O mês de julho ganha a cor amarela para destacar a importância de um olhar cuidadoso para as hepatites, principalmente B e C, que são as mais prevalentes e podem resultar em complicações graves. Essas infecções respondem, juntas, por 96% dos casos de câncer de fígado e cirrose hepática e podem levar a necessidade de transplante hepático se não forem identificadas e tratadas adequadamente.

A escolha da cor não  é por acaso. Pessoas com hepatite podem apresentar icterícia, que leva a pele e olhos amarelados. Muitas vezes, no entanto, as hepatites virais não apresentam sintomas visíveis, mas quando ocorrem, podem incluir outros sinais relevantes, como cansaço, febre, mal-estar, tontura, náusea, vômito, dor abdominal, urina escura e fezes claras

É fundamental prevenir e cuidar dessas doenças. Até para evitar que se transformem em outras lesões mais graves. As hepatites podem ser causadas por cinco tipos de vírus que atacam o fígado: A, B, C, D e E, sendo que os mais frequentes no Brasil são os três primeiros.

A infecção crônica por vírus do tipo B ou C é a maior causa de câncer de fígado, não necessariamente passando por uma cirrose antes. Por isso, é muito importante prevenir e detectar precocemente estas hepatites para evitar que elas compliquem e venham a causar cirrose ou câncer”, diz Bruna Zaidan, diretora da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP).

Mas uma dificuldade é que as hepatites são geralmente doenças silenciosas e podem levar anos para ser diagnosticadas. Por isso, algumas pessoas só percebem o problema quando ela já evoluiu para algo pior. “Em caso de suspeita de câncer no fígado, o patologista é o médico que faz a análise de biópsia para o diagnóstico preciso, que é importante para a definição de tratamento”, diz a especialista.

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Vacina para os tipos A, B e D

A principal forma de prevenção da infecção pelo vírus da hepatite B é a vacina, que está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para todas as pessoas não vacinadas, independentemente da idade. Para crianças, a recomendação é que se façam quatro doses da vacina, sendo: ao nascer, aos 2, 4 e 6 meses de idade (vacina pentavalente). Já para a população adulta, o esquema completo se dá com aplicação de três doses.

Existem vacinas para os tipos A e B e a vacina contra o vírus B funciona também contra o D, que só se desenvolve em quem já teve hepatite B. O tipo D, no Brasil, é mais comum na Região Norte.  Não há vacina para o tipo C, mas existe cura para esse tipo de hepatite em mais de 95% dos casos, de acordo com o Ministério da Saúde. Os tratamentos com antivirais de ação direta (DAA) em geral duram de 8 a 12 semanas e eliminam a infecção.

Não há cura, mas há vacina e tratamento, para o tipo B. Outras formas de prevenção recomendadas pelo Ministério da Saúde, e que servem também para outros tipos, são usar camisinha em relações sexuais; não compartilhar objetos de uso pessoal que possam ter contato com sangue, como lâminas de barbear e depilar,  escovas de dente, material de manicure e pedicure, equipamentos para uso de drogas, para fazer tatuagem e para colocação de piercings. 

Transmissão pode ocorrer desde alimentos até sexo sem proteção

As hepatites A e E são transmitidas via contaminação fecal-oral, por isso, a higiene pessoal e dos alimentos, especialmente os crus, é fundamental para a prevenção. Já as hepatites B, C e D podem ser transmitidas de várias maneiras, como:

  • Contato com sangue contaminado, por meio do compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas de barbear, alicates de unha e outros objetos perfurocortantes;
  • Relações sexuais sem preservativo com uma pessoa infectada pelos vírus das hepatites B, C e D;
  • Transmissão vertical durante a gravidez e o parto, isto é a transmissão da infecção a partir da mãe para o seu feto no útero ou recém-nascido. A amamentação pode ser uma via de transmissão se houver fissuras nos mamilos, mas isso não é contraindicado se forem seguidas medidas de prevenção, como a vacinação do recém-nascido contra a hepatite B;
  • Transfusão de sangue ou hemoderivados, algo que era mais comum no passado e hoje é considerado raro.

O diagnóstico das hepatites virais é realizado na Atenção Primária à Saúde- atendimento básico realizado nos postos de saúde, enquanto o tratamento é oferecido nos Serviços de Atendimento Especializado.

As hepatites A, D e E são diagnosticadas por exames de sangue, enquanto as hepatites B e C podem ser detectadas por testes rápidos disponíveis nos serviços de saúde. Além disso, a hepatite B pode ser diagnosticada durante o pré-natal.

Palavra de Especialista

Hepatites virais: medidas preventivas e diagnóstico precoce podem salvar vidas

Por Jaqueline Ribeiro da Silva*

As hepatites virais são um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo, mas nos últimos anos tivemos grandes avanços em relação a elas e se torna uma coisa importante falar sobre o assunto para que possamos evitar complicações e para orientarmos sobre medidas de prevenção e vacinas para aquelas que existem.

No Brasil, as hepatites virais mais comuns são causadas pelos vírus A, B e C. Existem ainda, com menor frequência, o vírus da hepatite D (mais comum na região Norte do país) e o vírus da hepatite E, que é menos frequente no Brasil, sendo encontrado com maior facilidade na África e na Ásia.

Estes vírus causam uma infecção que prejudica o fígado levando a alterações leves, moderadas ou graves. Na maioria das vezes são infecções silenciosas, ou seja, não apresentam sintomas. As infecções sintomáticas agudas podem se manifestar com cansaço, febre, mal-estar, tontura, náuseas, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura cor de coca-cola e fezes claras.

