.

“Os cigarros eletrônicos produzem substâncias químicas como o acetaldeído e formaldeído (formol), cuja inalação pode estar relacionada às doenças pulmonares e cardiovasculares. De maneira similar ao que acontece em relação aos cigarros de papel e de palha, é responsabilidade do Cirurgião-Dentista orientar os pacientes e público em geral sobre as consequências danosas do cigarro eletrônico”, complementa a Dra. Sandra.

Tabagismo e os reflexos no hálito do fumante

Uma grande parte da população acredita que são necessários muitos anos para problemas relacionados ao uso de produtos à base de tabaco aparecerem, mas, na verdade, podem ser vistos logo que o uso se inicia.

Uma das doenças provocadas pelo tabaco é a halitose, o mau hálito, e junto vem o possível aspecto desagradável dos dentes, como manchas ou dentes amarelados. Cláudia Gobor, especialista pelo MEC no tratamento de Halitose, ressalta que seja o cigarro eletrônico ou o físico, ambos fazem mal à boca.

“É importante observar que ambos causam um aquecimento na cavidade oral, ocasionando então uma descamação de mucosa e gengivas. Isso leva ao aparecimento da alteração de hálito.”

A doutora também salienta que, mesmo com o hábito de fumar, a limpeza da boca ainda é essencial. “O fumo indiretamente reduz a quantidade de saliva produzida, além de deixá-la mais viscosa. Isso, além de causar desconforto, diminui a autolimpeza da boca, favorecendo o acúmulo de bactérias na região. Por isso, é primordial fazer a higiene bucal correta, como passar fio dental, escovar os dentes e higienizar também a língua”, diz a doutora.

Leucoplasia, Edema de Reinke e Câncer de Laringe

Há uma grande quantidade de doenças relacionadas ao hábito de fumar que afetam estruturas da boca, garganta e nariz. Além do câncer de boca, o consumo de tabaco predispõe ao desenvolvimento de algumas lesões cancerizáveis como a eritroleucoplasia, leucoplasia e a eritroplasia.

O otorrinolaringologista Rui Imamura, do Voice Center – Centro Especializado em Laringe e Voz do Hospital Paulista, elege três doenças que os fumantes devem ter atenção especial no que se refere à prevenção: Leucoplasia, Edema de Reinke e, principalmente, o Câncer de Laringe, três doenças intimamente associadas ao tabagismo.

“A redução desse hábito tem grande impacto na redução da incidência. Muitas delas podem ser identificadas com rapidez e tratadas com maior efetividade, se estivermos a par dos principais sintomas e, sobretudo, conscientes quanto a necessidade de investigar suas causas”, afirma.

Para ele, a melhor forma de evitá-las é justamente parando de fumar. Mas, a quem insiste, ele recomenda atenção redobrada com a voz, sobretudo. Alterações podem servir de alerta.

“A rouquidão é o sintoma mais clássico. Em pacientes que fumam, quando o problema persiste por mais de duas semanas, é importante investigar”, observa o médico, lembrando que a principal preocupação sempre é com o câncer de laringe – a mais grave das anomalias entre as destacadas aqui.

“Nesse caso, a rouquidão é um sintoma inicial, que geralmente vem acompanhado de tosse persistente, dor durante a deglutição e fala, dificuldade para engolir, entre outros. É sem dúvida a enfermidade mais grave relacionada ao tabagismo, tratada pela Otorrinolaringologia”.

7 mil pacientes são diagnosticados por ano com câncer de laringe

Ele destaca que o Brasil é um dos principais países em casos de câncer de laringe. Em média, cerca de 7 mil pacientes são diagnosticados com a doença a cada ano. Ainda assim, a Leucoplasia e o Edema de Reinke não deixam de ser uma preocupação menor. A Leucoplasia, aliás, pode evoluir para um quadro de câncer de laringe, caso não tratada. Ela se notabiliza principalmente por lesões na laringe, além de rouquidão ou alterações na voz.

“É uma lesão que se assemelha a uma mancha branca, que pode ser pré-maligna ou já ter células cancerígenas em sua base, e surge nas diversas mucosas da via aérea e, também, na corda vocal e laringe. Para uma célula se tornar cancerígena ela vai sofrendo algumas transformações e uma dessas manifestações é a superfície branca detectada pela laringoscopia”, explica o Dr. Imamura.

