Os eventos climáticos extremos de 2024 no Brasil, como as enchentes no Rio Grande do Sul e as queimadas na Amazônia e no Pantanal, reforçam a urgência de buscar soluções para um problema que é global. Estudos indicam que eventos climáticos extremos afetam cerca de 189 milhões de pessoas por ano, sendo que nos países em desenvolvimento estão 79% das mortes registradas desde 1991.

Os dados foram apresentados pela ministra Nísia Trindade nesta quarta-feira (30), em reunião do G20 Saúde, no Rio de Janeiro. Ela ainda citou dados sobre a infraestrutura de saúde nas Américas, onde 67% das unidades de saúde estão em áreas de risco e, onde, na última década, cerca de 24 milhões de pessoas ficaram sem acesso a cuidados devido a danos estruturais causados por desastres climáticos.

Ao discutir a necessidade de justiça climática, a ministra ressaltou que, embora os países de baixa renda sejam os mais vulneráveis aos impactos climáticos, eles respondem por menos de 1% das emissões globais de CO2. “Enquanto isso, os países de alta renda são responsáveis por mais de 80% das emissões”, pontuou a ministra.

Ela destacou a interseção entre as mudanças climáticas e os impactos na saúde pública, defendendo um modelo de ação que integre os princípios de equidade e justiça social. “Mudança do clima e saúde foram prioridades definidas para os trabalhos a serem realizados durante a presidência brasileira do G20. Minha percepção é de que esse assunto se faz ainda mais relevante diante do aumento preocupante na frequência desses eventos extremos”, complementou.

Nísia reforçou a urgência de tratar a saúde como um eixo central na pauta climática global. Segundo ela, os impactos das mudanças climáticas tendem a agravar desigualdades já existentes, especialmente em países em desenvolvimento.

Apoio de organizações para enfrentar as desigualdades

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou o compromisso de enfrentar as desigualdades e proteger as populações, principalmente aquelas em maior situação de vulnerabilidade social. Nísia defendeu, ainda, a necessidade de desenvolver políticas inter e multissetoriais que abordem os determinantes sociais da saúde. “

A equidade em saúde é uma das prioridades do Grupo de Trabalho da Saúde e um princípio transversal em todas as discussões que estamos promovendo. Acreditamos na capacidade da colaboração entre finanças e saúde para tornar nossa sociedade mais resiliente. A saúde é um investimento que ajudará a proteger nossas sociedades e impulsionar nossas economias”, defendeu.

A jornada de debates e trocas técnicas contou ainda com a colaboração de organizações como o Banco Mundial, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e a Fundação Rockefeller.

Precisamos do apoio de vários órgãos para avançar no bem-estar holístico de nossas populações, com foco naqueles mais vulneráveis. Além de ser uma questão de justiça social, vemos resultados positivos na economia e na sociedade em geral quando nosso povo é saudável”, disse a ministra.

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Ministra da Saúde destacou que os impactos das mudanças climáticas tendem a agravar desigualdades já existentes e defendeu um modelo de ação que integre princípios de justiça social

Segundo ela, essa realidade exige ações globais coordenadas para que nenhum país enfrente a crise sozinho. “Precisamos estar preparados para enfrentar essa crise de saúde de forma urgente e eficaz, promovendo um modelo de ação global e solidária que proteja a todos, tendo a equidade como princípio norteador”, acrescentou.

Ela defendeu, ainda, que os países desenvolvidos têm uma “oportunidade valiosa” de apoiar a transformação climática global, alinhando-se à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima e ao Acordo de Paris.

A reunião também foi palco para a proposta de uma declaração adicional, elaborada pelo Brasil, voltada para a interseção entre saúde e clima. Segundo Trindade, o texto aborda a necessidade de políticas públicas que considerem os determinantes sociais e climáticos da saúde e reforça a importância da participação social, especialmente de grupos vulnerabilizados, como mulheres e comunidades de baixa renda.

Nossa intenção é avançar significativamente na agenda global de saúde, enfatizando a interseção entre as duas pautas, com foco na redução das desigualdades e no fortalecimento da resiliência dos sistemas de saúde”, afirmou.

A ministra destacou ainda a necessidade de proteger profissionais de saúde e pacientes dos impactos climáticos. Nísia Trindade também mencionou a meta de incluir a saúde como tema fundamental na discussão sobre mudanças climáticas na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém, no Pará.

Queremos construir um caminho para colocar a saúde como aspecto fundamental na discussão sobre mudança do clima rumo à COP30. Temos uma oportunidade para intensificar a cooperação entre governos e o dever moral de aproveitá-la”, concluiu.

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