A adoção de práticas seguras nos serviços de saúde pode ajudar a prevenir riscos e danos aos pacientes hospitalizados e em home care. Estudos apontam que cerca de 10% dos pacientes sofrem com algum tipo de evento adverso durante a internação, como quedas e lesões por pressão, por exemplo.

Por meio de políticas e protocolos assistenciais, instituições hospitalares vêm desenvolvendo estratégias para prevenir quedas e lesões. A tecnologia médica também aparece como uma aliada para a prevenção desses eventos.

prevenção, se comparada com a gestão do tratamento, é o caminho mais preciso para se atingir a qualidade dos cuidados, pois aumenta a qualidade de vida e reduz sofrimento aos pacientes e custos para os sistemas de saúde.

A preocupação se estende também aos pacientes que recebem alta hospitalar, sobretudo após longas internações. É preciso garantir que o paciente deixe o hospital no momento adequado. Internações prolongadas e desnecessárias expõem os pacientes a riscos de complicações, como as infecções hospitalares. Por outro lado, é importante que pacientes não recebam alta em uma situação de fragilidade e perda de funções, o que pode impactar na evolução do quadro clínico.

O processo de alta é amplo e complexo. Exige planejamento e avaliação precisa da equipe assistencial multidisciplinar. A transição do processo de hospitalização para os cuidados domiciliares deve valorizar a participação da família, a fim de garantir o prosseguimento e a qualidade dos cuidados, segundo Regina Porto, coordenadora da clínica médica do Hospital Unimed Araxá

Quedas de pacientes no hospital ou dentro de casa

O paciente internado, geralmente, apresenta instabilidade devido a doenças crônicas, desconforto físicos agudos ou descompensação mental. Tais particularidades, somadas ao ambiente hospitalar desconhecido, consideravelmente, eleva o risco de quedas.

Pesquisa realizadas no Brasil avaliou a taxa de queda de pacientes hospitalizados, sendo evidenciado a variação de 1,37 a 12,6 para cada 1.000 pacientes-dia. A queda representa um dos principais incidentes de segurança no ambiente hospitalar, sendo responsável por dois em cada cinco eventos relacionados à assistência do paciente.

Geralmente a queda de pacientes em hospitais está associada a fatores vinculados tanto ao indivíduo como ao ambiente físico. Entre os fatores vinculados ao paciente destacam-se: idade avançada (principalmente idade acima de 85 anos), história recente de queda, redução da mobilidade, incontinência urinária, uso de medicamentos e hipotensão postural.

Com relação aos fatores ambientais e organizacionais, podem ser citados: pisos desnivelados, objetos largados no chão, altura inadequada da cadeira, insuficiência e inadequação dos recursos humanos.

Quedas de pacientes contribuem para aumentar o tempo de permanência hospitalar e os custos assistenciais, geram ansiedade na equipe de saúde, além de produzir repercussões na credibilidade da instituição e repercussões de ordem legal.

Quedas de pacientes produzem danos em 30% a 50% dos casos, sendo que 6% a 44% desses pacientes sofrem danos de natureza grave. Pode ter como complicações comuns, contusões ou fraturas, lesões cortantes, sangramento/hematoma, dor, traumatismos, ansiedade, depressão e medo de cair de novo, incapacidade física e óbito.

A prevenção de quedas é importante que a cama esteja em uma altura adequada para o paciente e seja segura para ele sair da cama, evitando lesões por queda sem comprometer a estabilidade e a mobilidade do paciente”, afirma Regina Porto.

O Brasil lançou em abril de 2013, a Política Nacional de Segurança do Paciente, na qual, têm-se o eixo prevenção de quedas.

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Úlceras por pressão aumentam risco de reinternação

Uma das consequências mais comuns de longa permanência em hospitais é o aparecimento de alterações de pele. A incidência aumenta proporcionalmente à combinação de fatores de riscos, dentre eles, idade avançada e restrição ao leito.

Diferentemente de boa parte das alterações de pele, a úlcera por pressão (UPP) tem sido alvo de grande preocupação para os serviços de saúde, pois a sua ocorrência causa impacto tanto para os pacientes e seus familiares, quanto para o próprio sistema de saúde, com o prolongamento de internações, riscos de infecção e outros agravos evitáveis.

As lesões cutâneas por pressão são alguns dos desafios no processo de transição da hospitalização para os cuidados domiciliares. Elas podem ser evitadas através da mobilização do paciente, fazendo trocas de decúbito a cada duas horas.

Úlceras por pressão causam dano considerável aos pacientes, dificultando o processo de recuperação funcional, frequentemente causando dor e levando ao desenvolvimento de infecções graves, também têm sido associadas a internações prolongadas, sepse e mortalidade.

A rápida identificação de pacientes em risco para o desenvolvimento de LP permite a adoção imediata de medidas preventivas. Em estágios avançados, o tratamento das úlceras de pressão pode ser demorado e de alto custo, e em alguns casos é necessária intervenção cirúrgica.

Para a lesão por pressão, superfícies de apoio com tecnologia do gel são uma opção que permite maior conforto e redistribuição de pressão e alívio na região sacral para pacientes de todos os níveis.

95% das úlceras de pressão podem ser evitadas

A Organização Mundial da Saúde (OMS) utiliza a incidência e a prevalência das úlceras de pressão como um dos indicadores para determinar a qualidade dos cuidados prestados nos serviços de saúde. Segundo a OMS, aproximadamente 95% das úlceras de pressão podem ser evitadas com a adoção de medidas especiais.

Segundo dados da instituição norte-americana National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP), a prevalência de UPP em hospitais é de 15% e a incidência é de 7%. No Reino Unido, casos novos de UPP acometem entre 4% a 10% dos pacientes admitidos em hospital. O custo total estimado do tratamento de UPP nos EUA é de 11 bilhões de dólares por ano.

Estudos estimam a ocorrência de lesão por pressão (LP) entre 4 a 16% de pacientes hospitalizados em países desenvolvidos (ANVISA, 2017). No Brasil, estudo revela que a prevalência de lesões nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) variou entre 35,2% a 63,6% e a incidência entre 11,1% e 64,3%

Medidas a ser tomadas após a alta hospitalar

O plano terapêutico de alta depende do grau de dependência dos pacientes. Pacientes lúcidos e orientados devem ter uma boa compreensão dos cuidados de higiene, do uso seguro dos medicamentos prescritos, assim como dos sinais de alerta que indicariam necessidade de retorno ao estabelecimento de saúde. Deve-se orientar também sobre os riscos da automedicação.

Os profissionais de saúde devem fornecer as orientações necessárias para o controle e a manutenção da saúde, para que os pacientes e/ou seus responsáveis tenham um bom entendimento de como enfrentar o tratamento e os cuidados, a fim de obter qualidade de vida”, explica Regina.

Para pacientes dependentes, as orientações devem ser repassadas aos familiares ou responsáveis. “No caso de pacientes acamados, alguns cuidados importantes podem diminuir a necessidade de reinternação.

A higienização das mãos antes e depois de manipular o paciente é de suma importância, seja para oferecer dieta e medicações, seja para dar banho ou fazer as trocas de fraldas. Deve-se manter a higiene oral, mesmo para pacientes sondados ou portadores de gastrostomia.

Para pacientes em uso de sonda enteral, o serviço de nutrição deve orientar os tipos e os horários das dietas e a equipe de enfermagem deve orientar sobre a administração de medicamentos pela sonda.

Pacientes traqueostomizados necessitam da correta higienização da cânula e podem necessitar de aspiração. A equipe de fisioterapia pode treinar os cuidadores para fazerem estes procedimentos adequadamente”, orienta Regina.

As instituições de longa permanência, por possuírem uma equipe especializada, podem ser uma boa alternativa para o seguimento dos pacientes que demandam muitos cuidados, seja provisória ou definitivamente.

Prevenção de infecções na transição de cuidados

 

A mudança do ambiente hospitalar para o de transição diminui a exposição do paciente aos patógenos hospitalares, que muitas vezes são resistentes a diversas classes de antibióticos. Porém, na Transição de Cuidados, por tratar de pacientes de alta complexidade, o infectologista tem papéis diferentes do médico que atua no âmbito hospitalar.

A redução de infecções hospitalares durante a transição de cuidados não apenas melhora a recuperação do paciente, como também reduz significativamente o tempo de internação e os custos associados a tratamentos prolongados para infecções adquiridas no hospital. Isso resulta em um sistema de saúde mais eficiente e sustentável, com melhor alocação de recursos em outras necessidades.

Seja com pacientes em reabilitação ou em cuidados paliativos, mesmo estando menos propensos a contrair infecções, deve-se manter todos os cuidados em relação aos dispositivos, curativos e lesões cutâneas para prevenir intercorrências infecciosas.

Nestes ambientes é imprescindível ao médico infectologista agir na prevenção da ocorrência de infecções, seja pela retirada de qualquer dispositivo invasivo quando há possibilidade, como pelo estímulo e treinamento de equipes para prevenção e o uso racional de antimicrobianos. Nos pacientes sob cuidados paliativos, os infectologistas têm o objetivo de utilizar os antimicrobianos para controle de sintomas e para garantir o conforto.

Quando a transição é gerida com uma comunicação eficaz entre os profissionais de saúde, garante-se que os tratamentos, como a administração de antibióticos, por exemplo, sejam realizados por tempo preciso e indicação adequada, sem interrupção do processo terapêutico e de reabilitação iniciado no ambiente hospitalar. Isso é crucial para proteger o paciente durante um período vulnerável de recuperação”, destaca Gabriel Fialkovitz, infectologista da YUNA.

A comunicação clara entre as equipes de saúde e o paciente, além da orientação sobre o autocuidado pós-alta, também são vitais. “Informações completas e claras sobre a gestão de medicações e os cuidados com feridas capacitam o paciente e seus familiares a manter práticas rigorosas de controle de infecção em casa”, explica o especialista.

Como reduzir os riscos de infecção na Transição de Cuidados

Implementar protocolos rigorosos de controle de infecção, higiene adequada e uso racional de antibióticos são a base para uma transição segura, de acordo com o Dr. Gabriel. É essencial que as equipes de saúde mantenham uma higiene impecável das mãos e sigam protocolos de limpeza e desinfecção do ambiente.

Além disso, o uso apropriado de equipamentos de proteção individual (EPIs) pelos profissionais ajuda a prevenir a transmissão de patógenos. “A transição de cuidados, não apenas diminui o risco de infecção hospitalar, como também assegura que a recuperação do paciente seja mais rápida, segura e tranquila”, ressalta.

Pode parecer uma tarefa simples, mas a correta higienização das mãos é comprovadamente eficaz na prevenção de infecções associadas à assistência à saúde, como nas infecções de corrente sanguínea. Tanto os pacientes quanto os profissionais de saúde estão protegidos quando a higienização das mãos é praticada corretamente.

Com Assessorias

 

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