A maternidade é um dos desafios mais transformadores da vida de uma mulher. Quando falamos de uma mãe atípica, essa jornada se torna ainda mais intensa, repleta de aprendizados e uma necessidade constante de adaptação.
Um ponto crítico enfrentado por muitas dessas mães é a falta de suporte. De acordo com um estudo do Instituto Mano Down, cerca de 73% dos pais abandonam suas famílias em até cinco anos após o nascimento de uma criança com deficiência intelectual.
Essa realidade intensifica a carga emocional e financeira sobre as mães, que precisam lidar sozinhas com consultas médicas, terapias, processos burocráticos e a inclusão escolar dos filhos. A sobrecarga pode levar a problemas graves como ansiedade, depressão e burnout.
Diante de tanta sobrecarga, as mães atípicas enfrentam muitas aflições que causam insegurança, medo, cansaço, impotência e solidão”, alerta Alessandra Oliveira, mãe de um menino com trissomia 21 (síndrome de Down) e uma das coautoras do livro “Maternidade Atípica” (Literare Books International).
Por isso, a inteligência emocional se torna uma ferramenta essencial para a saúde mental dessas mulheres. A prática da atenção plena (mindfulness) e o autocuidado são algumas das estratégias recomendadas para manter o equilíbrio emocional e garantir que a mãe tenha condições de oferecer o melhor de si ao filho.
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Da incerteza do diagnóstico à luta pela educação inclusiva
Uma mãe atípica vivencia uma situação ainda mais dinâmica, pois precisa lidar com um mundo desconhecido e explorar novas alternativas trazidas pela incerteza que o diagnóstico do seu filho representa”, ressalta Alessandra.
A incerteza é um dos primeiros sentimentos a se fazer presente, especialmente quando a família recebe um diagnóstico que desafia expectativas e reformula sonhos. Para Alessandra, a aceitação é um processo individual e singular. A duração desse luto varia para cada família, e respeitar esse tempo é essencial para que a mãe possa viver plenamente sua maternidade.
O primeiro desafio é aceitar o sentimento de luto e frustração que o diagnóstico apresenta: é preciso superar a expectativa inicial do ‘filho sonhado’ para dar lugar ao ‘filho concebido’”, explica a autora.
O amor supera obstáculos
Apesar dos desafios, a maternidade atípica também é repleta de momentos de felicidade e realização. “Celebre o progresso do seu filho, pois cada passo, mesmo pequeno, é uma conquista. Torne a jornada uma festa de amor e apoio incondicional”, encoraja Alessandra.
Para ela, o amor supera os obstáculos e transforma a relação entre mãe e filho em um aprendizado constante. A sociedade tem um papel fundamental nesse processo. Criar redes de apoio, oferecer empatia e valorizar a diversidade da maternidade são atitudes que podem tornar o mundo mais inclusivo e acolhedor.
O caminho da maternidade atípica é repleto de desafios, mas também de grandes descobertas e aprendizados. Que possamos, como sociedade, oferecer o suporte necessário para que essas mães possam exercer seu papel com dignidade, respeito e amor”, conclui Alessandra.
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Palavra de Especialista
Desafios e conquistas na educação inclusiva: uma jornada de amor e resistência
Por Alessandra Oliveira (*)
A educação inclusiva é um tema que suscita debates, desperta emoções e, sobretudo, exige ações práticas e consistentes. Como mãe atípica, tenho vivenciado diariamente os desafios e as conquistas dessa luta. Minha experiência pessoal me ensina que a inclusão escolar não é apenas uma questão de direito, mas também uma jornada coletiva de amor, resistência e transformação social.
Em ‘Maternidade Atípica’, enfatizo a importância da saúde mental para mães que enfrentam os inúmeros desafios da maternidade atípica. Para cuidar de nossos filhos, precisamos primeiro cuidar de nós mesmas. Essa é uma verdade inegociável. Rede de apoio e práticas de autocuidado são pilares fundamentais dessa jornada. Sem esses elementos, o caminho se torna ainda mais árduo e muitas vezes insustentável.
