Somente no ano passado, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimou mais de 10 mil novos casos de leucemia no país, um tipo de câncer que afeta o sistema sanguíneo. Pessoas que sofrem da doença encontram no Transplante de Medula Óssea (TMO) a única esperança de salvação. Atualmente, o Brasil possui o terceiro maior cadastro de doadores no mundo, com cerca de quatro milhões de candidatos, através do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome).
Contudo, apesar do número parecer elevado, a quantidade de cadastros precisa aumentar, por conta, principalmente, da variação genética da sociedade brasileira. “Apenas 25% dos pacientes encontram um doador familiar, em função da compatibilidade. E, os outros 75% terão um doador alternativo, encontrado pelo Redome. Uma vez que se identifica o doador, ele é chamado para fazer testes, enquanto prepara-se o paciente receptor”, revela o o presidente do Conselho Técnico da Associação Pró-Vita Transplante de Medula Óssea, Luis Fernando Bouzas.
Neste Dia Mundial do Doador de Sangue (14 de junho), ele lembra que a iniciativa é fundamental no tratamento de doenças sanguíneas, principalmente na fase inicial do tratamento, pois os pacientes recebem, quase diariamente, transfusões de hemáceas e de plaquetas. Esse período se estende até o momento em que a medula óssea recupera a hemopoese (produção e maturação das células do sangue) normal.
De acordo com na medula óssea estão localizadas as células-tronco hematopoéticas, responsáveis pela geração de todo o sangue (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). E, com o transplante é possível substituir a medula doente por células normais, com o objetivo de reconstituir uma nova medula, sadia.
“A medula óssea é um tecido que existe dentro dos ossos, responsável pela produção dos componentes do sangue e do sistema imunológico. Tem uma relação direta com o desenvolvimento de doenças como leucemia, linfomas e anemias graves. O tratamento pode ser feito com a substituição deste tecido por um normal, oriundo de um doador. Cerca de 80 doenças diferentes relacionadas ao sangue podem ser tratadas com o transplante de medula óssea”, explica o presidente da Pró-Vita.
Para se tornar um doador de medula óssea
“Para o doador é um procedimento totalmente seguro, com rápida recuperação. Após 15 dias da coleta, a medula óssea do doador se regenera”, afirma Bouzas. Confira o que é exigido para se tornar um doador:
– Ter entre 18 e 55 anos de idade.
– Estar em bom estado geral de saúde.
– Não ter doença infecciosa ou incapacitante.
– Não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico.
– Algumas complicações de saúde não são impeditivas para doação, sendo analisado caso a caso.
Saiba mais sobre o assunto
1. O que é medula óssea?
Medula óssea é um tecido líquido que ocupa o interior dos ossos, ele é popularmente chamado de ‘tutano’. Neste tecido são produzidos os componentes do sangue: os glóbulos vermelhos (hemácias), os glóbulos brancos (leucócitos) e as plaquetas.
2. O que é transplante de medula óssea?
É a retirada de uma pequena quantidade de medula óssea de um doador que seja compatível com o indivíduo que necessita do transplante. Em geral, quando alguns tipos de doenças malignas atingem as células do sangue o tratamento mais adequado é o transplante de medula. O objetivo é reconstituir as funções da medula óssea de uma pessoa doente por células normais de medula óssea retiradas de um doador saudável.
3. Como as células-tronco são coletadas do doador?
Podem ser obtidas de três fontes:
– Cordão umbilical: o sangue é coletado logo após o parto.
– Medula óssea: O volume coletado depende do peso do doador e da pessoa que irá receber o transplante. Para pessoas adultas a quantia retirada é em média um litro de medula. A coleta é feira por meio de um procedimento cirúrgico sob anestesia, com múltiplas punções aspirativas no osso da bacia.
– Sangue periférico: Outra forma de coletar é através do sangue. O doador recebe injeções diárias, este medicamento fará com que aumente o número das células-tronco e faz com que parte delas migre dos ossos para o sangue. A partir daí é só coletar através de uma máquina apropriada. O procedimento dura de duas a três horas e não necessita de anestesia.
4. Quais os riscos da doação?
O procedimento de coleta das células-tronco da medula óssea não costuma oferecer riscos ao doador, porém, podem ocorrer complicações devido ao uso da anestesia. Pode haver também dor local, mas ela é facilmente controlada com analgésicos comuns. Uma terceira consequência pode ser a anemia, relacionada ao volume retirado, mas que em geral é leve e de fácil controle.
5. Como se cadastrar como doador?
Quem deseja se cadastrar como doador de medula deve procurar um hemocentro ou um de seus núcleos ou unidades de hemoterapia. Neste local você será orientado e poderá tirar as suas dúvidas. Após o cadastro de seus dados (nome, filiação, etnia, endereço, entre outros), será coletada uma amostra de seu sangue para a realização da tipagem de seus glóbulos brancos (tipagem HLA).
6. Posso me cadastrar como doador apenas para um paciente específico?
Não. Diferente do que acontece com a doação de sangue, em que você pode doar especificamente para um paciente, a doação de medula não funciona assim. O Redome é um registro brasileiro de doadores não-aparentados para beneficiar pacientes de qualquer lugar do mundo. São mais de três milhões de doadores cadastrados.
7. Já sou cadastrado. Posso desistir da doação?
Sim, você pode desistir da doação a qualquer momento. Não se esqueça: depois que o paciente receptor da medula passou a ser preparado para receber o transplante, ou seja, está recebendo altas doses de quimioterápicos, a sua recusa em doar provavelmente resultará na morte dele. Isso pode acontecer porque não haveria tempo suficiente para localizar outro doador compatível.
A decisão de doar tem de ser bem pensada. Os órgãos competentes recomendam que os candidatos à doação de medula óssea, antes se tornem doadores de sangue, que, além de ser muito útil à sociedade, é uma maneira de torná-los mais familiarizados com os procedimentos de doação de material biológico (o sangue) e contribuir para que se perca o medo de doar a medula óssea.
8. Posso saber para quem doarei as células?
Não. É obrigatório manter o sigilo da identidade do doador e do receptor. Você poderá receber notícias do andamento do transplante e das condições clínicas de quem recebeu a sua medula, preservado o anonimato de ambos. Você também pode doar mais de uma vez, para o mesmo receptor ou para pessoas diferentes.
Fonte: Pró-Vida e Consulta Click