Neste mês de julho, acontece a campanha do Julho Amarelo‘, que não apenas chama atenção para as hepatites virais, como também conscientizar a população sobre o câncer nos ossos e a importância do diagnóstico precoce para um tratamento mais eficaz e assertivo.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o osteossarcoma é a neoplasia óssea mais prevalente na população infantojuvenil (0 a 19 anos de idade), correspondendo de 3% a 5% de todas as neoplasias nesta faixa etária, sendo mais frequente no sexo masculino e acometendo principalmente ossos longos como fêmur, tíbia e úmero.

O câncer óssei pode ter origem na produção de células anormais no tecido ósseo, classificado como câncer ósseo primário, ou se desenvolver em outro órgão e migrar para o osso por meio da corrente sanguínea, o que se costuma chamar de câncer secundário ou metastático.

“Geralmente os sintomas do câncer nos ossos iniciam-se com dor de leve intensidade, que melhora com analgésicos comuns. Com a evolução do quadro clínico, a dor torna-se mais intensa, associa-se a calor local e aumento de partes moles”, explica Carla Macedo, oncologista pediátrica e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope).

Em crianças, esses sinais podem ser confundidos com alguma queda, batida ou algo similar. Assim, pais, mães e responsáveis devem estar atentos a qualquer tipo de queixa feita pelas crianças e adolescentes, como afirma a oncologista pediátrica e membro da diretoria da Sobope, Flávia Delgado Martins:

“Os familiares devem estar atentos a qualquer alteração e devem abrir espaço diariamente para que as crianças e adolescentes exponham suas queixas. É necessário não ignorar os sinais iniciais do câncer, dar atenção às queixas, principalmente as recorrentes. É fundamental ter acompanhamento médico regular e levá-los para consulta com o pediatra caso surja alguma anormalidade. Afinal, toda queixa importa”.

Tumor agressivo: 10% dos pacientes apresentam metástase

O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), com sede no Rio de Janeiro, também alerta para a importância do diagnóstico precoce da doença. Segundo o instituto, embora a incidência não seja elevada, o tumor ósseo pode se tornar ainda mais agressivo se identificado tardiamente, sendo que 10% dos pacientes oncológicos apresentam metástase óssea em algum estágio da doença.

“O tumor é altamente agressivo e atinge os ossos das pernas, braços e coluna. Na fase mais adiantada, geralmente, acomete os pulmões em decorrência de metástase”, afirma Walter Meohas, chefe da Oncologia Ortopédica do Instituto.
Ele explica que o câncer ósseo primário mais comum – conhecido como osteossarcoma – atinge principalmente crianças, adolescentes e jovens adultos. A doença se desenvolve com mais frequência nos ossos longos, como o fêmur, ossos dos braços e da pelve.
Entre os principais sintomas, estão a dor local intensa e o aumento de volume da região afetada que, segundo o ortopedista, por serem indícios comuns de outras doenças, precisam ser investigados até que seja descartado o diagnóstico de tumor ósseo.
“Não há como prevenir esse tipo de câncer, por isso é fundamental que pais e responsáveis estejam atentos, valorizando as dores manifestadas pelas crianças e as queixas relacionadas ao aparelho locomotor apresentadas por elas”, destaca o médico.
A causa específica do câncer ósseo, tanto em crianças quanto em adultos, ainda é desconhecida. “O que se acredita é que a história genética do paciente pode estar diretamente relacionada ao desenvolvimento desses tipos de tumores”, esclarece o especialista.
Ele explica ainda que hoje, no Brasil, a taxa de sobrevida dos pacientes com osteossarcoma é de 50% em cinco anos, ou seja, cerca de 50 em cada 100 pacientes com esse tipo de câncer ainda estarão vivos cinco anos após serem diagnosticados.
As chances de cura são maiores quando a doença é identificada em seu estágio inicial. “Quanto mais cedo o câncer for diagnosticado, menor será o volume tumoral, o que melhora o prognóstico tanto em relação à sobrevida do paciente, quanto à preservação do membro acometido pelo tumor”, conclui Meohas.

Conhecer sintomas do câncer nos ossos facilita diagnóstico precoce

Conhecer os sintomas de câncer nos ossos é, sem dúvida, o primeiro passo para o diagnóstico precoce, como afirma Maíra Neves, radio oncologista do Instituto Radicon – clínica curitibana especializada no tratamento de radioterapia para câncer.

Segundo ela, o câncer nos ossos acontece a partir da produção e crescimento de células anormais no tecido ósseo, gerando quadros de aumento da região acometida, com dor associada ou não, fraturas e lesões disseminadas para outros órgãos.

“É importante ressaltar que apenas um médico pode fazer um diagnóstico preciso após avaliação clínica, exames de imagem e possivelmente uma biópsia. Se você suspeitar de qualquer problema ósseo ou tiver preocupações relacionadas ao câncer, é fundamental procurar orientação médica adequada”, afirma a médica.

Sem causa definida, a comunidade médica afirma que é complexo determinar maneiras específicas de prevenir a doença. No entanto, levar uma vida saudável e atenta a sinais do corpo é fundamental. O diagnóstico precoce é a chave para o sucesso de qualquer tratamento.

Os tipos de câncer que podem afetar os ossos

Além do Osteossarcoma, existem vários tipos de câncer que podem afetar os ossos, sendo os principais:

  • Condrossarcoma: É um câncer que se desenvolve nas células da cartilagem. Pode ocorrer em qualquer parte do esqueleto, mas é mais comum nos ossos da pelve, coxa e ombro.
  • Sarcoma de Ewing: É um tipo raro de câncer que ocorre principalmente em ossos longos, como o fêmur e a tíbia, mas também pode afetar outros ossos. Afeta principalmente crianças e adolescentes.
  • Tumor de células gigantes: É um tumor ósseo benigno que pode ocorrer em qualquer osso, mas é mais comum nos ossos longos, como o fêmur e a tíbia. Embora seja benigno, pode causar sintomas e requer tratamento.

Além desses tipos, outros cânceres podem se espalhar para os ossos a partir de outros órgãos, como o câncer de mama, próstata, pulmão e rim. Essas metástases ósseas são mais comuns do que os cânceres ósseos primários.

Exames da Medicina Nuclear ajudam no diagnóstico

Os exames da Medicina Nuclear são fundamentais para detecção tanto do câncer ósseo primário, como dos secundários. A avaliação de imagem inicial na suspeita de um câncer ósseo se faz com exames de radiografia simples — o raio-X.

“A partir do momento em que aumentamos ou confirmamos a suspeita da tumor ósseo partimos para avaliação de corpo inteiro, além daquelas de estudo especial dos locais que estão doendo ou inchados. O rastreamento de corpo inteiro permite verificar se houve metástase”, esclarece Adelina Sanches, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN).

Exames como tomografia, ressonância magnética e cintilografia óssea para mapeamento e investigação complementar são necessários para uma análise mais aprofundada e conclusão do diagnóstico.

Avanços nas terapias usadas no tratamento

Avanços nas diversas técnicas terapêuticas verificados nos últimos anos levaram a uma melhora significativa nos prognósticos. Pacientes com a doença localizada podem ter sobrevida entre 70% e 80%. Já entre os que apresentam o tumor na forma metastática, a sobrevida cai para 30%. Estima-se que 20% a 25% da população evolua para metástase por conta do diagnóstico e tratamento tardios.

O tratamento do câncer nos ossos pode incluir cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou uma combinação de várias terapias para remover o tumor e destruir as células cancerígenas, caso seja possível. O tratamento envolve equipe multidisciplinar, poliquimoterapia e controle local com cirurgia.

Na maioria dos casos de doença primária (osteossarcoma e Sarcoma de Ewing), primeiro o paciente é submetido a quimioterapia, depois passa pela cirurgia para a retirada do tumor, e novamente por sessões de quimioterapia. O condrossarcoma, neoplasia que se desenvolve nas células que formam a cartilagem, é geralmente tratado somente com cirurgia.

Quando diagnosticado precocemente, as chances de cura aumentam, e a possibilidade de amputação ou perda de função do membro diminuem. Dessa forma, é de extrema importância a avaliação médica precoce, o acompanhamento pediátrico, a realização de exames de imagem iniciais, como uma radiografia simples, e o encaminhamento ao centro de referência assim que faça uma suspeita.

A radioterapia no tratamento do câncer de ossos

A radioterapia é um dos principais tratamentos utilizados no câncer de ossos, seja como terapia única ou combinada com outros métodos, como cirurgia e quimioterapia. Ela utiliza feixes de radiação ionizante para destruir as células cancerígenas e controlar o crescimento do tumor.

“No caso do câncer de ossos, a radioterapia pode ser utilizada de diferentes maneiras, dependendo do estágio do câncer, da localização do tumor e das características individuais do paciente”, esclarece Maíra Neves.

Alguns dos objetivos da radioterapia no tratamento do câncer de ossos incluem:

  • Alívio dos sintomas: A radioterapia pode ser usada para aliviar a dor e outros sintomas causados pelo tumor ósseo, melhorando a qualidade de vida do paciente.
  • Tratamento adjuvante: Em alguns casos, a radioterapia é administrada após a cirurgia para eliminar células cancerígenas remanescentes e reduzir o risco de recorrência do câncer.
  • Tratamento neoadjuvante: Em certos casos, a radioterapia é aplicada antes da cirurgia com o objetivo de reduzir o tamanho do tumor e facilitar sua remoção durante a intervenção cirúrgica.

Controle local: A radioterapia pode ser usada como tratamento principal em casos em que o câncer de ossos é considerado inoperável ou quando a cirurgia não é recomendada.

Durante a radioterapia, o paciente é posicionado de forma precisa na mesa de tratamento, e a radiação é direcionada para o local específico do tumor. A quantidade de tratamentos e a dose de radiação são determinadas pelo médico radioterapeuta com base na localização do câncer, tamanho do tumor e outros fatores individuais.

  • Cada caso de câncer é único e o tratamento adequado deve ser discutido com uma equipe médica especializada, incluindo oncologistas, radioterapeutas e cirurgiões ortopédicos. Eles irão avaliar cuidadosamente o estágio do câncer e as características individuais do paciente para determinar a melhor abordagem terapêutica, que pode incluir a radioterapia como parte importante do plano de tratamento.
  • Com Assessorias
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