No Brasil, em 2021, como noticiou a Agência de Notícias da AIDS, existiam cerca de 960 mil pessoas vivendo com o vírus HIV no país. Os primeiros casos de Aids no Brasil surgiram nos anos 80, mas até hoje ainda há muitas dúvidas – e tabus – em torno da doença. A primeira delas diz respeito exatamente às siglas envolvendo o vírus e a própria enfermidade. É muito comum ocorrer a confusão ao tentar entender o que é o HIV, e o que é a AIDS, por serem ligadas em certo ponto.

A partir dos anos 80 houve o surgimento de casos entre a comunidade LGBT, o que causou uma onda de preconceito contra o grupo, e a comunidade científica avançou para que o estigma fosse diminuído na sociedade. Médicos ouvidos pelo Portal ViDA & Ação no especial Dezembro Vermelho desmistificam a doença e esclarecem as principais dúvidas sobre HIV e AIDS e a oportunidade da terapia gênica como uma possível cura.

“Muitas pessoas podem achar que HIV e AIDS são doenças diferentes, mas não é bem assim. HIV é o nome dado ao vírus que origina a AIDS, conhecido cientificamente como vírus da imunodeficiência humana. Já a AIDS, por sua vez, é conhecida como síndrome de imunodeficiência adquirida, diagnosticada quando o vírus HIV se multiplica no organismo. A doença atinge o sistema imunológico, fazendo com que ele deixe de defender o corpo contra agentes invasores”, esclarece Karina Santos, médica da família da Sami.

Já a infectologista Lissa Rodrigues, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, lembra também que nem todos que possuem o vírus HIV estão com a Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida, tradução da sigla Aids.

“A pessoa pode ter apenas o vírus no organismo, mas sem ter desenvolvido a doença. O vírus entra dentro do corpo e com o tempo vai consumindo nossas células de defesa até que chegue num nível em que não conseguimos nos proteger contra as outras infecções. Somente neste momento é que dizemos que ela está imunossuprimida, ou seja, com Aids”.

Karina Santos alerta que, mesmo sem desenvolver a doença, quem tem o vírus HIV pode transmiti-lo para outras pessoas. Esse contágio pode ocorrer através de transfusão de sangue contaminado; com relações sexuais sem uso de preservativo, incluindo sexo vaginal, oral e anal; na maternidade, quando a mãe é soropositiva, pode passar para o filho durante a gravidez, na amamentação ou até mesmo no parto.

“Outra forma de transmissão é o compartilhamento de instrumentos perfurocortantes sem esterilização, como, por exemplo, alicates de unha, espátula ou seringas”, alerta a médica da Sami.

Lissa Rodrigues lembra que, nos últimos anos, a campanha Dezembro Vermelho também passou a ressaltar a prevenção das ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos. Assim como o HIV, elas têm como principal forma de contágio as relações sexuais sem o uso de preservativos.

“Muitas vezes, as outras ISTs são diagnosticadas junto com o HIV, e as mais comuns são sífilis, hepatites virais, gonorreia e herpes genital”, informa Lissa Rodrigues.

Tire suas dúvidas

O que é o HIV?

“O HIV é um vírus que atinge as células e se multiplica dentro do corpo, no período entre duas e seis semanas, com principal alvo no sistema imunológico. Após este período ele adormece, mas continua atingindo as células imunológicas sem causar sintomas – o processo pode durar até 10 anos. Quando ele volta a ser ativo, os danos ao sistema imunológico são quase irreversíveis”, afirma o médico geneticista, Alexandre Lucidi.

O que é a AIDS?

“A AIDS é uma condição que pode – ou não – desenvolver-se a partir do estágio 3 da contaminação pelo vírus do HIV. Ela acontece quando o nível de células T do sistema imunológico no corpo fica baixo, e faz com que a pessoa fique suscetível à qualquer infecção que nesta condição, podem ser gravíssimas para os soropositivos”, explica Lucidi.

Como o vírus é transmitido?

De acordo com a Biblioteca Virtual em Saúde, o vírus HIV é transmitido por meio de relações sexuais (vaginal, anal ou oral) desprotegidas (sem camisinha) com pessoa soropositiva, ou seja, que já tem o vírus HIV; pelo compartilhamento de objetos perfuro cortantes contaminados, como agulhas, alicates, entre outros; de mãe soropositiva, sem tratamento, para o filho durante a gestação, parto ou amamentação.

