Você sabia que dois terços dos pacientes com Covid-19 apresentam algum tipo de alteração do olfato? A perda temporária da capacidade de sentir cheiro ou olfato é um dos sintomas e sequelas mais frequentes em pacientes com o coronavírus. Há vários graus para essa perda e ela pode ocorrer em qualquer fase da doença ou até não aparecer. A reação por semanas ou meses, e sendo assim, muitos pacientes infectados com o vírus relataram a falta de olfato durante e até mesmo após o diagnóstico de cura da Covid-19.
Um estudo publicado no Journal of Internal Medicine revelou que 86% dos pacientes com casos leves de Covid-19 perdem o olfato e o paladar durante a infecção pelo vírus. Ainda que os sentidos sejam recuperados em até seis meses, o levantamento apontou que cerca de 5% das pessoas seguiram com dificuldades para sentir cheiros e gostos.
Após um mês, aproximadamente, 50% têm uma recuperação completa, mas a outra metade não recupera nada ou tem melhora parcial. Depois de três meses, 5% continuam com o sintoma, como mostra esta pesquisa. O estudo registrou o alto índice de perda de olfato e paladar somente em casos considerados leves. Em pacientes com sintomas moderados a graves, apenas 4% a 7% das pessoas perderam a capacidade de sentir cheiros e sabores.
Um estudo brasileiro mostra que a maioria dos casos melhora e que apenas 5% dos casos não apresentam melhora alguma. De qualquer forma, o tratamento precoce ajuda essa recuperação e deve ser feito com orientação médica. De acordo com o otorrinolaringologista Gilberto Ulson Pizarro, do Hospital Paulista, a prática hospitalar cotidiana vem mostrando que, em alguns casos, a cura do Covid-19 não é suficiente para que o olfato e o paladar retornem à sua capacidade total.
Em alguns casos, é necessário que o paciente seja submetido a tratamentos específicos como, por exemplo, treinos para que olfato e paladar voltem à normalidade. “Deficiências nesses sentidos são perigosas, pois podem gerar problemas relacionados à não percepção de alimentos estragados, vazamentos de gás, dentre outras atividades tão comuns em nosso dia a dia”, explica o médico.
Treinamento olfativo caseiro
Para ajudar os pacientes que, por conta do coronavírus tiveram o seu sistema olfativo afetado, existem técnicas de treinamento caseiro com aromas e essências para recuperar este sentido. A médica otorrinolaringologista Mariana Schmidt Kreibich Faccin, do Hospital Dia do Pulmão, centro de referência na área respiratória de Blumenau, Santa Catarina, explica que o método é feito a partir da inalação de aromas e essências como, café, cravo, mel, vinagre de vinho tinto, pasta de dente de menta, essência de baunilha e suco de tangerina, de tipo concentrado.
O paciente precisa cheirar uma pequena porção de cada um dos odores, sendo necessários pelo menos quatro deles, por 10 segundos, com um intervalo de 15 segundos entre eles, duas vezes ao dia, durante três meses, ou mais tempo, se necessário”, indica a otorrinolaringologista.
Dra. Mariana aponta que o treinamento tem o objetivo de aguçar o olfato, fazendo o organismo recuperar a sensação e a memória de tal aroma. “O nosso cérebro recebe as informações olfativas por meio de uma estrutura chamada de bulbo olfatório, sistema essencial para o funcionamento do nosso olfato. Depois, essa informação chega a diferentes áreas do cérebro como a que é responsável pelas emoções, bem como a que entende qual o aroma que está sendo inalado, e por último a emocional, fazendo o corpo lembrar de tal aroma em algum momento de sua vida”, esclarece.
Por fim, a especialista alerta sobre a importância de procurar a ajuda de um médico, caso a pessoa tenha dificuldade de sentir cheiros, devido à Covid-19. “Além disso, o paciente precisa realizar o treinamento corretamente, se concentrando no odor estimulado. Assim, o cérebro buscará as lembranças, facilitando a regeneração das células”, conclui.
Como fazer o treinamento do cheiro (olfativo)?
