Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 32 pessoas se suicidam por dia no Brasil, o que significa que o suicídio mata mais brasileiros do que outras doenças, como o câncer e a Aids. Estudos apontam que quase a totalidade dos óbitos por suicídio está associada a um transtorno psiquiátrico que não foi tratado adequadamente ou sequer identificado e acompanhado.
A pandemia é um grande fator de risco para o suicídio. Depois de tantos meses convivendo com a Covid-19, a atenção à prevenção ao suicídio é ainda mais importante. O aumento de casos de desemprego, o estresse financeiro e o isolamento são fatores de risco para o suicídio e que merecem atenção. A nova orientação da OMS foi lançada mês passado e evidencia que é necessário intensificar os esforços de prevenção ao suicídio.
“Cada suicídio afeta e muito as pessoas que ficam. Isto é um problema de saúde pública. Dentre os pacientes internados em hospital geral, o número de tentativas é de três a cinco vezes maior do que na população como um todo. Infelizmente, poucos casos chegam aos serviços de saúde, o que reduz as possibilidades de assistência especializada ao sujeito em sofrimento”, explica a psicóloga Lara Ramos Xavier, da equipe de Psicologia do Hospital Santa Cruz.
O fato de o suicídio ainda ser um tabu e as pessoas pouco falarem sobre ele, contribua para o aumento de casos, já que pesquisas comprovam que uma simples conversa pode trazer grandes resultados. A conversa pode fazer com que a pessoa mude de ideia, pelo menos naquele momento e repense algumas coisas.
Para a psicanalista, hipnóloga e terapeuta holística reikiana Kelida Marques. a Psicanálise, de forma geral, não tira esses pensamentos suicidas da mente humana, mas ela tem como função auxiliar a pessoa a ter uma visão diferente da vida, naquele momento e por isso, nós, os profissionais da área sempre convidamos o indivíduo a conversar, falar sobre o assunto e os motivos que o fazem pensar no suicídio.
“Não é fácil, muito pelo contrário, é doloroso, arriscado, sofrido, mas é a saída ideal, pois ao conversar, ele vai podendo ter uma leitura diferente de uma determinada situação, tendo outras perspectivas que podem fazê-lo mudar de ideia”, resume
Conheça os 7 principais sinais de alerta
Kelida reforça que não há uma fórmula mágica, prevenção, ou algo parecido para quem pensa em tirar a própria vida, mas elenca alguns fatores que contribuem para que esse pensamento ganhe força. Vulnerabilidades, as relações com pai e mãe (na primeira infância), as relações com o mundo exterior (escola, trabalho e sociedade) e fatores como os que estamos vivendo no último ano (medo, insegurança, luto coletivo, desemprego).
“Existem diversos fatores que podem contribuir com isso, há inclusive aqueles que defendem que o suicida nasceu pré-disposto a cometer esse ato contra si, então, o que sempre procuro evidenciar é que se a pessoa possui pensamentos suicidas, nesse momento, para esse indivíduo, se ninguém o ouvir, o universo está ajudando a concretizar essa ação e por isso, é importante convidá-lo para se abrir, sem julgá-lo ou menosprezar os seus sentimentos”, reforça a psicanalista.
Kélida Marques traz um compilado de sinais importantes para que as pessoas fiquem alerta e olhem com carinho para o próximo, tentando afastar, sempre que possível esse sentimento de inferioridade. Confira:
Apresentar comportamento retraído, dificuldades para se relacionar com família e amigos;
Ter casos de doenças psiquiátricas como transtornos mentais, de humor (depressão, bipolaridade) ou de comportamento pelo uso de substâncias psicoativas (álcool e drogas);
Sofrer mudanças nos hábitos alimentares ou de sono;
Apresentar sentimentos de solidão, impotência e desesperança;
Escrever cartas de despedida;
Falar repentinamente sobre morte ou suicídio;
Apresentar irritabilidade, pessimismo ou apatia.
Os sintomas mais comuns
O Hospital Santa Cruz, de Curitiba (PR), em adesão à campanha de prevenção ao suicídio, aborda alguns sintomas comuns e que podem auxiliar para que se perceba a necessidade de buscar apoio psicológico:
Muita tristeza sem um motivo aparente;
Falta de prazer por coisas que costumava gostar;
Dificuldade para dormir ou excesso de sono;
Vontade de “fugir” das pessoas, para evitar qualquer tipo de contato social;
Desânimo constante para se levantar da cama;
Dificuldade para realizar tarefas simples do dia a dia;
Sentimentos de ansiedade ou pensamentos negativos.
A psicóloga Lara Ramos Xavier afirma que os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, sendo necessário uma autoanálise para identificar quando é o momento de buscar ajuda e uma avaliação com um profissional especializado.
Kelida reforça que as tentativas de suicídio nunca devem ser ignoradas e mesmo sendo um tema incômodo, convidar o outro a refletir sobre aquele ato é importante para que não haja repetição.
“Neste momento, jamais interrompa o relato do outro, procure não expressas reações e converse de forma clara e objetiva e oriente-a a procurar ajuda especializada. Mas o mais importante é que ela se sinta acolhida e perceba que alguém se importa com ela”, conclui.
A psicanálise tem um papel importante nesse importante na descoberta e compreensão dos processos psíquicos, já que atua diretamente neles, fazendo com que a pessoa assuma o papel de condutor da sua própria vida, por uma ótica diferente.
Suicídio no Brasil e no mundo
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio no mundo. Já ao que se refere às tentativas, uma pessoa atenta contra sua própria vida a cada três segundos. Em termos numéricos, é calculado que cerca de um milhão de casos são registrados por ano em todo o mundo.
Segundo estimativas da OMS, o suicídio é uma das principais ocorrências de óbito em todo o planeta. Em uma comparação, mais pessoas morrem de suicídio do que de HIV, homicídio, malária e câncer de mama. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) aponta que o suicídio é a segunda principal causa de morte entre os jovens de 15 e 29 anos. Além disso, 79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda.
No Brasil, os casos passam de 12 mil por ano, e deste total, 96,8% estão relacionados a transtornos mentais, como por exemplo, depressão e transtorno bipolar. Este cenário é preocupante e serve de alerta para que a saúde mental seja um tema sempre discutido e disseminado, seja em família, grupo de amigos ou no ambiente profissional.
Mais sobre o Setembro Amarelo
A campanha Setembro Amarelo – uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM) – busca conscientizar a população sobre a importância da identificação e tratamento corretos das doenças mentais, visando contribuir para a redução desses números alarmantes.
O objetivo é chamar a atenção dos governos e da sociedade para a relevância de se falar sobre este assunto. A campanha deste ano do Hospital Santa Cruz, de Curitiba, tem como tema “Procurar ajuda é um ato de coragem. Oferecer ajuda é um ato de solidariedade”. “Se disponha a ouvir quem está ao seu lado, conheça seus sentimentos e esteja por perto, mostrando que é possível encontrar ajuda. Incentive a busca por ajuda profissional”, finaliza a psicóloga.
Além de psicólogos especializados, ela dá outras sugestões de onde encontrar ajuda:
www.posvencaodosuicidio.com.br
CVV: 188 ou www.cvv.org.br
www.mapasaudemental.com.br
Com Assessorias