Quais sintomas o HIV provoca?

“Existem pessoas que vivem anos com o vírus sem apresentar sintomas, mas isso não significa que o vírus esteja sendo eliminado do corpo. Pelo contrário. A doença se multiplica silenciosamente. Dessa forma, o funcionamento do sistema imune é afetado gradualmente, caminhando para o desenvolvimento da AIDS. Nesse estágio, é comum que a pessoa tenha episódios recorrentes de garganta inflamada, dor de cabeça, febre baixa, cansaço excessivo, ínguas inflamadas, diarreia e feridas na boca”, afirma a médica de família Karina Santos.

Quais são os sintomas da AIDS?

“Quando o quadro se agrava, evoluindo para um diagnóstico de AIDS, a pessoa pode apresentar febre alta com frequência, dificuldade para respiração, feridas na região genital, manchas na pele, tosse constante e perda de peso. Nesta condição, também é comum que o paciente tenha infecções recorrentes, como candidíase e pneumonia”, relata Karina Santos.

Existe cura para HIV ou AIDS?

“Infelizmente, ainda não há uma maneira de eliminar o vírus totalmente do organismo. Contudo, nos dias de hoje, o acesso aos testes e medicamentos para controlar o HIV e tratar a AIDS possibilitam que o paciente viva com a doença”, lembra a médica de família.

Como prevenir a infecção pelo HIV?

Segundo Karina Santos, atualmente a prevenção da infecção pelo HIV pode se dar de diferentes formas:

– Uso de preservativo desde o início da relação sexual;

– Profilaxia pós-exposição (PEP): uso de medicação antirretroviral após uma situação onde tenha risco de contato com o vírus, como por exemplo: acidente com sangue infectado, escape ou rompimento do preservativo, relação sexual desprotegida ou caso de violência sexual. Nesses casos, o tratamento deve iniciar o mais precoce possível. Tem maior eficácia quando iniciado até 2 horas e no máximo até 72 horas após o contato e deve ser mantido por 28 dias;

– Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) se dá com o uso contínuo do medicamento por pessoas que não têm o vírus. É indicado para quem tem grande risco de se infectar, como por exemplo, trabalhadores do sexo, parcerias sorodiferentes (casais onde um é portador do vírus e o outro não);

– Prevenção da transmissão vertical: a testagem para o HIV está nos exames de pré-natal, pois o tratamento adequado previne que o bebê contraia o vírus. É necessário também que o bebê use medicação no primeiro mês de vida e, nesses casos, a amamentação é contra-indicada;

– A realização do teste também pode ser caracterizada como prevenção se pensarmos que, ao ser diagnosticada, a pessoa iniciará o tratamento.

TERAPIAS GENÉTICAS PODEM SER USADAS PARA CURAR HIV?

Como publicado no site Reuters, uma paciente norte-americana com leucemia se tornou a primeira mulher e a terceira pessoa a ser curada do HIV após receber um transplante de células-tronco de um doador que era naturalmente resistente ao vírus que causa a AIDS.

Segundo o médico geneticista, atuante em Neurogenética e Neuroimunologia, Alexandre Lucidi (@alucidi)as pesquisas sobre terapia gênica relacionada a células hematopoiéticas vem crescendo exponencialmente. Sucessos clínicos destacaram o potencial do tratamento em algumas doenças, e a medida que os desafios técnicos para o desenvolvimento de terapias eficazes são resolvidos, novos desafios para a implementação da próxima geração de tratamentos se apresentam.

O paradigma atual da terapia gênica de células autóloga ex vivo é tão desafiador tecnicamente quanto a sua implementação, tornando a terapia extremamente cara. Isso é exemplificado pelo tratamento para β-talassemia que, apesar de obter aprovação clínica, foi retirada dos mercados europeus devido ao seu custo de US$ 1,8 milhão por paciente. Para algumas doenças, o alto custo de um tratamento pode, em última análise, ser menor do que os custos totais do uso crônico de tratamentos convencionais ao longo da vida.

“Infelizmente, para algumas das principais doenças das quais estas terapias ainda estão em desenvolvimento, como a anemia falciforme e o HIV-1, a maioria dos pacientes vive em países de baixa renda e provavelmente não haverá acesso, a menos que questões econômicas relativas às suas implementações sejam resolvidas”, finaliza o geneticista.

Com Assessorias

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