Josimar Carvalho, de 50 anos, estava desaparecido há alguns dias e deu entrada no no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, em junho deste ano com um traumatismo crânio encefálico grave em decorrência de um atropelamento. Chegou ao hospital com o apelido de “grilinho” e os profissionais de saúde estavam em busca da família.

Um dos funcionários da unidade, amigo da família, ligou e informou à sobrinha, Joice, que seu tio estava internado na unidade. Ao chegar lá, ela descobriu a morte encefálica e, junto de sua tia (irmã do falecido), autorizou a doação dos órgãos de Josimar.

“A enfermeira foi super atenciosa e nos explicou muito bem sobre todo o procedimento. Quando ela falou sobre doação de órgãos, não pensamos muito, logo liberamos. Pra mim, nem deve se pensar duas vezes antes de fazer isso. Infelizmente todo mundo um dia vai morrer, mas se a gente morrer e puder ajudar alguém, vai ser uma morte em paz”, conta Joice Carvalho, que afirma que será uma doadora e incentiva a todos a pensarem mais sobre o assunto.

A família foi atendida pela Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) do Albert Schweitzer. composta por uma equipe multidisciplinar, onde todos os responsáveis de diversos setores do hospital fazem parte. Há um grupo de mensagens instantâneas onde são colocados os casos e cada um sabe sua função e começa a atuar quando constatada a possibilidade de doação.

A Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) contabilizou, em 2021, 15,1 doadores efetivos por milhão de habitantes (pmp), o que significou 17% abaixo de 2019 (18,1 pmp) e 4,5% de 2020 (15,8 pmp). Os elevados índices de recusa familiar à doação e o baixo registro de notificação de morte encefálica foram os responsáveis pela diminuição do número de doadores.

Para incentivar a doação de órgãos, o Dia Nacional da Doação de Órgãos, celebrado nesta terça-feira (27), foi instituído pela Lei nº 11.584/2.007 com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância da doação. O Setembro Verde reúne campanhas de estímulo e de combate a todo tipo de desinformação em torno do tema.

O  sob gestão do Viva Rio, vai realizar nesta terça-feira (27), a partir das 14h, um evento aberto ao público sobre os impactos da comunicação na doação de órgãos. O ciclo de palestras vai começar com o tema “Comunicação: a fala do corpo”, abordado pela analista de comunicação da unidade, Leandra Ferreira.

A outra conversa terá como tema “O impacto da comunicação na doação de órgãos e tecidos” e a palestrante será a enfermeira Daniele Nascimento, responsável da CIHDOTT do hospital.

“Quanto mais pessoas souberem dessa informação, mais ela se propaga. Precisamos  fazer com que todas as pessoas tenham a informação de como funciona o protocolo de morte  encefálica. Primeiro, ele garante o diagnóstico do paciente e, quando fechado, possibilita a doação de órgãos que pode ajudar a salvar muitas vidas”, explica Daniele Nascimento. 

Como funciona a Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante

O Hospital Municipal Albert Schweitzer tem uma Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) desde 2015. Todas as unidades de saúde com mais de 200 óbitos por ano precisam ter essa comissão, que é responsável por verificar todos os casos de morte encefálica ocorridos na unidade, que primeiro garante o diagnóstico do paciente e a doação de órgãos é uma consequência do diagnóstico final (morte).

Desde 2015, a unidade já notificou 220 mortes encefálicas à Central Estadual de Transplantes do Rio de Janeiro e 65 doações de órgãos e tecidos foram feitas a partir de captações realizadas no hospital. Daniele Nascimento, explica como é feito o procedimento, que inicia quando a equipe médica suspeita de morte encefálica após uma lesão neurológica grave, em decorrência de traumatismo crânio encefálico, acidente vascular encefálico e tumores cerebrais.

“É aberto o protocolo de morte encefálica, sendo necessário a avaliação por dois médicos e posteriormente, é realizado um método complementar, como a realização de exames, eletroencefalograma e doppler transcraniano, que comprovam ou não atividade cerebral. Após a conclusão dos exames é declarado (ou não) o óbito. A partir do fechamento do protocolo, sendo óbito, falamos de doação de órgãos”.

Na entrevista com a equipe da CIHDOTT, a família pode decidir quais órgãos e tecidos serão doados. A comissão envia toda documentação para a Central Estadual de Transplantes que vai ranquear os possíveis receptores dos órgãos e enviar para o hospital sua equipe de captação, responsável pelo ato cirúrgico e transporte do órgão e tecido captado.

A partir do mês de setembro, o Albert Schweitzer se tornou apto a captar córneas, sem que seja necessário que o Banco de Olhos do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) vá até a unidade realizar o procedimento.

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