Às vésperas da Conferência Mundial do Clima (COP30), em Belém do Pará, novos dados reforçam como a saúde humana e planetária estão totalmente interligadas. Nossa alimentação, por exemplo, responde por 22% das doenças crônicas não transmissíveis (DNTs), que já afetam metade da população global.   Em meio a este cenário, cresce a busca por tratamentos e atividades de saúde e bem-estar baseadas no contato com a natureza.

Estudos revelam que crianças expostas a ambientes verdes apresentam melhor desenvolvimento cognitivo e motor, enquanto idosos têm ganhos relevantes na saúde mental e na qualidade de vida.  A exposição à natureza melhora a atenção e a clareza mental, reduz estresse, ansiedade e depressão, estimula o sono, regula a pressão arterial, previne doenças crônicas não transmissíveis, como cardiovasculares e diabetes tipo 2, além de fortalecer a coesão social e o senso de pertencimento comunitário.

Esses são os principais benefícios identificados no primeiro Mapa das Evidências da Efetividade Clínica das Intervenções Baseadas na Natureza (IBN), mostrando o papel crucial dos espaços verdes e das Intervenções Baseadas na Natureza na melhoria da saúde física e mental,  indicando 94% de efeitos positivos em ansiedade, depressão, obesidade e diabetes — especialmente em áreas urbanas.

As Intervenções Baseadas na Natureza compreendem:

  • imersão na natureza, com banhos de floresta (shinrin-yoku), banhos de mar, terapias em ambientes naturais e programas em áreas selvagens;
  • intervenções no espaço urbano, que abrange jardins terapêuticos em hospitais, parques urbanos, hortas comunitárias, corredores verdes, florestas-escola e até mesmo plantas de interior em ambientes de trabalho;
  • e ações na natureza, com grupos de exercícios ao ar livre e atividades de brincadeiras na natureza.

China, Reino Unido e EUA lideram estudos científicos sobre MTCI

Iniciativa do Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN), em parceria com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME-OPAS/OMS), o Mapa de Evidências reúne 312 revisões sistemáticas publicadas desde 2010 em bases internacionais e mostra que, em escala global, essas ações vêm crescendo exponencialmente como objeto de pesquisa científica, com pico de mais de 50 revisões publicadas em 2022.

O levantamento também revela a diversidade de países envolvidos na produção de conhecimento. A China lidera em número de pesquisas realizadas (155 estudos), seguida pelo Reino Unido (132), Estados Unidos (120), Austrália (116) e Canadá (110).  O mapa pretende reafirmar o papel estratégico das Intervenções Baseadas na Natureza (IBN) na promoção da saúde mental e da saúde planetária.

O documento foi lançado recentemente no 3º Congresso Mundial de Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa (MTCI), realizado no Rio de Janeiro, como parte das mesas temáticas sobre “Contribuições informadas por evidências e em favor da saúde planetária.” Para os autores, os resultados  refletem uma preocupação internacional com os impactos da urbanização, da poluição e da perda de biodiversidade sobre a saúde humana.

Para o médico pediatra Ricardo Ghelman, coordenador geral do projeto e fundador do Cabsin, este mapa de evidências representa “um marco para a Saúde Integrativa no Brasil”. Membro do grupo Criança, Adolescente e Natureza da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) ele atua como consultor em MTCI para a OMS no Brasil. 

 Demonstrar cientificamente os benefícios das intervenções baseadas na natureza, fornecemos subsídios cruciais para a formulação de políticas públicas que integrem a natureza como recurso terapêutico no SUS”, disse Ghelman, que presidiu o 3º Congresso Mundial de MCTCI.

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Projeto prevê banho de natureza em cinco parques de Goiás

O Mapa de Evidências é a base científica do Projeto Saúde e Natureza, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (SEMAD), que visa atender, inicialmente, 375 participantes (25 participantes de 15 municípios), com sintomas leves a moderados de ansiedade, depressão e insônia. A realização será em três fases:

  • Mapa de Evidências – após o lançamento no 3o Congresso Mundial de Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa (MTCI), no Rio de Janeiro, o estudo ficará disponível no site do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME-OPAS/OMS) em novembro de 2025.

  • Banho de Natureza em cinco parques estaduais de Goiás – concluída a etapa de capacitação de 40 facilitadores em práticas de banho de natureza, será implementado o ensaio clínico nos parques estaduais de Goiás com a realização de intervenções estruturadas, coleta de dados clínicos e psicométricos e, posteriormente, a sistematização dos resultados em relatórios técnicos e publicações científicas. O protocolo será de oito semanas com sessões semanais de 90-120 minutos.

  • Expansão para dez áreas verdes municipais – replicação e validação em diferentes territórios, com previsão de conclusão até o segundo semestre de 2026.

Para Andréa Vulcanis, secretária estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás, “os resultados desse Mapa de Evidências reafirmam a necessidade de se investir em políticas e práticas que reconectem a saúde humana ao ambiente natural. Ao promover intervenções baseadas na natureza, criamos condições de maior bem-estar, prevenção de doenças e fortalecimento comunitário, em sintonia com a agenda da saúde planetária”.

Conheça outras evidências apresentadas durante o congresso

O evento apresentou ainda a implementação e evidências iniciais de eficácia e segurança de práticas médicas tradicionais e complementares em hospitais de diversos países. Confira alguns outros estudos apresentados no evento:

  • Mapa de Evidências em Pediatria Integrativa, com 160 revisões sistemáticas de 74 países, mostrando 73% de efeitos positivos em saúde mental, redução da dor, oncologia e distúrbios respiratórios e gastrointestinais.
  • Uso da Medicina Ayurvédica no cuidado pediátrico e geriátrico na Índia.
  • No sistema público chinês, a Medicina Tradicional Chinesa e Integrativa representa 30% dos serviços, com 30.000 prescrições e 19 toneladas de fitoterápicos por dia.
  • Desde a Covid-19, há crescente interesse e pesquisa sobre tratamentos tradicionais e fitoterápicos na África, América Latina e Europa, mas ainda há grave escassez de financiamento e políticas.
  • Cuidados de suporte oncológico baseados nas Diretrizes da Sociedade de Oncologia Integrativa (ASCO-SIO) para melhorar a qualidade de vida e controlar sintomas relacionados ao câncer.
  • Uso de Ayahuasca e terapias assistidas por psicodélicos no tratamento da depressão severa na América Latina.
  • Aplicações de Inteligência Artificial na MTCI para identificar plantas medicinais e fortalecer a pesquisa global.
  • Estudo premiado sobre Práticas Integrativas e Complementares com arte e ciência para crianças em comunidades vulneráveis, mostrando como criatividade e empatia podem transformar saúde e educação.
  • Terapia com visco (mistletoe) para reduzir efeitos colaterais do tratamento do câncer na Europa, América do Sul e Índia; meditação e ioga no tratamento da dor crônica; e uso de ventosaterapia e acupuntura no apoio a pessoas em situação de rua e dependência química no Brasil.

Com Assessorias

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