No período de Carnaval, em que muita gente costuma viajar de avião, aumentam as reclamações sobre um sintoma comum: o ouvido tampado. Há relatos de pesssoas que sofrem com o problema por vários dias depois que viaja, devido à pressão nos ouvidos, em especial nas aterrissagens (mudança brusca de altitude) ou decolagens de voos comerciais. A chamada surdez transitóriaocorre porque parte da secreção retida nas vias aéreas superiores migra para os ouvidos durante o voo, o que causa sensação de ouvido tampado, água no ouvido, pressão, dor.
“O que acontece é que o ar presente dentro dos ouvidos, por conta da obstrução (inflamação, congestão ou secreção) não consegue ser trocado com o ar do ambiente. A pressão do ar retido e preso dentro do ouvido acaba gerando desconforto por distensão da membrana timpânica, em alguns casos pode haver dor associada”, comenta a médica otorrinolaringologista e especialista em Otoneurologia Jeanne Oiticica.
Segundo ela, apesar de as cabines das aeronaves comerciais serem pressurizadas, isso pode ocorrer caso o passageiro esteja com alguma inflamação, congestão ou secreção nas vias aéreas superiores (nariz, seios paranasais, Tuba de Eustáquio, rinofaringe) decorrentes de gripes, resfriados, rinite, sinusite. Chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, ela conta que pode levar alguns dias para esta secreção secar e drenar para fora do ouvido, depois disso a audição normaliza.
“É sempre importante consultar um médico otorrinolaringologista nestes casos, pois, algumas vezes, pode ser necessário tratamento adicional, como exames de imagem e audiometria, sendo que uma avaliação mais detalhada acaba esclarecendo o diagnóstico final”, ressalta. Ela também alerta que calor, muita bebida gelada, piscina, mar são verdadeiras ameaças à saúde dos ouvidos, garganta e nariz. Confira algumas dicas que ela preparou para evitar esses problemas nesta época do ano:
Usar sempre sprays nasais e gotas otológicas
Durante viagens de avião, são medicamentos que podem ser prescritos para alívio do incômodo agudo na hora do voo, além, é claro, do tratamento profilático, mas que deve ser analisado caso a caso.
Mascar chicletes e deglutir, beber algum líquido.
No caso dos bebês, dar mamadeira ou o peito pode ajudar a abrir a Tuba de Eustáquio (a orelha encontra-se conectada com o nariz por meio de um tubo fino e estreito, como um canudo, chamado Tuba de Eustáquio. Ela é importante, pois é a responsável por equalizar a pressão da orelha e drenar secreções que a própria orelha produz em direção ao fundo do nariz para serem eliminadas) e desentupir o ouvido.
Por que, em alguns casos, o sorvete e as bebidas geladas prejudicam a garganta?
Em alguns casos, sorvetes e bebidas geladas causam “vasoconstricção” – contração dos vasos sanguíneos – na mucosa da garganta. Isto reduz a circulação local de sangue e a produção de secreções da garganta, por exemplo, de saliva, que é rica em anticorpos. Portanto, se a imunidade já está comprometida ou se a pessoa possui algum tipo de predisposição individual a ter infecções recorrentes de garganta, alimentos e bebidas gelados facilitam as chances de infecções.
O ar condicionado pode ser prejudicial à garganta?
Sim, pode prejudicar. O principal efeito do ar condicionado é que ele promove o ressecamento do ar e, consequentemente, da mucosa da garganta. Isto reduz a produção local de secreções, ricas em anticorpos, o que torna a mucosa da garganta susceptível e predisposta ao ataque de microorganismos.
O cloro da piscina pode ser prejudicial às vias respiratórias?
Sim, o cloro é um irritante da mucosa das vias respiratórias capaz de sensibilizar o aparecimento de crises de rinite, bronquite, asma em pessoas suceptíveis e predispostas. O uso regular de piscinas tratadas com cloro e o contato prolongado aumentam em até três vezes as chances de crises respiratórias.
Ao nadar, quais os principais cuidados para evitar a otite?
Apesar de serem raras as ocorrências, o excesso de água e de umidade nos ouvidos podem contribuir para o surgimento de infecções, em especial da pele do canal da orelha. Por isso, para quem estiver em contato com água e mergulhar diariamente ou para aqueles que fazem isso em períodos específicos do ano (férias, verão, piscina, praia) é recomendado usar um líquido secante no ouvido. No exterior estes produtos são vendidos costumeiramente em farmácias.
Aqui no Brasil, no entanto, não são encontrados com facilidade. Neste caso é preciso que o médico otorrinolaringologista faça a prescrição de fórmula secante na apresentação de gotas para pingar nos ouvidos. O uso de tampão também é importante para evitar a otite. O ideal é que o tampão de ouvido seja confeccionado sob medida. Uma fonoaudióloga tira o molde ou o decalque do canal do ouvido e um protetista confecciona-o. É mais eficiente, consegue vedar completamente o canal do ouvido e impedir a entrada de água. Em geral, recomendamos para pessoas expostas regularmente à água (nadadores, profissionais de natação), àquelas predispostas a otites de repetição ou crônica, e ou aqueles com perfuração da membrana timpânica do ouvido.
Fonte: Jeanne Oiticica, médica otorrinolaringologista