O Edema de Reinke, por sua vez, se manifesta por rouquidão com agravamento do tom vocal. Quando ocorre em mulheres, é frequente a queixa de masculinização da voz. Ocorre em pacientes que fazem uso intensivo da voz e, principalmente, tabagismo por muitos anos. O tratamento pode ser clínico nos casos de inchaço leve, afastando os fatores irritativos, principalmente o tabagismo; e cirúrgico nos casos moderados e graves.

Videolaringoscopia favorece cura

Em todos esses casos, o Dr. Imamura destaca o exame de videolaringoscopia é o mais recomendável para identificação precoce da causa dos sintomas e favorece muito a chance de tratamento eficaz e cura, mesmo nos casos de câncer.

“A videolaringoscopia permite a identificação de alterações presentes na cavidade oral, orofaringe e laringe por meio de um endoscópio, acoplado a um sistema de vídeo. Este instrumento capta, amplifica e registra as imagens. O som da voz e a imagem são gravados e servem para diagnosticar as eventuais anomalias presentes”, esclarece o especialista.

O procedimento é rápido (demora em torno de 2 a 4 minutos), não requer jejum, além de ser de baixo custo.

“Nos casos de leucoplasia, câncer e mesmo de papiloma, os vasos associados à lesão também se modificam, o que pode ser melhor visto quando a laringoscopia é feita com equipamento especial (cromoscopia ou narrow band imaging – NBI). Este equipamento permite aumentar a acurácia diagnóstica destas lesões”, enfatiza o médico.

Danos à saúde bucal e à auto estima

“O hábito de fumar é altamente nocivo para a saúde bucal. Fumantes têm chances elevadas de desenvolver câncer na cavidade oral e doenças periodontais. O fumo também pode tornar a cicatrização de procedimentos dentários mais lenta e, além disso, o alcatrão do cigarro mancha os dentes e causa mau hálito”, afirma Bruna Ghiraldini, doutora em Implantodontia e coordenadora de P&D da S.I.N Implant System.

Bruna Ghiraldini detalha alguns dos problemas decorrentes do fumo para a saúde bucal. Veja a seguir:

    1. Autoestima prejudicada: “O fumo altera a pigmentação dos dentes que, com o passar do tempo, adquirem uma coloração amarelada que pode progressivamente evoluir para tons de cinza, marrom e preto”, alerta a Dra. Bruna. “Além disso, o hálito do paciente também fica comprometido, com um odor forte e desagradável”. Obviamente, isso impacta negativamente na vida social e profissional do paciente.
    2. Risco elevado para o câncer bucal: este tipo de câncer pode acometer região das bochechas, língua, céu da boca e lábios. Os sintomas mais frequentes são os inchaços e caroços na região. “O vício em cigarros, cachimbos e charutos é, inclusive, a principal causa do surgimento deste tipo de câncer”, alerta a especialista. “Fumar também aumenta a ocorrência de leucoplasia oral, lesões brancas pré-cancerosas na boca que podem evoluir para câncer bucal”.
    3. Maior propensão à perda dentária. Os fumantes têm maior chance de desenvolver doenças gengivais do que os não fumantes, e esse risco aumenta com o número de cigarros fumados e a quantidade de tempo fumando. E a doença periodontal é a razão número um da perda de dentes em adultos. Inicialmente, ocorre a gengivite, infecção que se desenvolve quando as bactérias ficam sob as gengivas e a placa e o tártaro se acumulam, resultando em gengivas inchadas, doloridas e vermelhas. Se não for tratada precocemente, a doença progride e se torna periodontite. Nesta fase, as gengivas começam a se afastar dos dentes, formando abscessos e ocorrem danos aos ossos e tecidos, levando à perda dentária
    4. Fumar irrita os ductos das glândulas salivares. E, por isso, os fumantes têm maior chance de desenvolver estomatite nicotínica, que ocorre quando o interior da boca é exposto a um calor extremo que deixa o palato branco e com aparência de “rachado”. Saliências vermelhas também podem estar presentes, decorrentes dos ductos inflamados.
    5. Diminuição do olfato e paladar. A fumaça do tabaco causa um processo inflamatório permanente nos receptores de paladar e olfato. “A boa notícia é que com a cessação do hábito, a tendência é que estes sentidos voltem à normalidade em pouco tempo”, diz a especialista.

Com Assessorias

 

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