A onco-psicóloga Natália Gil fala dos desafios de atender pacientes com câncer (Foto: Divulgação Oncoclínica-RJ)
A psico-oncologista Natália Gil fala dos desafios de atender pacientes com câncer (Foto: Divulgação Oncoclínica-RJ)

Se atender um paciente com transtornos emocionais causados por diversas razões já é um enorme desafio, imagine quando este paciente tem câncer e, em muitos casos, é obrigado a lidar muito de perto com a ideia iminente da morte, um dos maiores medos do ser humano? E até que ponto ter uma mente saudável pode colaborar, inclusive, no tratamento e, por vezes, acelerar as chances de cura?

Neste Dia do Psicólogo (27 de agosto), a psico-oncologista Natalia Gil, coordenadora de psicologia da Oncoclínica (RJ),faz um panorama  da rotina desses profissionais, que lidam com as dores do diagnóstico e a felicidade ímpar da cura, sempre como pontos de apoio do paciente.

  1. Como lidar com o diagnóstico do câncer?

Não existe uma ‘receita’ para lidar melhor ou de forma mais correta com o câncer. Essa vivência é construída desde o diagnóstico até a alta. É importante valorizar os recursos que cada um traz para a sua trajetória, encorajar e reassegurar a capacidade de enfrentamento que cada paciente possui. O trabalho do psicólogo é garantir que este traço único de cada pessoa seja acolhido, respeitado e escutado pela equipe assistencial, para que juntos possamos escrever mais essa pagina em sua história.

2. E após o tratamento e a cura, quais são as sensações que o paciente experimenta?

Viver um processo de adoecimento grave como câncer marca de diferentes maneiras as pessoas que passam por ela. Essa é uma experiência individual e subjetiva, não há um traço único que seja imprescindível, cada paciente usará os seus recursos emocionais organizados ao longo de sua trajetória de vida. Claro que conseguir a cura é sempre um enorme alívio e também uma grande felicidade. No entanto, junto destes sentimentos também podem surgir o medo de um possível retorno da doença, a necessidade de se adaptar à rotina de cuidados e acompanhamento médico regular, possíveis limitações e sequelas físicas causadas pelo tratamento.

3 – Quais são os diferenciais do psico-oncologista e os desafios dessa especialidade?

A psico-oncologia cuida dos aspectos psíquicos dos pacientes com câncer. O atendimento tem como foco o processo de adoecimento e seu impacto nas diferentes esferas da vida do paciente após o diagnóstico de câncer. Por meio de atendimentos, os pacientes podem elaborar as dificuldades do momento pelo qual estão atravessando, mapear situações de estresse e sofrimento, em conjunto com o profissional, além de buscar estratégias de enfrentamento que ajudem a lidar da melhor forma com as mudanças vividas.

4 .  Que conselho daria para o jovem que deseja ingressar na Psicologia e atuar, especificamente, na área de Oncologia?

Além da formação acadêmica e profissional, existe também a sua formação pessoal. É fundamental que o psicólogo que trabalha na área de oncologia tenha na sua análise pessoal um dos pilares para o desenvolvimento do trabalho. Antes de nos candidatarmos a cuidar de alguém, precisamos reconhecer nossos limites e medos, encarar a nossa própria finitude e impotência diante da morte

5.     Como é o mercado de trabalho para o profissional que atua na Psico-Oncologia?

A partir da portaria N°140 do Ministério da Saúde (27/02/2014), na qual foram redefinidos os critérios e parâmetros dos estabelecimentos de saúde especializados em oncologia, a presença de um acompanhamento multidisciplinar ao paciente trouxe a obrigatoriedade de um psicólogo clínico para a equipe, o que movimentou o mercado de trabalho, pois muitos estabelecimentos precisaram se adequar às novas regras e abriram novos campos de trabalho. Atualmente, os países de maior referência são EUA e Inglaterra, não apenas na área da psico-oncologia, mas também em relação aos cuidados paliativos. O Brasil está no caminho para o desenvolvimento de práticas clínicas voltadas para estas áreas.

  1.       Quais são as principais recomendações para quem atua nessa área?

É cada vez mais difundido que, para prestar um cuidado de excelência, é necessário atender aos pacientes de maneira integral. Sem dúvida, o trabalho apresentado no plenário da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco) sobre a intervenção precoce nos sintomas relatados pelos pacientes ao longo da quimioterapia incluem também os sintomas psíquicos dos pacientes durante o tratamento.  A mensagem passada na apresentação foi de que os médicos precisam escutar mais seus pacientes nas diferentes esferas biopsicossociais e esta escuta cuidadosa impacta diretamente na sobrevida dos pacientes oncológicos.

Fonte: Oncoclínica, com Redação

 

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