Apesar de sempre procurar manter uma dieta bem equilibrada, há anos luto para manter o colesterol na faixa desejável: abaixo de 200 mg/dL. O fator genético é a principal causa. E, infelizmente, minha filha recebeu essa triste herança. Nossas taxas praticamente se equiparam. E a luta para mantê-las controladas, com dieta e atividade física, é, com certeza, para sempre.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 40% dos brasileiros têm colesterol acima do limite máximo (240 mg/dL), responsável por mais de 2,5 milhões de mortes no mundo, 200 mil no Brasil. E cada vez mais jovens estão passando a enfrentar o problema. ”Aos 18 anos, estava acima do peso e decidi fazer regime. Quando fui ao endocrinologista, descobri que estava com colesterol alto”, afirma a jornalista Karla Queiroz, de 38 anos.

Vários estudos apontam o colesterol alto como a principal causa de doenças cardiovasculares, que afetam cerca de 17,5 milhões de pessoas no mundo. E 57 milhões de pessoas, potencialmente, podem sofrer um infarto ou Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico, o conhecido derrame cerebral. Em 2015, o Brasil registrou mais de 346 mil falecimentos decorrentes de problemas cardíacos.

Nesta segunda-feira (8) em que se promove o Dia Nacional de Combate ao Colesterol, instituído pelo Ministério da Saúde, o blog Vida & Ação levanta a questão: afinal, este inimigo invisível aumenta ou não o risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares?

Com base em inúmeras pesquisas, o cardiologista Marcelo Assad, coordenador do Serviço de Prevenção Cardiovascular e Aterosclerose do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), garante que sim: “Infartos, acidentes vasculares cerebrais e aneurismas, doença arterial periférica que podem levar o indivíduo a sequelas importantes ou morte, são alguns dos danos provocados pelo colesterol alto”.

A Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj) corrobora e alerta para a principal causa do colesterol elevado: a doença aterosclerótica. Trata-se do depósito de gordura na parede das artérias do organismo, que pode levar à interrupção parcial ou total do fluxo de sangue e causar infarto ou derrame.

Já o presidente do Instituto Nacional de Obesidade e Doenças Crônicas (Ineodoc), Patrick Rocha, garante que é mito.“É preciso compreender que o colesterol não é um vilão, na verdade ele é fundamental para a saúde. O colesterol é essencial para formar hormônios que são mensageiros e mantêm nossos órgãos funcionando da forma correta. O excesso de informações desencontradas tem levado milhares de pessoas a ingerirem medicamentos e mudarem sua alimentação para pior”.

Pesquisas desmistificam correlação entre colesterol x coração

Rocha lembra que o mito do colesterol passou a ser amplamente disseminado nas últimas décadas após a publicação de um estudo desenvolvido pelo médico americano Ancel Keys, em 1970, em que comparava a taxa de mortalidade por doenças cardíacas com a quantidade de gordura ingerida pela população, buscando demonstrar que a taxa de mortalidade era proporcional ao consumo de gordura.

A origem do mito do colesterol por ter influenciado mudanças alimentares de gerações. No Brasil, o tema ainda é pouco discutido e quando é, gera polêmica. Segundo ele, como consequência disso, o que se vê é o crescimento das taxas de obesidade e diabetes na população, em virtude, principalmente, da priorização de carboidratos simples alimentação e exclusão das chamadas gorduras do bem.

Após esse estudo, foram realizados inúmeros outros, entre eles o ‘Framingham Heart Study’, um dos mais respeitados no assunto por ter acompanhado diversas gerações. Neste estudo, comprovou-se o grande equívoco cometido por Keys: eles concluíram que não havia nenhuma relação comprovável entre a ingestão de gorduras e as doenças cardíacas.

O médico cita ainda pesquisas mais recentes publicadas por universidades e centros de pesquisa referenciais têm confrontado está teoria e apresentado novas evidências sobre o assunto. Um destes estudos, realizado com cerca de 70 mil pessoas em junho desde ano pelo médico dinamarquês Uffe Ravnskov, da Universidade de Copenhague, aponta que não há uma conexão direta entre colesterol alto e problemas de coração.

Sedentarismo e má alimentação contribuem

Apesar da controvérsia, é preciso alertar a população para a importância da adoção de um estilo de vida saudável e, em especial, da mudança dos hábitos alimentares e controle do teor de gorduras para manter o controle do colesterol. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o sedentarismo é rotineiro em cerca de 46% da população acima de 18 anos.

