No último dia 16, o ator norte-americano Bruce Willis, de 67 anos, anunciou que foi diagnosticado com demência frontotemporal (DFT). A notícia chamou a atenção da imprensa mundial para as doenças próprias do envelhecimento – no caso do ator, um tipo de demência precoce que acomete pessoas ainda antes dos 65 anos. Em 2022, Willis já havia divulgado seu diagnóstico de afasia, uma condição que progrediu para este tipo de demência.

Gerontóloga, professora e doutora pela USP, Thais Bento Lima, que atua como parceira científica do Método Supera – Ginástica para o cérebro, explica que o termo demência frontotemporal (DFT) refere-se a um grupo de doenças caracterizadas por degeneração focal dos lobos temporais e/ou frontais do cérebro.

Segundo ela, clinicamente, a DFT é um grupo de doenças, e é subclassificada em subtipos de linguagem, denominadas variante não fluente ou agramática da afasia progressiva primária e variante semântica da afasia progressiva primária (cuja siglas são APP). Os diagnósticos interferem diretamente em recursos que são imprescindíveis para o ator, afirma a especialista.

“A APP é uma síndrome clínica caracterizada por distúrbio de linguagem fluente, com perda progressiva do conhecimento das palavras, levando a anomia e dificuldade de compreensão de palavras, e presença de parafrasias semânticas. Os pacientes podem apresentar dificuldade para reconhecer objetos, particularmente itens pouco frequentes ou com os quais estão menos familiarizados e sinais de dislexia ou disgrafia de superfície, que são caracterizadas por erros na escrita ou na leitura de palavras irregulares”, detalhou.

Ainda segundo ela, a doença leva a um comprometimento assimétrico dos lobos temporais anteriores, com quadro clínico diferente, a depender do lado mais acometido. “A síndrome clínica é caracterizada por alterações comportamentais (mudança de personalidade, depressão, comportamento social inapropriado) com perda de crítica”, detalhou.

Com relação à expectativa de vida dos pacientes diagnosticados com esta síndrome demencial, estima-se que após o diagnóstico o tempo médio de sobrevida é de 6 a 9 anos, tempo inferior quando comparado a outras demências como a Doença de Alzheimer e a demência vascular.

O progresso da doença de Bruce Willis

No caso específico do ator Bruce Willis, o tipo de demência frontotemporal que apresentava, era caracterizado como uma afasia progressiva primária, e a família observava que a sua linguagem estava ficando prejudicada e reduzida com o passar do tempo, acompanhada de alterações de comportamento e da personalidade e com a presença de alterações do humor.

Além disso, sua esposa relatava que, como durante o tratamento o diagnóstico não era ainda preciso, ela e seus familiares, achavam que o que comprometia a saúde de Bruce Willis eram os medicamentos que estavam sendo prescritos, pois nunca haviam ouvido falar sobre afasia progressiva e demência frontotemporal.

“A perda gradativa da linguagem que ocorre na afasia progressiva primária (APP), além de causar impacto na vida do indivíduo, requer constantes adaptações dele e de sua família para lidar com as dificuldades linguísticas, cognitivas e emocionais, que aumentam com o decorrer do tempo. A reabilitação linguística/cognitiva na APP requer flexibilidade para acompanhar as mudanças”, disse Thais Bento.

Segundo ela, após o diagnóstico, buscar informações é muito importante pois quando o cuidador tem conhecimento da demência, consegue manejar adequadamente o tratamento e os estágios da doença. “Indicamos um manual para cuidadores de indivíduos com demência frontotemporal, que pode ser baixado da internet, para terem maiores informações de cuidados desta condição”, explicou a especialista do Supera.

Como prevenir demências?

As demências em geral são progressivas e não têm cura. No entanto, a condição do ator Bruce Willis reforça a importância de olhar para o processo de envelhecimento, em especial as demências, com bons hábitos de vida e o estímulo cognitivo.

“As demências seguem em estudo em todo o mundo, mas a ciência já sabe que bons hábitos são fundamentais para prevenir a manifestação delas, sobretudo em casos em que há prevalência genética. Neste contexto, a estimulação cognitiva e a ginástica para o cérebro são uma opção interessante que estimula o cérebro e contribuiu para o retardo ou não manifestação da doença em casos mais propícios a ela”, concluiu.

‘Me sinto emocionalmente exausta’, diz filha

A família de Bruce Willis tem enfrentado uma dura batalha. A filha Scout publicou no Instagram que se sente “emocionalmente exausta e um pouco sobrecarregada” com o estado de saúde do pai. Também agradeceu as demonstrações de carinho. “Mas também me sinto maravilhada com o amor que tantas pessoas têm pelo meu pai”, escreveu. As irmãs Tallulah e Rumer  compartilharam o desabafo, apoiando-se mutuamente.

No dia 16, em um longo comunicado, a família divulgou o novo diagnóstico aos fãs:

“Queríamos dar-lhes uma atualização sobre o nosso amado marido, pai e amigo, uma vez que agora temos uma compreensão mais profunda do que ele está vivendo. Desde que anunciamos o diagnóstico de afasia de Bruce na primavera de 2022, sua condição progrediu e agora temos um diagnóstico mais específico: demência frontotemporal [conhecida como FTD]. Infelizmente desafios com comunicação são apenas um sintoma da doença que Bruce enfrenta. Embora isto seja doloroso, é um alívio ter finalmente um diagnóstico claro”.