Algumas destas podem se tornar crônicas (hepatites B e C) e evoluir por décadas sem o devido diagnóstico. O avanço da infecção compromete o fígado sendo causa de fibrose avançada ou de cirrose, que podem levar ao desenvolvimento de câncer e necessidade de transplante do órgão. Todas são causadas por vírus diferentes e podem ser transmitidas de diferentes maneiras.

Hepatite A

A Hepatite A é uma infecção causada pelo vírus A (HAV) da hepatite, também conhecida como “hepatite infecciosa”. Na maioria dos casos, a hepatite A é uma doença de caráter benigno, contudo, o curso sintomático e a letalidade com possível infecção fulminante aumentam com a idade.

A transmissão da hepatite A é fecal-oral (contato de fezes com a boca). As medidas de prevenção contra a hepatite A incluem :

  • lavar as mãos depois de ir ao banheiro, trocar fraldas e tocar no lixo ou na roupa suja;
  • lavar as mãos antes de preparar alimentos e comer, não beber leite não pasteurizado ou alimentos feitos com ele;
  • lavar bem as frutas e vegetais antes de comê-los;
  • lavar as mãos, facas e tábuas de corte depois de tocarem em alimentos crus;
  • manter a geladeira mais fria que 40°F (4,4°C) e o freezer mais frio que 0°F (-17,8°C);
  • cozinhar a carne e os frutos do mar até ficarem bem passados;
  • cozinhar os ovos até a gema ficar firme.

A vacina contra a hepatite A é altamente eficaz e segura e é a principal medida de prevenção contra a hepatite A.

Hepatite B

A Hepatite B pode ser transmitida da mãe para o filho durante a gestação ou durante o parto, sendo esta via denominada de transmissão vertical, pelo sangue e principalmente pelo sexo.  Na transmissão de mãe para filho é importante o diagnóstico porque existem medidas que podem ser realizadas tanto na mãe quanto no feto que diminuem muito esta transmissão.

A Hepatite B crônica não tem cura. Entretanto, o tratamento disponibilizado no SUS objetiva reduzir o risco de progressão da doença e suas complicações, especificamente cirrose, câncer hepático e morte.

A principal forma de prevenção da infecção pelo vírus da hepatite B é a vacina, que está disponível no SUS para todas as pessoas não vacinadas, independentemente da idade. Outras formas de prevenção devem ser observadas, como:

  • usar camisinha em todas as relações sexuais;
  • não compartilhar objetos de uso pessoal, como lâminas de barbear e depilar, escovas de dente, material de manicure e pedicure;
  • não compartilhar equipamentos para uso de drogas, confecção de tatuagem e colocação de piercings.

Se o indivíduo tem infecção ativa pelo vírus da hepatite B, é possível minimizar as chances de transmissão para outras pessoas. Para isso, as pessoas com infecção devem:

  • ter seus contatos sexuais e domiciliares e parentes de primeiro grau testados para hepatite B;
  • não compartilhar instrumentos perfurocortantes e objetos de higiene pessoal ou outros itens que possam conter sangue,
  • cobrir feridas e cortes abertos na pele,
  • limpar respingos de sangue com solução clorada e
  • não doar sangue ou esperma.

Hepatite C

A Hepatite C é um processo infeccioso e inflamatório causado pelo vírus C da hepatite e que pode se manifestar na forma aguda ou crônica, sendo esta segunda a forma mais comum. A hepatite crônica pelo HCV é uma doença de caráter silencioso que evolui sorrateiramente e se caracteriza por um processo inflamatório persistente no fígado. Aproximadamente 60% a 85% dos casos se tornam crônicos e, em média, 20% evoluem para cirrose ao longo do tempo.

A transmissão do HCV pode ser por:

  • sangue (principal forma) que pode acontecer através do contato com sangue contaminado, pelo compartilhamento de agulhas, seringas e outros objetos para uso de drogas (cachimbos),
  • reutilização ou falha de esterilização de equipamentos médicos ou odontológicos,
  • falha de esterilização de equipamentos de manicure,
  • reutilização de material para realização de tatuagem, procedimentos invasivos (ex: hemodiálise, cirurgias, transfusão) sem os devidos cuidados de biossegurança e uso de sangue e seus derivados contaminados.

A transmissão também pode ocorrer através de relações sexuais sem o uso de preservativos (menos comum) e transmissão de mãe para o filho durante a gestação ou parto (menos comum).

O tratamento da hepatite C é feito com os chamados antivirais de ação direta (DAA), que apresentam taxas de cura de mais 95% e são realizados, geralmente, por 8 ou 12 semanas. O tratamento da hepatite C é feito com diferentes medicamentos que são uma combinação de dois ou mais medicamentos. Os medicamentos vêm em forma de comprimidos. O tratamento geralmente dura de 2 a 3 meses e apresentam taxas de cura de mais 95%. Não existe vacina contra a hepatite C.

Para evitar a infecção é importante:

  • não compartilhar com outras pessoas qualquer objeto que possa ter entrado em contato com sangue (seringas, agulhas, alicates, escova de dente, etc),
  • usar preservativo nas relações sexuais,
  • não compartilhar quaisquer objetos utilizados para o uso de drogas e
  • toda mulher grávida precisa fazer este exame.

*Infectologista da Unimed Araxá

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