Aproximadamente 50% dos habitantes encontram-se com sobrepeso, situação que predispõe à elevação dos níveis de colesterol e triglicérides no sangue, aumentando os riscos de diabetes e hipertensão. Para crianças e adolescentes com má alimentação, o risco de infarto e desenvolvimento de problemas cardíaco entre 25 a 30 anos é grande.

Dados do IBGE indicam que adolescentes entre 14 e 18 anos são os que mais consomem alimentos com alto índice de gordura ruim. Nas crianças e adolescentes, o colesterol alto é mais relacionado ao sedentarismo e má alimentação, mas também tem o fator genético ou histórico familiar.

“Pessoas que têm o fator hereditário acabam usando isso como desculpa para não fazer o que é preciso: se exercitar e ter uma dieta balanceada. Isso ajuda muito na melhoria do colesterol”, explica a nutricionista Cynara Riech. De acordo com ela, 70% de seus pacientes são jovens, entre 16 e 20 anos, que chegam em seu consultório com problemas de saúde ocasionados por má alimentação e falta de prática de exercício: “A maioria destes pacientes está ou com glicose alterada, ou colesterol alterado ou os dois. São jovens que não cuidam da alimentação, comem qualquer coisa e a grande maioria não faz atividade física”.

De acordo com o cardiologista e presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), Ibraim Masciarelli Pinto, “para manter os níveis de colesterol em um padrão que não prejudique a saúde, é recomendado a mudança dos hábitos, incluindo a prática diária de atividades físicas, a não ingestão de alimentos ricos em gorduras e industrializados, além de aumentar a quantidade de vegetais na dieta”.

O presidente da Socerj, Ricardo Mourilhe, adverte que além de ser controlado com um estilo de vida saudável, alimentação adequada, exercícios físicos e combate ao estresse, é preciso controle de outros fatores de risco cardiovascular como elevada circunferência abdominal e hipertensão arterial. “Para reduzir o LDL, é indicado o consumo de gorduras saudáveis, encontradas nos óleos vegetais, como girassol, milho, soja; nos peixes gordurosos, como salmão, atum e sardinha; na semente de abóbora e linhaça”, recomenda.

Como aumentar a presença das gorduras do bem

De acordo com Patrick Rocha, o medo das gorduras saudáveis é considerado um dos maiores obstáculos para quem quer emagrecer e se afastar da obesidade e doenças crônicas. E destaca que tanto nas pesquisas mais recentes quanto nos tratamentos que acompanha é observada a importância de adotar uma alimentação inteligente, rica em gorduras do bem, como as que estão presentes nas carnes e também nos laticínios integrais (iogurte, coalhada, manteiga), além do óleo de coco, azeite de oliva, abacate, ovos e outros.

“O melhor caminho para uma alimentação saudável não tem tanto a ver com a diminuição do colesterol, como muitas vezes tem se tentado estigmatizar. Mas tem a ver, principalmente, com a qualidade das gorduras que são consumidas. É preciso eliminar do dia a dia, pouco a pouco, o açúcar e trigo e adicionar à rotina alimentar gorduras estratégicas para o organismo e proteínas de alto valor biológico”, orientou Rocha.As gorduras nem sempre são ruins, mas é preciso escolher o que consumir. “ Ovos de galinha caipira, óleo de coco, abacate e outros alimentos naturais são indicados para ajudar na prevenção e ainda contribuem no emagrecimento”, aponta Patrick Rocha.“Se comêssemos como nossos avós, teríamos grande melhora.”

O cardiologista, explica, ainda, que água e os alimentos que contêm fibras, como aveia, grãos, vegetais e hortaliças também auxiliam no controle dos níveis de colesterol. Sendo que, o ideal em relação a água, é que a pessoa tome o equivalente de dois a três litros por dia.

A diretora do Departamento de Nutrição da Socesp, Cibele Gonsalves, afirma que, de um modo geral, pessoas com colesterol elevado devem ser estimuladas a prática de uma alimentação equilibrada, evitando ou reduzindo o consumo de gorduras saturadas, encontradas principalmente em alimentos de origem animal, controlar o consumo de gorduras trans, presentes em diversos produtos industrializados. Ela ressalta que reduzir o consumo de carboidratos refinados (açúcar e massas) é essencial, pois esses alimentos contribuem indiretamente na formação de partículas que transportam o colesterol na formação de placas (lesões ateroscleróticas).

“Essas mudanças contribuem para uma vida melhor e mais saudável. O ideal é que as pessoas sejam estimuladas a consumir alimentos integrais (arroz, pães e massas integrais), além do consumo preferencialmente de azeite de oliva, peixes, como sardinha e salmão que são ricos em ômega-3, substituindo a ingestão dos alimentos ricos em gorduras saturadas que prejudicam a saúde do coração”.

