A Doença de Alzheimer, principal causa de demência no mundo, afeta mais de 2 milhões de brasileiros e pode triplicar até 2050. Caracterizada pela perda progressiva da memória, linguagem, raciocínio e autonomia, ainda carrega estigmas e desafios no diagnóstico precoce. A condição já é a sétima principal causa de morte no mundo e, em alguns países, aparece como a principal causa de óbito.

Neste domingo, dia 21 de setembro, é comemorado o Dia Mundial da Doença de Alzheimer e o Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer, uma data que oferece a oportunidade de aumentar a compreensão pública e fortalecer o compromisso com a pesquisa, o cuidado e o apoio às pessoas afetadas por esta comorbidade.

Descoberta por Alois Alzheimer em 1906, a enfermidade, que leva o seu sobrenome, apresenta-se com um quadro de demência, por meio da perda progressiva de memória, orientação e linguagem, causada pela morte das células cerebrais. O Alzheimer diminui a capacidade de viver com autonomia e independência, e de estabelecer relações sociais.

De acordo com a federação Alzheimer ‘s Disease International, em escala mundial, o número de pessoas com a doença poderá chegar a 74,7 milhões em 2030 e a 131,5 milhões em 2050, devido ao envelhecimento populacional. No Brasil, 1,757 milhão de pessoas vivem com algum tipo de demência, sendo que 55% dos casos, cerca de 966,5 mil, correspondem ao Alzheimer.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a população do mundo que possui algum tipo de demência é de aproximadamente 55 milhões, com 70% dos casos classificados como doença de Alzheimer. No Brasil, o levantamento de 2024 do Ministério da Saúde aponta que 1,2 milhão de brasileiros convivem com a doença.

As projeções destes órgãos, no entanto, geram ainda mais preocupação. De acordo com a OMS, estima-se que, nos próximos 25 anos, o número de pessoas com algum nível de demência pode saltar para até 152 milhões de diagnósticos. O Brasil acompanharia este salto, com um aumento de até 206% nos casos de Alzheimer, chegando 5,7 milhões de casos até 2050.

Em um contexto no qual o Brasil conta, hoje, com cerca de 33 milhões de pessoas acima dos 60 anos, de acordo com o IBGE, o tratamento adequado da doença de Alzheimer e outros tipos de demência torna-se cada vez mais relevante.

Neste mês, acontece o Setembro Lilás, campanha que No Brasil, a data representa o ponto alto do movimento Setembro Lilás, que tem papel estratégico para ampliar o conhecimento sobre a condição, incentivar hábitos preventivos e oferecer suporte a pacientes, familiares e cuidadores. A iniciativa promove a conscientização sobre o diagnóstico precoce e qualidade de vida, tratamentos e cuidados,

Sinais do Alzheimer

A demência é caracterizada pelo declínio cognitivo progressivo que pode afetar memória, linguagem, funções executivas, percepção espacial e provocar sintomas comportamentais e neuropsiquiátricos.

O médico geriatra e diretor da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Marcos Cabrera, afirma que o Alzheimer pode começar de diversas maneiras, mas a forma mais comum é a alteração na memória.

Inicia-se, por exemplo, quando o indivíduo tem uma dificuldade de memorizar, de lembrar de fatos recentes, de nomes importantes, coisas do dia a dia. Mas nem sempre é só a alteração da memória. Nós chamamos isso de domínios cognitivos. Eu posso também ter o início da doença com o comprometimento de um domínio, por exemplo, como a localização espacial. Outro domínio que pode ser comprometido logo de cara é a linguagem.”

A doença de Alzheimer no dia a dia

Leonardo Lopes, coordenador de geriatria da Afya Educação Médica Curitiba, apresenta alguns pontos para entender como uma pessoa diagnosticada com a doença de Alzheimer pode ter qualidade de vida e bem-estar, para amenizar os sintomas.

