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Quem não sofre, conhece ao menos uma pessoa sequer próxima, seja amigo ou parente, que sofra de depressão. Minha mãe sofreu com esta doença durante longos anos e tenho muitos amigos – na maioria, mulheres – que são reféns desse mal. Apesar dos índices alarmantes no Brasil, considerado o país mais depressivo da América Latina, e o quarto no mundo, ainda é um tabu falar sobre a doença por aqui.

Tanto que ao longo da última semana, dos cinco depoimentos que publicamos na seção ‘Eu Vivo’ do Blog Vida & Ação – em referência ao Dia Mundial da Saúde, que este ano foi dedicado à depressão -, apenas um (curiosamente, um homem) admitiu revelar sua identidade. As demais vítimas preferem se esconder atrás do medo de ser discriminada pela sociedade. Ou até mesmo de perder oportunidades de trabalho ou clientes.

Mas especialistas ouvidos pelo blog garantem: o silêncio não é receita quando o assunto é depressão. Ao contrário, é hora de pôr fim a essa barreira e falar sobre a doença, a mais comum dentre todas no campo da psiquiatria. Para quebrar o preconceito, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu dedicar o Dia Mundial da Saúde (7/4) para a campanha “Vamos Conversar”. O objetivo é expurgar o estigma de pacientes, identificar sintomas, formas de prevenção e de tratamento a um transtorno que pode levar a consequências graves sem os devidos cuidados.

“Além de falar mais abertamente sobre a depressão, é preciso atentar para o silêncio intrínseco ao próprio paciente. Quando nesse estado, a pessoa fala pouco, se isola e na maior parte das vezes não busca ajuda”, alerta a psiquiatra Analice Gigliotti, chefe do setor de Dependência Química da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif.

Segundo a especialista, falar sobre o tema ajudará a diminuir a distância entre quem tem a doença e o seu meio social, inclusive junto a profissionais de saúde, que poderão identificar melhor os sinais e encaminhar pacientes ao tratamento psiquiátrico adequado. Para Analice, a quebra de preconceito é aliada importante para a cura. “As pessoas com depressão ainda sofrem bastante em seu meio social. Quem está à volta muitas vezes provoca com frases como ‘isso é uma tristeza passageira’, ‘preguiçoso’, ‘você pode sair dessa sozinho’, o que leva o indivíduo a evitar a busca de tratamento”, diz a psiquiatra.

Especialistas defendem a importância do diálogo para combater a falta de conhecimento e ajudar pessoas que sofrem com o problema. Com todo o tabu que ainda cerca as doenças emocionais, ter uma rotina mais saudável e conversar sobre os problemas cotidianos são medidas que ajudam na busca do equilíbrio e na cura da doença. Conversar com os amigos e a família sobre o estresse ou sintomas depressivos, torna aquele momento um refúgio, uma libertação de tudo que se passa.

De acordo com a psiquiatra do Hospital Adventista Silvestre, Fernanda Ramallo, o diálogo mesmo que entre amigos é primordial para ajudar as pessoas que sofrem de depressão. “A conversa é uma terapia informal, que lava a alma. Expor os sentimentos a um terceiro pode soar vulnerável, mas é importante confiar a alguém os problemas, para que consiga extravasar o que sente, e também para escutar a opinião de outro que enxergará o que está passando de outro ângulo. Às vezes o que pensa ser a melhor solução pode não ser, e o seu amigo pode oferecer algo melhor”, explica a médica.

Ela acredita que todo o cotidiano de violência e riscos imprevisíveis faz com que os brasileiros vivam constantemente em estado de alerta. Dessa forma, em algum momento, a mente não suporta mais tanto estresse e preocupação. É nesse momento que as patologias aparecem, como depressão e ansiedade. Para contornar essa situação, a psiquiatra defende a conversa como válvula de escape.

“Em um grupo de 10 amigos onde ninguém nunca falou sobre depressão, uma pessoa que faz tratamento para essa doença se sentirá inibida de falar sobre o assunto, por pensar que apenas ela sofre dessa patologia. No entanto, se essa pessoa resolver levantar a bandeira, provavelmente alguém dirá que também sofre ou já sofreu da mesma coisa. E a partir desse momento, uns podem ajudar os outros, conversando sobre o que passaram e como solucionaram, e quais válvulas de escape adotaram. Portanto, devemos sempre falar sobre a doença pra que as pessoas entendam que sim, ela existe, e é muito mais comum do que se imagina”, explica.

Uma doença de todas as idades

A depressão, ressalta a OMS, afeta pessoas de todas as idades, condições sociais e de todos os países. Todos os sexos, faixas etárias, raças e classes sociais podem ser acometidos pela depressão. Porém, ela é mais comum entre mulheres, pessoas divorciadas/ separadas ou vivendo sozinhas, com baixo nível socioeconômico e escolar, desempregados e morando em zonas urbanas. Jovens, mulheres no pós-parto e adultos com mais de 60 anos são os que mais correm risco de desenvolver o transtorno. Eventos vitais relevantes podem estar presentes, mas não é necessário existir um fator causal identificável ou “ter motivo” para que o diagnóstico seja feito.

A doença traz grande sofrimento mental e afeta a capacidade para realizar até mesmo as mais simples tarefas diárias. A depressão pode levar ao suicídio, que atualmente é a segunda principal causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos de idade. A entidade chama a atenção para três grupos especialmente afetados: jovens, mulheres em idade fértil (especialmente após o nascimento de uma criança) e idosos.

“Os jovens sofrem de depressão e podem cometer suicídios, até mesmo crianças podem se matar. Falar sobre o assunto abertamente é muito importante para aumentar a conscientização, mostrar suas causas e possíveis tratamentos. Além disso, as pessoas podem se reconhecer na doença e assim buscar ajuda profissional”, destaca Analice, para quem o apoio de parentes e amigos é essencial ao tratamento.

Conheça os tipos de depressão

“A depressão pode ser um episódio único, recorrente ou mesmo ser uma fase do transtorno bipolar. De acordo com o número e a gravidade dos sintomas associados, podemos classificar a depressão em leve, moderada ou grave. O comprometimento das atividades da vida diária varia com o grau de depressão. Em situações mais graves, há risco de suicídio”, esclarece Renata.

É importante que pessoas com sintomas característicos da depressão procurem ajuda para avaliação e adequada indicação de tratamento. Trata-se de uma doença grave que pode comprometer a vida social, profissional e emocional do indivíduo. Segundo ela, o apoio da família é fundamental. “A compreensão de que se trata de uma doença auxilia na recuperação. Sem esse apoio a depressão tende a piorar.  Todos estão sujeitos a ter um quadro de depressão, considerada por alguns como o mal do século. Por isso, deve ficar atento aos sintomas, pois muitos sofrem sem saber que estão doentes”, conclui.

A depressão tem cura

Segundo Renata Vargens, psiquiatra da Casa de Saúde Saint Roman, muitas vezes o quadro não é adequadamente identificado. “Ainda é comum acreditar que o paciente “está assim porque quer”, “é um folgado”, ou que “precisa arranjar o que fazer para sair dessa”. Falas como essas retardam a busca por ajuda especializada e o correto manejo da situação”, informa.

A boa notícia é que a depressão é curável. O primeiro passo é o paciente reconhecer que precisa de ajuda e buscar auxílio profissional. O tratamento é individualizado e inicia com mudanças de estilo de vida com hábitos saudáveis como a prática de exercícios, boa alimentação e boas noites de sono. Terapia, medicações e tratamentos alternativos podem ser indicados separadamente ou combinados, sendo grandes aliados na busca por uma vida longe da tristeza.

Por isso, é fundamental que as pessoas próximas ajudem na identificação do transtorno a partir de sinais e sintomas. “Importante observar se a pessoa está deprimida ou triste a maior parte do dia e quase todos os dias; se perde o interesse e prazer nas tarefas; se sua autoestima está baixa; se sente muito inseguro; perde apetite ou peso; apresenta sonolência ou insônia constantes e excessivas. Em casos mais graves, é preciso atentar para a demonstração de exagerado sentimento de culpa e ideias de morte e procurar a ajuda de um psiquiatra”, afirma Analice.

Segundo ela, o tratamento pode ser psicoterápico para a as formas mais leves, porém para os quadros mais graves há indicação de tratamento medicamentoso associado a abordagens psicoterápicas. ‘Em situações mais graves, por exemplo quando há risco de suicídio ou recusa alimentar, a internação está indicada. A depressão é um quadro tratável e o diagnóstico precoce feito por profissional capacitado pode reduzir o sofrimento do indivíduo e evitar recorrências”, destaca.

O acompanhamento médico é fundamental, mas estudos apontam também que determinadas vitaminas e minerais podem ajudar no combate à depressão. Dentre eles, o magnésio se destaca. O mineral é um regulador do sistema nervoso que previne a insônia, a ansiedade, a hiperatividade, o estresse e a depressão e pode ser encontrado em alimentos como leite, queijo, vegetais de folha verde, figo, carne vermelha, etc. No entanto, com a correria do dia a dia e a alimentação deficitária recomenda-se consumir suplementos de magnésio. Sempre com supervisão médica.

Da Redação, com assessorias

 

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