Entenda o que é colesterol bom e ruim

O colesterol é uma substância fundamental para o organismo, pois atua na formação das membranas celulares, vitamina D, hormônios e ácidos biliares. Existem dois tipos de colesterol: o LDL (lipoproteína de baixa densidade), considerada a fração mais agressiva e, por isso, conhecido como ‘colesterol ruim’, que entra nas artérias causando entupimento, e o HDL (lipoproteína de alta densidade ou Hight Density Lipoprotein, em inglês), o chamado ‘ bom colesterol’, que remove o LDL da parede das artérias, levando-o de volta ao fígado.

O LDL é apontado em todas as pesquisas como o grande causador da aterosclerose e, consequentemente, das obstruções arteriais. O grande problema é quando as moléculas de LDL circulam em excesso e acabam estacionando na parede das artérias, causando a inflamação, obstrução e contribuindo para a trombose dos vasos, consequentemente evoluindo para uma doença conhecida por aterosclerose e aterotrombose.

Ibraim destaca que realizar exames para saber a dosagem dos níveis de colesterol e triglicérides, conhecer os valores do colesterol, como HDL e LDL, auxilia as pessoas a identificarem alterações metabólicas e a combater as doenças isquêmicas do coração. “É fundamental que a população saiba identificar se a concentração de colesterol está dentro da faixa de normalidade”, afirma o especialista. E reforça também aos profissionais de saúde a necessidade de incluírem nas rotinas clínicas, orientações e exames identifiquem os níveis de colesterol, principalmente quando a avaliação do paciente sugerir um risco individual ou familiar.

Principais causas para o aumento do LDL

São dois os grandes vilões no aumento do índice de LDL: a alimentação incorreta, representada pelo excesso de gordura animal e gorduras trans, e o fator genético, ou seja, de origem familiar. De acordo com o médico Marcelo Assad, algumas pessoas têm o colesterol alto mais por produzirem excessivamente o componente do que pela alimentação incorreta. Ele explica que, em média, 75% das moléculas são geradas pelo fígado, enquanto 25% são provenientes da dieta.

“Algumas pessoas já nascem geneticamente destinadas a serem grandes produtoras dessa molécula ou com distúrbios genéticos em receptores responsáveis pela degradação do colesterol no fígado. Por isso, quem possui parentes diretos com colesterol alto e história familiar de aterosclerose deve ter o colesterol dosado e precisará de remédios da família das estatinas. Recentemente foi liberado no Brasil uma nova classe de drogas biológicas de aplicação subcutânea a cada 15 dias, chamadas inibidores da PCSK9, que podem ser utilizadas principalmente nas populações de muito alto risco que já tiveram algum evento e que só com as estatinas não alcançaram as metas preconizadas”, explica.

De acordo com o cardiologista Marcelo Assad, a ingestão de alimentos que podem elevar o bom colesterol (HDL) auxilia na desobstrução dos vasos sanguíneos, já que essas lipoproteínas retiram o colesterol ruim dos tecidos e conduzem até o fígado, onde é eliminado ou reaproveitado. “Essa ação é o que chamamos de transporte reverso do colesterol, que tem ação anti-aterogênica. Portanto, quanto maior o teor das lipoproteínas HDL ou de alta densidade no sangue, mais se evita a obstrução arterial pela aterosclerose, mas frisando que o objetivo primordial do tratamento deve ser sempre a redução vigorosa do LDL colesterol”, destaca.

Dicas para reduzir índice de LDL no sangue

Marcelo Barros, nutricionista do INC, alerta que o problema está na dieta rica em gorduras saturadas e colesterol, que aumenta os níveis de LDL no sangue. Veja algumas dicas:

– Evitar o consumo de leite integral e seus derivados (queijos, amarelos, manteiga, creme de leite) em excesso, biscoitos amanteigados, croissants, folhados, sorvetes cremosos, embutidos em geral (linguiça salsicha e frios), carnes vermelhas gordurosas, carne de porco (bacon, torresmos), vísceras (fígado, miolo, miúdos) e alguns frutos do mar (camarão e lagosta).

– Um mix de frutas com aveia pelo menos uma vez ao dia pode ajudar a baixar o colesterol ruim (LDL), pois a aveia e as frutas ajudam a diminuir a reabsorção docolesterol. Isso ocorre devido à grande quantidade de fibras solúveis e insolúveis. Ex: morango, abacaxi e manga com aveia.

– Os alimentos integrais também ajudam devido ao alto teor de fibras, assim como algumas sementes. Ex: Psyllium e linhaça.