O paciente precisa estar inserido dentro de um ambiente em que as pessoas próximas compreendam qual é a sua dificuldade, sem exigir dele algo que ele não consiga mais oferecer ou o contrário, que é colocá-lo de lado como uma pessoa inútil. O conceito correto aqui é o da adaptação, da calibração para uma realidade de vida em que o idoso se insira em seu ambiente social, familiar e comunitário dentro dos limites possíveis”.

Lopes ainda reforça que a necessidade de separar o ser humano da doença que ele possui, isto é, não reduzir o paciente ao seu diagnóstico, criando um estigma que não o ajuda em momentos de lucidez que sim, existem.

Isso funciona como um carimbo, em que todo mundo entende que a pessoa não pode participar de nada, que tudo o que ela diz não faz sentido e que há um esquecimento total. Isso é ruim porque é impreciso: os défcits de memória não acontecem em 100% do tempo e, em algum momento, o idoso vai perceber a exclusão”, conta o geriatra da Afya Curitiba.

Segundo o profissional, a melhor maneira de convivência com a doença, tanto para o paciente quanto para seus familiares e amigos, é o acolhimento adequado, o que inclui o desenvolvimento de atividades que mantenham o idoso com um bom nível de atividade diária.

Da mesma forma que a exclusão é percebida pelo paciente, o acolhimento também é. A doença, por si só, causa sofrimento e solidão, então é importante que a família se antecipe a isso e, por exemplo, mantenha a pessoa ocupada com algumas atividades no dia a dia, pois isso será excelente para o seu convívio com a doença. Quanto mais ativa e acolhida é a pessoa, melhor será a sua qualidade de vida”, observa o geriatra.

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Como combater a doença de Alzheimer?

Se, até pouco tempo atrás, a postura médica em relação à doença de Alzheimer se baseava essencialmente em tratamentos que facilitassem a convivência do paciente com o quadro clínico, hoje já há uma nova esperança; em abril deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou os testes do medicamento Kisunla, que atua no combate à doença.

Mesmo sem previsão de comercialização, o neurologista da Afya Educação Médica Belo Horizonte, Drusus Perez Maquez, ressalta que é preciso uma preparação para que o medicamento represente, uma mudança de paradigma sobre a doença.

Pelas informações às quais temos acesso, o medicamento age fundamentalmente em fases pré-clínicas, que é a doença em estágio inicial. Portanto, precisamos aumentar a nossa capacidade de realizar diagnósticos precoces, o que exige uma estrutura mais complexa, pois ainda estamos detectando muitos casos de forma tardia. Mas é uma esperança”, afirma Marquez.

Medicamentos e diagnósticos precoces, porém, não eliminam a necessidade de prevenção e cuidados necessários para evitar, ao máximo, as chances de manifestação da doença.

O principal fator de risco é a idade. Mas, para além dela, o fator genético também deve ser considerado, pois sabemos que uma parte importante do risco de Alzheimer vem da família. Outros fatores ainda incluem o diabetes, a pressão alta, o sedentarismo e também o uso de cigarro e bebida alcoólica”, reforça o neurologista.

Tratamento do Alzheimer

Outro ponto que o diretor da SBGG evidencia é o tratamento. Segundo ele, por ainda não existir um medicamento que cure a demência, o tratamento é procurar viver bem. Ele revela que é importante garantir que as pessoas acometidas com o Alzheimer tenham uma boa alimentação e que vivam em um ambiente adequado, com suporte familiar ou dos cuidadores, a fim de evitar maiores dificuldades e sofrimentos.

Dr. Cabrera destaca o papel do médico geriatra no acompanhamento e tratamento do Alzheimer. “A primeira função dele é promover um melhor envelhecimento humano. Segundo, é definir qual tipo de enfermidade está afetando a pessoa idosa, sendo que o Alzheimer é a principal causa de demência. Depois, é fazer com que o indivíduo lide com essa nova realidade cognitiva, da melhor maneira possível, tratando de maneira adequada, tanto farmacologicamente como não farmacologicamente, e acolhendo e orientando os familiares ou cuidadores em relação a isso”, relata.