Recentemente, tive o privilégio de ver uma de minhas crônicas, intitulada “E essa tal educação inclusiva?”, ser premiada em Boston. Esse reconhecimento foi mais do que uma alegria pessoal; foi um marco que reforça a relevância do tema e a necessidade de ampliarmos a discussão sobre inclusão escolar.
A crônica relata, de forma sincera, os desafios que enfrentei ao tentar matricular meu filho com Trissomia 21 em uma escola renomada. A instituição, que se orgulhava de sua excelência acadêmica, afirmou não estar preparada para receber alguém “incapaz de acompanhar o ritmo de vestibular incutido no ensino infantil”. Essa frase, além de dolorosa, reflete uma realidade enfrentada por muitas famílias no Brasil e no mundo.
A educação inclusiva preconiza que as necessidades individuais sejam atendidas, garantindo o direito de todos a uma educação de qualidade. No entanto, entre o discurso da lei e a prática cotidiana, há um abismo repleto de barreiras estruturais, falta de recursos humanos capacitados e carência de ferramentas pedagógicas adaptadas. Essa lacuna impede que muitos alunos com deficiência tenham acesso pleno ao ambiente escolar, perpetuando a exclusão que a própria inclusão busca combater.
Luta por educação inclusiva vai além do acesso à escola
Minha experiência, reconhecida por essa premiação, é também um testemunho das lutas e aspirações de tantas mães atípicas que, diariamente, enfrentam preconceitos e limitações. Mais do que buscar a inclusão, queremos a valorização e o respeito para nossos filhos. Esse reconhecimento é uma prova de que nossas vozes, histórias e esforços têm o poder de sensibilizar e transformar.
A luta por uma educação inclusiva vai além de garantir o acesso à escola. Trata-se de construir um ambiente onde cada criança, independentemente de suas condições, seja acolhida, respeitada e incentivada a se desenvolver em todo o seu potencial. É uma luta coletiva que exige a participação de todos: pais, professores, gestores e sociedade como um todo.
Que o reconhecimento do meu trabalho inspire outras famílias a continuar lutando. Que sigamos em frente, empoderadas e determinadas, rumo a um futuro mais justo, onde a inclusão seja uma prática viva, e não apenas uma promessa distante.
*Mestranda em Intervenção Psicológica no desenvolvimento e na Educação. Coautora dos livros “Educação Inclusiva: Diálogos, experiências e reflexões” (Inovar, 2023); “Educação Infantil: Brincar, descobrir e aprender” (Inovar, 2023); “Empodere-se” (Elas, 2023); “United Writers – And what about this inclusive education?” (Literarte, 2024); “Maternidade Atípica: uma jornada de amor, aceitação e crescimento” (Literare Books, 2024)
Ler Faz Bem
Mais sobre o livro ‘Maternidade Atípica’
“Maternidade Atípica” é uma leitura essencial para mães, pais, educadores, terapeutas e qualquer pessoa interessada em compreender a pluralidade da parentalidade contemporânea. A obra aborda essa realidade no capítulo “Não há nada de errado com você!”, trazendo reflexões sobre os desafios e as descobertas que acompanham esse caminho.
Do diagnóstico à aceitação, da superação ao autoconhecimento, cada página destaca como o amor materno é, por essência, revolucionário. Estas mães, com suas histórias singulares, mostram que estão na linha de frente de uma revolução silenciosa que educa, acolhe e transforma.
É, sobretudo, uma obra que valida e celebra a maternidade como uma jornada única e extraordinária, independentemente dos moldes ou expectativas. Seja como fonte de inspiração, conforto ou aprendizado, este livro promete tocar o coração de seus leitores, lembrando que, mesmo nos momentos mais solitários, há uma rede de mães atípicas dispostas a compartilhar suas histórias e oferecer um lugar de acolhimento e compreensão.
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