Um relatório do banco BTG Pactual sobre o legado da quarentena para o consumo mostra que o tópico “skincare” contou com um aumento de 66% no número de buscas entre fevereiro e abril, com destaque para a busca “como fazer skincare?”. Esse é realmente um bom começo para o autocuidado e bem-estar. Só que algumas pessoas estão indo além: influenciadas ou gastando mais tempo nas redes sociais, elas podem estar desenvolvendo um problema de imagem conhecido como Dismorfia Instagram.

O grande alvo desse distúrbio são os adolescentes e jovens. Entre eles, as queixas mais frequentes são o formato do nariz, orelhas de abano e o tamanho dos seios, no caso das meninas.

“A adolescência é uma fase na qual a autoestima ainda depende muito de uma boa aparência, logo, aparecer bem nas selfies torna-se quase que uma obrigação. Isso leva o jovem a procurar formas de se sentir melhor e a cirurgia é uma delas”, explica o cirurgião plástico Mário Farinazzo, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e chefe do Setor de Rinologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Segundo o Dr. Mário, desde o advento da Internet, o mundo mudou rapidamente para as plataformas de mídia social da comunicação cara a cara em busca de influenciadores. “Os millennials e a geração Z (nascidos entre 1995 e 2015) são incentivados a seguir certos padrões de beleza em várias plataformas de mídia social como Instagram, Facebook e Twitter, bem como em vários sites de namoro.

Há também o desejo de receber ‘likes’ e obter mais ‘seguidores’ nas mídias sociais, especialmente na população adolescente, que pensa nisso como sua posição social. No total, esses fatores motivaram muitos jovens a se submeterem à cirurgia plástica.

Vários homens e mulheres solteiros ainda estão passando por uma cirurgia de aprimoramento de beleza para ficar bem em mídias sociais e sites de namoro, o que está alimentando ainda mais a receita global do mercado de implantes estéticos, diz o relatório da Fortune Business Insights, que ainda destaca que o Brasil tem um enorme potencial de crescimento.

“Além disso, os pacientes adolescentes estão cada vez mais informados e seguros daquilo que os incomodam e o que pode ser mudado. Isso é influência de um mundo conectado e com grande disponibilidade de informação. As selfies apenas realçam o objeto do incômodo”, diz o médico.

Segundo o cirurgião plástico, a geração das selfies tem relação também com a autopercepção estética das pessoas. “O fato de se ter uma câmera nas mãos a todo o momento é um convite para o autorretrato de todos os ângulos e em todas as situações. Isso gera frustração, pois sempre existe um ângulo que desagrada, principalmente porque se compara com fotos de outras pessoas nas redes sociais ignorando o fato de que muitas delas são super produzidas e manipuladas digitalmente”, diz o médico.

“E os jovens são mais afetados por este fenômeno”, acrescenta. Quando um paciente percebe, por conta de sua foto, um nariz maior do que realmente é, o médico diz que a conduta correta é tentar fazer entender que aquilo não corresponde à realidade. “Isso pode ser feito, tirando a mesma foto com a distância e a câmera adequadas”, diz o Dr. Mário.

“Como estamos conectados a todo momento, há uma influência indireta para um risco acentuado de desenvolver também distúrbios de imagem, como a dismorfia, que segundo estudos, nos últimos anos já vem crescendo em virtude do uso do Instagram”, acrescenta o cirurgião plástico.

Rosto de Instagram: como filtros influenciam no conceito de beleza

Padrões de beleza existem há séculos, mas atualmente há uma fixação por uma aparência computadorizada e pouco realista no Instagram. As maçãs do rosto estão saltadas, o nariz afinado, a boca e os olhos maiores. Mas, até que ponto os filtros do Instagram estão gerando um transtorno de imagem e influenciando a aparência das pessoas na vida real? Não à toa, no último ano, o Instagram passou a banir filtros de cirurgia plástica dos stories devido aos impactos que eles tinham na autoestima dos usuários.

“Uma vez que elas se veem naquela imagem, se acham mais bonitas e querem um resultado parecido. Com isso, vão em busca da boca maior ou da maçã mais saltada. Cabe ao bom profissional identificar se o procedimento é compatível, se realmente vai deixar o rosto mais harmônico ou vetar a intervenção e encaminhar o paciente para uma avaliação psicológica”, diz a cirurgiã plástica Ludmila Matos Ronchi, da Clínica Leger.

Mas a partir de que ponto a vaidade deve ser tratada como excessiva e prejudicial à saúde? Para a especialista, quando começa a ultrapassar os limites anatômicos do paciente. Isso acontece quando o paciente começa a querer mudanças que são desproporcionais ao seu próprio corpo e sua anatomia. Não vale a pena se submeter a procedimentos invasivos ou agressivos em prol de um resultado estético.

“É importante estar bem psicologicamente. Cada um tem sua beleza, e saber aceitá-la está relacionado à autoestima”, afirma a médica. Prova disso é que procedimentos de naturalização são cada vez mais frequentes em consultórios médicos.

Com Assessorias

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