Prevenção e tratamento

Apesar de seu impacto, há estratégias que ajudam a reduzir o risco do surgimento da doença ou a retardar seu avanço, como a prática regular de exercícios físicos, a adoção de uma alimentação saudável, o controle do colesterol e da pressão arterial, além da manutenção de vínculos sociais e atividades significativas. Especialistas lembram que tudo o que faz bem ao coração faz bem também ao cérebro.

Dr. Cabrera reitera que o Alzheimer não há cura e que a prevalência é maior no sexo feminino e em pessoas com histórico familiar. No entanto, há fatores que podem retardar a demência, como controlar bem o diabetes, o nível do colesterol, o nível da hipertensão, ser ativo fisicamente e mentalmente, praticando a sociabilidade.

Outra questão é a escolaridade na fase infantil. Quando nós temos uma sociedade onde se tem mais contato com a escolaridade, com mais utilização do cérebro, fazendo mais conexões cerebrais, teremos menos chance de ter Alzheimer na velhice”, afirma.

De acordo com a neurologista Mariana Vidal, do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), hábitos saudáveis, vínculos sociais e atividades cognitivas têm efeito protetor sobre o cérebro, ajudando a retardar o declínio cognitivo e promovendo bem-estar físico e emocional.

Entre as recomendações estão: manter uma rotina de sono adequada, praticar atividade física, ter uma alimentação equilibrada, estimular a mente com aprendizado contínuo e preservar relações sociais. Ela também alerta para os riscos do uso excessivo de telas e da rotina estressante, que podem comprometer a saúde cerebral. “O futuro da sua saúde cerebral começa com hábitos que você escolhe hoje. Informação, atenção e carinho fazem toda a diferença nessa jornada”, ressalta.

Metas e objetivos diários podem reduzir riscos e retardar progressão da doença

Doutora em Gerontologia fala sobre envelhecimento e propósito de vida para vencer o Alzheimer

Entre os fatores que contribuem para reduzir os riscos e até retardar a progressão da doença, ganha destaque o propósito de vida. Pesquisas mostram que manter sonhos, metas e objetivos diários não apenas estimula memória e atenção, mas também fortalece a autoestima, a resiliência e o envelhecimento saudável.

Ter algo que motive as pessoas a viverem, um brilho nos olhos, um objetivo para o dia a dia, é o que chamamos de propósito de vida”, explica a doutora em Gerontologia Cristina Cristovão Ribeiro.

Segundo Cristina, o propósito de vida, entendido como a presença de objetivos, metas e motivos para viver, é considerado um fator de proteção essencial. Estudos já comprovaram que ele pode prevenir o surgimento das demências e, mesmo entre pessoas já diagnosticadas, contribui para reduzir os efeitos da doença, amenizando sintomas e retardando seu agravamento.

Idosos que têm um propósito de vida tendem a ser mais motivados, otimistas, resilientes e com maior autoestima, o que favorece a estimulação cognitiva, a melhora da memória, da atenção e da concentração, colaborando de forma significativa para um envelhecimento saudável e com qualidade”, completa

Segundo ela, o Setembro Lilás, portanto, vai além da conscientização sobre o Alzheimer: é também um convite para refletir sobre como queremos viver a velhice e quais caminhos podemos adotar desde já para garantir um futuro com mais saúde, significado e dignidade.

A especialista em gerontologia é organizadora do livro Propósito de vida da pessoa idosa (Summus Editorial). A obra – destacada no Setembro Lilás 2024 na seção Ler Faz Bem do portal Vida e Ação – reúne artigos de 13 especialistas, venceu o Prêmio Jabuti Acadêmico e preenche uma lacuna nos estudos brasileiros sobre envelhecimento e propósito de vida.

Com Assessorias

 

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