“Perder o olfato pode afetar a qualidade de vida, e leva, em alguns casos, a isolamento e até problemas emocionais como a depressão”, afirma Maura Neves, médica otorrinolaringologista da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial – ABORL-CCF. Ainda segundo ela, há vários tipos de perda de olfato:
• Anosmia: é uma ausência completa do olfato;
• Hiposmia: é um olfato reduzido;
• Parosmia: é um olfato distorcido, ou seja, sente um cheiro “bom”, mas, o cérebro interpreta como “ruim” ou vice versa;
• Fantosmia: é quando você sente cheiros que não existem.
Fisioterapia de cheiros
Dra Maura explica que o que ajuda a combater essa sequela é uma série de exercícios, uma espécie de “fisioterapia de cheiros”. São utilizadas quatro fragrâncias de óleos essenciais para estímulo do olfato. Os aromas sugeridos são: rosa, eucalipto, limão e cravo.
Cada essência deve ser inalada por 10 segundos com intervalo de 15 segundos entre cada uma. O treinamento deve ser feito 2 x ao dia durante 24 meses para que haja tempo de recuperação da sensação do cheiro e da comunicação com o cérebro”, afirma a médica.
Também podem ser usadas fragrâncias “domésticas” o que torna a realização do treinamento mais fácil. Algumas sugestões abaixo:
• Café;
• Cravo;
• Mentol;
• baunilha;
• Menta (pasta de dente);
• Vinagre;
• Tangerina (suco).
O modo de uso das “fragrâncias domésticas é o mesmo das essências em frequência e tempo. Deve-se ter cuidado apenas em escolher aromas que não causem irritação no nariz para evitar o desenvolvimento de rinite.
Mesmo que a pessoa não sinta o cheiro de nada nos primeiros dias é importante fazer o treinamento. Isso porque um nervo danificado tem uma boa chance de se reparar e o treinamento é a maneira de ajudar isso a acontecer mais rápido.
Estudos recentes mostram que pessoas que usam o treinamento olfativo se saem melhor nas áreas de identificação de cheiros do que aquelas que não fazem nenhum treinamento. Há outros tratamentos possíveis para a perda de olfato. Os medicamentos podem ser prescritos caso a caso e dependem de avaliação e seguimento com médico otorrinolaringologista.
Beber ou degustar vinhos pode ajudar
Utilizar osmell training – que consiste no ato de cheirar substâncias que possuem um cheiro forte e marcante como vinhos, café, mostarda, perfumes, produtos de limpeza, entre outros, com os olhos vendados para não poder para identificá-las com a visão– pode, sim, auxiliar na recuperação pós-Covid.
Segundo os dados dos pesquisadores alemães, o desempenho dessa prática de maneira periódica e repetitiva mostrou impacto positivo na recuperação da anosmia por diversas causas, entre elas após infecções virais. “Por isso, esta modalidade foi recentemente introduzida num guideline britânico de rinologia como uma das práticas para manejo dos distúrbios do olfato relacionados ao coronavírus”, explica Higor, que tem indicado a prática para seus pacientes afetados pela doença.
Para quem gosta, o hábito de beber e degustar vinhos é, sem sombra de dúvidas, muito agradável e prazeroso. E de acordo com o oncologista, quando feito com moderação e respeitando as condições de saúde de cada indivíduo, pode ser estimulado e praticado.
Ambulatório do olfato
Com o objetivo de ampliar e qualificar o diagnóstico e o tratamento da perda de olfato e paladar, o Hospital Paulista conta com um ambulatório que atende pacientes que tiveram Covid-19 e também aqueles que desenvolveram o problema por outras razões.
Inaugurado no segundo semestre de 2020, o Ambulatório de Olfato e Paladar trata de casos de perda parcial ou total de olfato e paladar. Um de seus objetivos é identificar a verdadeira causa do problema, de modo a adaptar o tratamento às necessidades de cada paciente.
Até dezembro, havíamos registrado cerca de 180 pacientes, que tiveram Covid-19 e apresentaram algum grau de perda de olfato. Destes, 4,5% tiveram anosmia (perda total) e 18%, microsmia (redução parcial). Os demais apresentaram rápida recuperação do olfato a partir do tratamento ou naturalmente, conforme se curavam do novo Coronavírus”, explica o especialista.
