Cirurgias ou intervenções plásticas podem ser opção para quem está em transição de gênero. De acordo com os dados do DataSUS, em 2014 foram realizadas 32 cirurgias de mudança corporal. Já no ano de 2019, o número mais que triplicou, passando para 133 cirurgias e 3.910 tratamentos hormonais. Em 2020, com a pandemia da Covid-19, apenas 38 cirurgias foram realizadas e 3.653 tratamentos hormonais.

Após esperar durante cinco anos na fila do SUS (Sistema Único de Saúde) para realizar uma cirurgia de mastectomia (retirada das mamas), o bombeiro civil transgênero Richard Alcantara, de 24 anos, finalmente realizou seu sonho.  Comovido com sua história, relatada na série de TV Falas de Orgulho, sobre personagens LBGTQI+, o cirurgião-plástico Thiago Marra procurou o jovem para oferecer o procedimento de forma gratuita.

“Para muitos homens transexuais a presença de seios é o principal vínculo com a feminilidade”, explica dr Marra, que se tornou uma referência para a comunidade LGBTQI+ quando o assunto é Mastectomia Masculinizadora. O procedimento consiste na retirada da glândula mamária feminina, com o objetivo de transformação em um tórax anatomicamente masculino. Nas redes sociais, Richard demonstra sentimento de liberdade. “É um novo corpo, uma nova vida”, relata.

Neste Dia Nacional da Visibilidade Trans (29 de janeiro), também é fundamental a discussão sobre a importância da garantia desses procedimentos para essa população marginalizada. A data tem como objetivo combater o preconceito e o estigma direcionados a indivíduos cuja identidade de gênero, ou seja, o gênero com o qual se identificam, não corresponde ao sexo biológico.

Isso faz com que sofram com grande desconforto devido a seus corpos, levando, consequentemente, a sérios problemas psicológicos que vão desde ansiedade e estresse até depressão e suicídio. Estudos apontam que as cirurgias plásticas e de redesignação sexual possuem um papel importante na garantia de qualidade de vida e bem-estar para esses indivíduos, reduzindo significativamente a probabilidade de procurarem tratamentos para transtornos mentais.

Não é só estética, é uma questão de saúde pública

A importância da discussão sobre a falta de acesso de pessoas transexuais aos procedimentos estéticos e de redesignação sexual vai muito além da questão do bem-estar e saúde mental.

“As cirurgias de redesignação não são apenas uma questão de opção para pessoas transgêneros, mas sim uma questão de saúde pública que ainda precisa de muita atenção”, diz Mário Farinazzo.

Segundo ele, a negação das cirurgias plásticas e de redesignação sexual para pessoas transgêneros na rede pública também aumenta a probabilidade dessa população de buscar tratamentos alternativos extremamente prejudiciais.

“Isso inclui o uso não supervisionado de medicamentos hormonais e a realização cirurgias plásticas e procedimentos estéticos de alto risco, como a implantação de próteses de silicone de baixa qualidade por profissionais não especializados”, alerta o cirurgião.

Marra, por exemplo, já realizou a retirada do silicone industrial da ativista LGBTQI+, Luisa Marilac.

Além da redesignação sexual propriamente dita

Quando o assunto são as cirurgias para pessoas transgêneros, muitos pensam apenas nas cirurgias de redesignação sexual propriamente ditas, que, no caso de mulheres transexuais, pode incluir a amputação do pênis e a construção da vagina. Ou, quando a redesignação é do sexo feminino para o sexo masculino, a reconstrução do pênis no lugar da vagina. Mas o processo de readequação ao gênero ao qual a pessoa pertence não se resume apenas nisso.

Mário Farinazzo, cirurgião plástico, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), diz que além de acompanhamento psicológico e psiquiátrico e da terapia hormonal orientada por um endocrinologista, cirurgias plásticas comumente realizadas pelo público geral possuem grande impacto sobre a saúde mental e o bem-estar físico de pessoas transexuais, como é o caso das técnicas de mamoplastia.

“A mamoplastia redutora, por exemplo, confere excelentes benefícios para homens transgêneros, pois tem como objetivo a retirada das glândulas mamárias, gordura e pele em excesso da região para que as mamas fiquem correspondentes ao gênero com o qual o paciente se identifica”, explica a cirurgiã plástica Beatriz Lassance, membro titular da SBCP e da Isaps (International Society of Aesthetic Plastic Surgery).

Já a mamoplastia de aumento é uma opção excelente para mulheres transexuais que desejam seios maiores do que aqueles conquistados apenas por meio do uso de hormônios. Consiste no implante de uma prótese de silicone, por cima ou por baixo do músculo peitoral, para conferir volume às mamas. “O tamanho da prótese pode variar de acordo com o caso e deve ser escolhido em uma conversa entre o cirurgião e a paciente, levando em consideração fatores como o corpo, o tamanho do tórax e a estatura”, destaca a médica.

Remodelação do corpo e cirurgias estéticas faciais

As cirurgias de remodelação do corpo também são trazem grandes benefícios para pacientes transgêneros. Mulheres transexuais que desejam um corpo mais harmônico, por exemplo, podem optar pela lipoescultura. “Nesse procedimento, a gordura, após ser lipoaspirada por meio de uma cânula, é enxertada novamente no corpo para dar volume em outra área, como nos glúteos, sendo que parte dessa gordura é absorvida pelo organismo após certo tempo”, completa a Dra Beatriz.

As cirurgias estéticas faciais também são muito recomendadas para pacientes de ambos os gêneros que desejam uma melhor harmonia do rosto. Por exemplo, homens transgêneros que desejam conquistar uma mandíbula mais forte e um contorno facial mais destacado podem optar pela mentoplastia.

“Nesses casos, o tratamento pode ser feito através de próteses de queixo e mandíbula ou com preenchimentos de hidroxiapatita de cálcio ou ácido hialurônico, que são absorvíveis”, afirma Beatriz Lassance.

No campo das cirurgias faciais, a rinoplastia também se destaca, principalmente entre mulheres transexuais que desejam afinar o nariz e torna-lo mais delicado. A rinoplastia é o procedimento que altera a estética do nariz através da manipulação de estruturas como cartilagem, osso e pele, visando proporcionar um aspecto natural e conferir harmonia à face.

“Com a rinoplastia é possível alterar o tamanho ou formato do nariz, mudar a largura das narinas, realinhar o ângulo entre o nariz e o lábio superior e até mesmo resolver problemas respiratórios”, diz Mário Farinazzo.

Com Assessorias

Leia também

‘Hoje sou 100%, não carrego mais parte de um corpo que não é meu’
Visibilidade trans: além do direito à vida, o direito ao trabalho
População LGBTQIA+ sofre com transtornos mentais
Mudança de nome social transforma a vida de casal trans no Rio
Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

2 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *