A proibição da propaganda e do fumo em locais fechados; a inserção de imagens impactantes nos maços; a maior taxação dos preços dos cigarros e inúmeras campanhas de conscientização sobre os males do tabagismo. Apesar de todas essas medidas antifumo importantes adotadas no Brasil e dos resultados que trouxe- segundo o Ministério da Saúde, cerca de 15% da população são fumantes, menos da metade em relação a duas décadas – ainda é muito alta a prevalência de adolescentes que consomem produtos da indústria tabagista.
Um percentual crescente de adolescentes de 12 a 17 está começando a fumar, atraídos não só pelo cigarro tradicional como também pelo narguilé e cigarros aromatizados, eletrônicos e de palha. Estudo realizado pelo Ministério da Saúde e publicado na Revista de Saúde Pública entrevistou meninos e meninas de 12 a 17 anos de municípios com mais de 100 mil habitantes. Ao todo, participaram 74.589 adolescentes; dentre esses, 18,5% fumaram pelo menos uma vez na vida, 5,7% fumavam no momento da pesquisa e 2,5% fumavam com frequência. As maiores prevalências foram observadas na região Sul e as menores na região Nordeste.
É alto também o consumo de narguilé entre os jovens. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde, de 2015 indicam que mais de 200 mil brasileiros maiores de 18 anos admitem usar narguilé, sendo que nos últimos cinco anos mais que dobrou o uso de narguilé entre homens jovens (entre 18 e 24 anos). O consumo de narguilé, costumeiramente, é compartilhado. “Os jovens fazem uma rodinha em torno do narguilé, permanecendo entre 20 a 80 minutos, sendo que o que eles exalam durante uma sessão é equivalente, em média, a fumar 100 cigarros”, alerta Jefferson Luiz Gros, cirurgião oncologista e diretor do Núcleo de Pulmão e Tórax do A.C.Camargo Cancer Center, centro integrado de diagnóstico, tratamento, ensino e pesquisa do câncer.
Segundo ele, assim como o uso de cigarros, o narguilé contribui para o surgimento de doenças respiratórias, coronarianas e diferentes tipos de câncer. O compartilhamento do produto também pode acarretar a transmissão de doenças infectocontagiosas como herpes, hepatite C e tuberculose. “É fundamental conscientizarmos os jovens sobre os males do tabagismo. Mantê-los afastados do cigarro é uma estratégia que resultará, no futuro, em menor incidência e mortalidade por câncer de pulmão e outros tumores”, destaca o médico.
Informações importantes sobre tabagismo
– Tabagismo é o principal fator de risco isolado para o desenvolvimento de câncer e o responsável direto por cerca de 90% dos casos de câncer de pulmão e está relacionado a mais de uma dezena de tipos da doença, dentre eles esôfago, estômago, pâncreas, rim, bexiga, boca, laringe, faringe, garganta e mama. Há relação comprovada também com o desenvolvimento de outras doenças, como enfisema e bronquite.
– O cigarro é responsável por uma em cada dez mortes no mundo e metade das mortes causadas pelo fumo ocorre em apenas quatro países – China, Índia, EUA e Rússia –, de acordo com estudo divulgado em abril último pela publicação científica “The Lancet”, financiado pela Bill & Melinda Gates Foundation e pela Bloomberg Philanthropies.
– O Brasil aparece no estudo – que analisou 195 países entre 1990 e 2015 – em oitavo lugar no ranking de número absoluto de fumantes (7,1 milhões de mulheres e 11,1 milhões de homens). O levantamento também revela que, em 2015, aproximadamente 1 bilhão de pessoas no mundo fumavam diariamente: um em quatro homens e uma em 20 mulheres.
– O estudo, no entanto, aponta nosso País como “uma história de sucesso digna de nota” por causa da redução significativa no número de fumantes nos últimos anos. Segundo o levantamento, o Brasil é uma das nações que conseguiram ajudar pessoas a parar de fumar, em geral combinando impostos mais altos com avisos sobre os danos à saúde nos maços e programas educacionais.
– Com isso, em 25 anos, o País viu a porcentagem de fumantes diários despencar de 29% para 12% entre homens e de 19% para 8% entre mulheres, destaca o estudo. Apesar disso, segundo a OMS, no Brasil o cigarro é responsável por mais de 400 mortes por dia. E são inúmeros os seus males para a saúde.
Fonte: A.C.Camargo Cancer Center e Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP)