Natalia Carelli descobriu a asma quando tinha 18 anos, enquanto jogava uma partida de futebol. Sem conseguir respirar normalmente durante a crise, foi levada para casa com “a pior sensação do mundo”, como ela descreve. Foi ao hospital e há 10 anos faz diferentes tratamentos para controlar a doença, que consiste em inflamação nos pulmões, é crônica e atinge mais de 6,4 milhões de brasileiros segundo números do Ministério da Saúde.
Eu ainda não consigo aceitar que vou carregar a asma para o resto da vida. Tenho dificuldades respiratórias para praticar alguns exercícios, mas pelo menos não voltei a ter crises agudas”, conta a estudante, que se diz mais preocupada atualmente por conta da pandemia do novo coronavírus. As pessoas asmáticas estão no grupo de maior risco pelo contágio do vírus, que atinge o sistema respiratório.
O dia 5 de maio, desta vez, representa o Dia Mundial de Combate à Asma. A data é lembrada sempre na primeira terça-feira do quinto mês, e serve para conscientizar as pessoas da importância dos tratamentos continuados. Por causa da pandemia, é essencial ficar atento aos sintomas e procurar o hospital, caso necessário.
Ao contrário do caso de Natália, o diagnóstico da asma é comumente feito ainda na infância, quando identificados o chiado no peito, a falta de ar e tosse que podem variar em intensidade e frequência, sendo estes os sintomas mais comuns. O diagnóstico é realizado através da investigação de história clínica, exame físico direcionado e exames complementares. Além disso, a doença é multifatorial, já que está ligada a condições genéticas e ambientais somadas aos hábitos e estilo de vida de cada indivíduo.
Quadro de Covid-19 pode se agravar mais em asmáticos
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 100 a 200 milhões de pessoas sofrem de asma e as mortes anuais atingem 180.000 em todo o mundo. Entre 10% e 25% da população brasileira sofrem com asma. Diante do coronavírus, a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) faz o alerta: pessoas com asma não são mais propensos a contrair Covid-19, porém, caso sejam infectados, a chance de ter o quadro de saúde agravado é maior.
O Dia Mundial da Asma de 2020 se concentrará novamente nas necessidades das pessoas com a doença. Os temas anteriores incluíram o gerenciamento e a convivência com a doença. Esses temas ressoam mais do que nunca neste ano, pois qualquer discussão será dominada pelos debates atuais em relação à pandemia do novo coronavírus e seus efeitos no tratamento da asma.
É muito importante não interromper o tratamento da asma. Em caso de dúvida, o paciente deverá pedir auxílio e orientações ao seu médico assistente”, alerta Flavio Sano, presidente da Asbai.
Segurança para atender crianças em emergências
A pediatra Patrícia Figueira Martins, gestora clínica da Unidade de Internação Pediátrica do Hospital Icaraí, alerta que crianças podem manifestar crises de asma que variam de leves a severas, e devido à exposição a agentes infecciosos, principalmente os vírus respiratórios, a frequência da exacerbação das crises é maior. A doença é uma das principais causas de internação na pediatria. Por isso, ela reforça que mesmo durante a pandemia, com a demanda aumentada de assistência hospitalar para pacientes suspeitos ou infectados pela Covid-19, existem protocolos específicos que garantem a segurança das crianças que precisarem de atendimento emergencial nas instituições.
Toda criança que apresentar tosse, falta de ar e/ou chiado no peito, com ou sem febre, deve ser submetida à avaliação médica. Para garantir segurança na assistência hospitalar no período de pandemia, o Hospital Icaraí adota medidas que contemplam barreiras de proteção aos clientes e aos profissionais de saúde, além de fluxos específicos para o atendimento mais eficaz e efetivo”, explica Patrícia.
A médica considera ainda que, devido ao período de isolamento social para diminuir a contaminação pelo Covid-19 (novo coronavírus), a circulação de outros vírus respiratórios também diminuiu, com impacto na redução dos quadros inflamatórios de via aérea de origem infecciosa. “No entanto, não se pode esquecer de outros estímulos que desencadeiam quadros agudos de asma, como exposição a alérgenos e estresse. Por isso, os cuidados e a atenção para prevenção e reconhecimento precoce dos sintomas de asma devem ser os mesmos, a fim de buscar o tratamento adequado quando necessário”, afirma.
Para o atendimento aos adultos, o Hospital adota protocolos baseados na classificação de risco, além de protocolos gerenciados para patologias específicas com o objetivo de garantir as melhores práticas e o melhor desfecho clínico para todos os pacientes.
Uso de nebulizadores deve ser feito com restrições
A base do tratamento de asma é com corticosteroides inalatórios para controle da inflamação broncopulmonar, redução de sintomas e exacerbações. “Essas medicações não devem ser abandonadas, nem tampouco retiradas do tratamento do paciente com asma. O uso regular e correto de medicações inalatórias deve ser preconizado independente da circulação do coronavírus”, informa Dr. Sano.