“Atualmente não há tratamentos para a doença, uma realidade que esperamos que mude nos próximos anos. À medida que a condição de Bruce progride, esperamos que a atenção da mídia possa se concentrar em lançar luz sobre esta doença que precisa de muito mais conscientização e pesquisa”, disse o comunicado.

“Bruce sempre acreditou em usar sua voz no mundo para ajudar os outros e aumentar a conscientização sobre questões importantes, tanto em público quanto em particular. Sabemos em nossos corações que, se ele pudesse fazer isso hoje, gostaria de responder trazendo atenção global e uma conexão com aqueles que também sofrem com esta doença debilitante e como ela afeta tantas pessoas e suas famílias”.

“Bruce sempre encontrou alegria na vida e ajudou todos que conheceu a fazer o mesmo. Isso significa que o mundo vê esse sentimento de carinho ressoando com ele e com todos nós. Ficamos muito emocionados com o amor que todos compartilharam por nosso querido marido, pai e amigo durante esse período difícil. Sua contínua compaixão, compreensão e respeito nos permitirão ajudar Bruce a viver uma vida tão plena quanto possível”.

Palavra de Especialista

Quando o cérebro pode nos parar

Para a psicanalista Andrea Ladislau, que escreve semanalmente para a seção ‘Palavra de Especialista’, do Portal ViDA & Ação, ator precisará ressignificar sua vida com apoio familiar e de amigos. Confira:

Por Andrea Ladislau*

O ator norte-americano Bruce Willis, diagnosticado em 2022 com afasia, sofre com um novo desafio: a progressão da doença que culmina na forma mais comum de demência para pessoas com idade inferior ou igual a 60 anos. É a demência frontotemporal, uma deficiência que altera a capacidade cognitiva do indivíduo e afeta seu poder de captação e manipulação da comunicação, agindo diretamente na escassez das habilidades cognitivas do ser humano.

Com isso, o novo diagnóstico reforça e sacramenta a triste interrupção de décadas de sucesso de um dos atores mais premiados de Hollywood, lembrado por sua atuação impecável em filmes, como ‘Duro de Matar’. Uma aposentadoria precoce que interrompe a atividade laboral, por conta de um problema de saúde. Situação comum nos dias atuais.

A questão é que a perturbação da formulação e compreensão da linguagem, característica da afasia e da demência, mostram que se fará necessária a adaptação e ressignificação de toda uma vida. Assim como Bruce, muitas pessoas, se encontram neste lugar da “parada”, ou do estacionar sua vida laborativa e social, em decorrência dos cuidados consigo mesmo.

O grande ponto aqui é cuidar da saúde e, principalmente, não permitir que uma situação como essa afete o emocional do ator. “Em casos como este, uma rede de apoio se faz fundamental para que a pessoa que esteve ativa ao longo de toda sua vida, viveu sob a mira de holofotes e mantinha um alinhamento social constante, não entre em um estado depressivo, tornando assim, a demência uma porta aberta para transtornos ou outras neuroses oportunistas.

Toda essa situação hoje vivenciada pelo astro nos faz pensar e refletir que, em alguns momentos, nosso corpo pode nos parar. Nossa mente pode nos parar. É preciso ter sabedoria para reconhecer que essa pausa é, extremamente, necessária. Infelizmente, o paciente diagnosticado com essa doença, fica debilitado mentalmente e fisicamente. Perdendo suas funções de linguagem e se torna, de certa forma, dependendo total das pessoas mais próximas.

Sem dúvida, é um tempo de ressignificar nossas forças e perceber que até os fortes (simbolizando os personagens interpretados por Bruce Willis), precisam parar.

Ao longo de seus 67 anos de muitos trabalhos tornaram esse ator “familiar” no cenário cinematográfico. Porém, uma lesão cerebral que causa um distúrbio de linguagem, cala a “persona” principal. Mas o grande ponto que deve ser observado é que, já há algum tempo alguns sinais já demonstravam que algo estava fora dos eixos, nas gravações realizadas pelo ator.

O esquecimento das falas, os apagões momentâneos e a apatia frente a algumas situações, denunciavam um pedido de socorro.

Diante desta constatação, ressalto a importância de “ouvir” seu corpo. Dar voz à suas dores e aos pequenos sinais de irregularidades, como: dores crônicas, alterações de pele ou físicas inesperadas, dentre outras anormalidades do organismo.

Lembrando da máxima psicanalítica de que o corpo fala, certamente, ele pode estar emitindo um alerta para que se tenham mais cuidado com a mente e o físico.

Somos as nossas histórias, dores e alegrias. Estamos em constante evolução e claro que, a vida imediatista, nem sempre nos deixa perceber que a desaceleração é necessária. Preservar o emocional e valorizar o cuidado com o organismo e o biológico, são regras indispensáveis para que se viva cada vez mais e com maior qualidade de vida.

Enfim, lamentamos a notícia de mais um triste diagnóstico para Bruce. Demência é coisa séria, assim como a afasia e fica a tristeza em saber que termos mais o ator em novas produções do cinema, por conta de sua condição clínica.

Tudo isso nos leva a refletir que somos suscetíveis a doenças e que estas precisam ser acompanhadas de perto desde os primeiros sinais de qualquer sintoma.

Afinal, não existe isenção de dor ou invencibilidade para o ser humano. Ainda não chegamos neste estágio.

Portanto, a grande lição é viver a cada dia como se fosse o último. Desacelerar. Prestar atenção aos detalhes e aos sinais de desequilíbrio que possam estar sendo emitidos pelo corpo e pela mente são fundamentais na construção do bem estar físico e emocional.       

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