Se a perda dos sentidos for temporária, são utilizados medicamentos. No entanto, se o problema persistir, é possível administrar um tratamento utilizado mundialmente, conhecido como Treinamento Olfatório, disponível no Ambulatório.
“Neste tipo de tratamento, não há melhora imediata. É preciso que o paciente saiba disso, persista e não desanime ou desista. Ele deve encarar como uma fisioterapia olfatória”, afirma Pizarro, com uma ressalva. Segundo ele, é importante saber que existem diferentes testes para diagnosticar alterações do olfato, sendo de fundamental importância contar com uma avaliação correta e, de preferência, precoce, a fim de aumentar as chances de reverter o quadro.
“Qualquer alteração no olfato merece a visita ao médico, pois o sentido é de fundamental importância à nossa segurança, para detectar um vazamento de gás na cozinha, fumaça ou alimentos estragados, por exemplo, e para gerar qualidade de vida – o prazer em sentir cheiro de perfumes e comidas”, completa o médico.
O Ambulatório de Olfato do Hospital Paulista está localizado no interior da instituição, situada à Rua Doutor Diogo de Faria, 780, na Vila Clementino, em São Paulo, com atendimento inicialmente realizado às terças-feiras, das 8h às 11h.
Quem já provou vinhos certamente conhece a importância da olfação para a degustação. Mas muitos não fazem ideia que a bebida pode ser uma aliada no tratamento de uma das sequelas causada pela COVID-19: a perda do olfato. Segundo o oncologista Higor Mantovani, do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia, a atual pandemia forçou todos a aprender sobre diversos temas que não fazem parte da prática diária. E com os médicos não foi diferente.
Muitos dos nossos pacientes se encaixam como grupo de risco para a afecção da COVID-19 e, portanto, cabe a nós orientá-los sobre as diversas situações que permeiam este assunto. Tivemos acesso aos dados de um grupo de pesquisadores alemães, referência em tratamentos de distúrbios do olfato, que desenvolveu pesquisas com uma técnica chamadas mell training (em português: treinamento do cheiro), utilizando a bebida para ajudar na recuperação do olfato”, conta o médico.
A disfunção respiratória é, de todas a consequência da infecção pelo coronavírus, a mais temida. Entretanto, a doença pode cursar com sintomas e até sequelas não tão usuais como é o caso da perda de olfato. De 10 a 15% dos infectados pelo vírus poderão ter perda de olfato (conhecida tecnicamente como anosmia) por algum período. Em alguns casos, essa condição pode se estender e se tornar inclusive uma sequela.
Perda do paladar associada à perda do olfato
Dra Maura explica que em muitos casos a perda do cheiro vem associada a perda do sabor (ou paladar). O que a ciência percebeu recentemente é que, em muitos casos, a perda de olfato pode durar meses, mesmo após a pessoa ter se curado da Covid-19.
A médica explica que a perda do cheiro também pode afetar a sensação do sabor ou paladar. “Muitas pessoas confundem a perda do olfato com a perda do paladar (ageusia). No caso da Covid-19 a perda do paladar é o que chama atenção para a perda do olfato na maioria das vezes”, ressalta Dra Maura Neves.
Além da Covid-19 há outras causas de perda de olfato que devem ser investigadas. São elas:
- Gripes e Resfriados: outros vírus podem afetar o nervo olfatório. Isso não é exclusivo do coronavírus!
- Trauma: batida na cabeça ou nariz pode causar perda de olfato.
- Doenças neurológicas: Parkinson, Demência e Alzheimer podem ter redução ou perda do olfato. Nestes casos o treinamento traz bons resultados tanto para o cheiro quanto a memória.
- Doenças nasais: sinusites e rinites crônicas afetam a percepção de cheiro.
A otorrinolaringologista explica que o treinamento do olfato consiste em estimular o nervo olfatório e as conexões cerebrais com aromas específicos e assim ajudar na sua recuperação.
Com Assessorias