Durante as exacerbações, o uso de corticosteroide oral em doses preconizadas deverá ser utilizado com parcimônia e sob orientação médica. A ausência de controle da inflamação na asma pode promover exacerbações graves e morte por asfixia em um subgrupo de pacientes.
O corticosteroide sistêmico tem sido utilizado em pneumonias graves por coronavírus com resultados conflitantes. Em estudos observacionais o uso de corticosteroide em doses baixas ou moderadas tem beneficiado pacientes com lesão pulmonar aguda e reduzido a inflamação causada pela infecção viral. Entretanto, não existem evidências de que o uso de corticosteroide oral reduza a mortalidade por pneumonia ou choque séptico causado pelo coronavírus.
A Asbai enfatiza ainda que o uso de nebulizadores deve ser feito com restrições, isso porque eles são potenciais fontes de contaminação. Estudos de culturas de microorganismos em máscara e copos de nebulizadores utilizados em pacientes com fibrose cística mostraram proporção significativa de nebulizadores contaminados (71%) por microrganismos potencialmente patogênicos. Pacientes com asma deverão utilizar seus dispositivos inalatórios, em aerossol dosimetrado ou inalador de pó, de forma individual, sem compartilhamento. Quando possível, o uso de nebulizadores em serviços de urgência deve ser evitado.
Atenção aos alimentos que podem desencadear crises
Segundo a nutricionista Adriana Stavro, neste momento de pandemia, além dos cuidados básicos de lavar as mãos e praticar distanciamento social, devemos nos preocupar e evitar os alimentos alergênicos. Pesquisas mostram que indivíduos com asma e alergia alimentar correm maior risco de episódios asmáticos mais graves, sendo necessário hospitalização, o que os colocaria em maior risco de serem expostos ao novo coronavírus.
Embora cada pessoa possa apresentar alergia a um determinado alimento, é importante que seja levado em consideração a restrição de alimentos que contenham alérgenos desencadeantes de reações exacerbadas. Os 9 alérgenos alimentares mais comuns são amendoim, leite, ovo, soja, nozes, trigo, mariscos e gergelim. Entretanto, crises de asma também podem ser desencadeadas apenas pela inalação de alimentos como a farinha de trigo e amendoim.
As proteínas do leite de vaca podem desencadear prematuramente a asma na infância, sendo assim, é imprescindível que haja o aleitamento materno por período mínimo de 6 meses para reduzir os riscos de desencadear a doença prematuramente em crianças com predisposição hereditária.
A gravidade da doença varia de ocasional, leve a grave. “Ainda não se sabe por que os asmáticos têm essa atividade imunológica desequilibrada, porém, vírus, fungos, metais pesados, nutrição desequilibrada e poluição podem contribuir para o agravamento da doença. ” Explica Adriana.
Terapia nutricional alivia sintomas
Por isso, a terapia nutricional se baseia no abrandamento da inflamação e no alívio da obstrução das vias aéreas. Estudos mostram que nutrientes antioxidantes, especialmente vitaminas C (laranja, mexerica, maracujá, limão, abacaxi), vitamina E (gérmen de trigo, carnes, azeite, amêndoas, nozes, castanha-do-pará, pistache, semente de girassol, gergelim, espinafre, couve, agrião, linhaça), selênio (castanha-do-pará ou castanha do-brasil) e zinco (presente em todos os tipos de carne, especialmente a vermelha) podem ter efeito protetor contra a doença. A ingestão dessas fontes diminui o poder oxidativo, consequentemente inibe o processo inflamatório dos pulmões.
As vitaminas B6 e B12 (carnes, legumes, verduras, brócolis, couve, cereais integrais, ervilha, castanhas, nozes, abacate e levedo de cerveja) também demonstraram ser úteis, assim como os ácidos graxos ômega-3 (sardinha, algas marinhas, óleo de peixe e chia), influenciam de forma positiva nos processos inflamatórios conferindo efeito protetor.
Na contramão do ômega 3, os ácidos graxos saturados presentes nas carnes, leites e derivados gordos devem ser evitados, pois ativam a resposta inflamatória desencadeando mecanismo inflamatório em cascata. “Cuidar da alimentação é fundamental para o controle da doença, pois uma dieta adequada pode minimizar os riscos de ocorrência dos sintomas e de crises frequentes. Cuide-se. Faça boas escolhas”, diz a nutricionista.
Mais sobre a asma
A asma envolve as vias aéreas de grande e de pequena condução e é caracterizada por uma combinação de inflamação e remodelação estrutural que pode começar no útero. Esta inflamação das vias aéreas brônquicas, resulta em aumento da produção de muco e hiper responsividade das vias aéreas. A sintomatologia inclui episódios de chiado, tosse e falta de ar.
É frequentemente acompanhada de comorbidades, incluindo alergias de múltiplos órgãos, como rinite alérgica, conjuntivite, dermatite atópica e alergia alimentar, além de distúrbios não alérgicos, como obesidade, refluxo gastroesofágico e condições psiquiátricas. A ASBAI preparou um documento com recomendações para pacientes com asma em tempos de pandemia de covid-19, que pode ser acessado no link.
Com Assessorias