– Já o azeite extra virgem pode contribuir para aumentar o HDL, mas não deve ser exposto a altas temperaturas. Ex: pão integral regado a azeite e orégano.

– Peixes de água fria, como a truta e o salmão, além da sardinha, corvina e anchova, tainha e linguado que também são indicados pelo alto teor de Ômega 3.

– Ingerir de uma a duas unidades ao dia de oleaginosos como nozes, amêndoas e castanha do Pará, sem serem salgados.

– Para quem já consome vinho naturalmente, ingerir de uma a duas taças do tinto por dia.

– Está comprovado que toda e qualquer atividade física regular e continuada também ajuda a aumentar o HDL, o bom colesterol.

Veja algumas das principais dúvidas

Confira entrevista da presidente do Departamento de Hipertensão da Socerj, Maria Eliane Campos Magalhães, sobre o assunto:

– O que é a hipercolesterolemia familiar?

A hipercolesterolemia familiar (HF) é uma forma geneticamente determinada de elevação do colesterol. Existem duas formas de HF: a homozigótica (mais grave e mais rara, que afeta um em cada um milhão de indivíduos), quando o caso índice herda o polimorfismo genético de ambos os pais, e a heterozigótica (menos grave e menos rara – um a cada 1,5 mil ou 250 indivíduos afetados), quando a herança vem de apenas um dos genitores.

– É possível controlar ou tratar essa doença? Como?

Reduzindo as taxas do colesterol com medidas de hábito e estilo de vida (hábitos saudáveis de vida) e principalmente com as medicações hipolipemiantes, incluindo as estatinas e principalmente com as novas classes disponíveis de medicamentos como os inibidores da PCSK 9, Mipomersen, Lomitapide, que reduzem substancialmente o colesterol. muitas vezes sendo necessário usar combinações.

– Quais são os sintomas dessa doença?

Não há sintomas específicos, apenas surgirão se as doenças decorrentes das altas taxas de colesterol já estiverem presentes. O diagnóstico é feito pelas taxas elevadas de colesterol no sangue e pela presença, de sinais físicos como xantomas, xantelasmas e arco corneal nesses indivíduos, que geralmente são jovens e mesmo crianças.

– Quando não tratada, quais são as consequências?

As mesmas da hipercolesterolemia não familiar. Depósito de colesterol nos vasos com potencial desenvolvimento de obstruções em diversas artérias, como as artérias coronarianas, com consequente angina e/ou infarto, entre outras complicações.

Ação de prevenção na Central do Brasil

Nesta segunda-feira (8), das 8 às 14h, Dia Nacional de Controle do Colesterol Elevado, a estação Central do Brasil da SuperVia será a sede no Rio de Janeiro de uma campanha nacional da Sociedade Brasileira de Cardiologia para chamar a atenção sobre a importância do tema. Haverá medição do colesterol dos passageiros e distribuição da cartilha informativa “Você cuida do seu coração?”, com indicação dos alimentos benéficos ao controle do colesterol, aqueles que devem ser consumidos com moderação e os que devem ser ingeridos ocasionalmente ou em pouca quantidade.

Valores do colesterol em adultos:

Ideal – inferior a 200 mg/dL
Limítrofe – 200-239 mg/dL
Elevado – acima de 240 mg/dL

Da Redação, com colaboração de Daniele Bacelar

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1 Comment
  • Avatar Alexandre
    Alexandre
    23 de setembro de 2018 at 17:57

    Muita desinformação, infelizmente. Óleos vegetais como soja, milho, girassol, etc são extremamente prejudiciais e inflamam as células do nosso corpo.

    Gorduras boas são azeite, manteiga, banha, gorduras animais, do abacate, do côco e oleaginosas.

    Existem 3 moléculas de colesterol, uma
    Inerte, uma prejudicial é uma beneficial. A causa do colesterol ruim é o pico de insulina causada pelos açúcares carboidratos que inflamam as células e forçam as gorduras ruins (óleos citados acima) e o colesterol para dentro das artérias.

    Se não houver o pico de insulina, não há problemas em comer as gorduras boas, pois dietas como low-carb, paleo e especialmente a cetogenica, que tem como base 75% gordura, 20% proteína e 5% carboidratos advindos de folhas verdes, usam a gordura como fonte de energia.

    A calcificação das artérias se dá pelo acúmulo de gorduras nas artérias através do pico de insulina causado pelos açúcares (frutose, lactose, glicose, maltodrextina, dextrose, etc) e carboidratos.

    Sem pico de insulina, o corpo usa a gordura como fonte de energia.

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