Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para o triênio 2023–2025, a taxa ajustada de incidência de câncer de mama no Estado do Rio de Janeiro é de 70,57 casos por 100 mil mulheres, a mais alta do país. Para a Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Rio de Janeiro (SBM Rio), esse cenário reforça a relevância do Outubro Rosa, movimento internacional de conscientização que chama atenção para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce da doença.

Para a mastologista Maria Júlia Calas, presidente da SBM-Rio, esse é um momento crucial para ampliar a conscientização. Ela ressalta que, diante da elevada incidência no estado, é fundamental que a população esteja bem informada e saiba que a informação correta é uma das principais ferramentas para reduzir o impacto da doença. Na avaliação da especialista, prevenção e diagnóstico precoce continuam sendo as maiores armas contra o câncer de mama e são capazes de salvar vidas.

A prevenção depende de ações individuais essenciais, como manter um estilo de vida saudável e cuidar do próprio corpo para descobrir qualquer mudança o mais cedo possível. Porém, também depende de políticas públicas voltadas às mulheres, que incluam a oferta de uma atenção primária qualificada, um plano nacional de rastreamento que recomende a realização da mamografia a partir dos 40 anos, e também a disponibilização dos testes genéticos no SUS para quem precisa”, aponta Dra. Maira.

Outubro Rosa de 2025 chega com um chamado especial para o câncer de mama hereditário, que representa cerca de 10% dos diagnósticos da doença. No Brasil, são estimados pelo INCA aproximadamente 74 mil novos casos anuais entre 2023 e 2025, dos quais mais de 7 mil têm origem genética. Esse impacto se multiplica, já que cada paciente pode ter parentes de primeiro grau com até 50% de chance de herdar a mutação.

Em 2024, o Rio de Janeiro se tornou pioneiro ao sancionar a lei que instituiu o Dia de Conscientização do Câncer de Mama Hereditário, celebrado em 21 de outubro.  A proposta recebeu chancela da SBM Rio, tornando a cidade a primeira do mundo a oficializar uma data dedicada exclusivamente ao tema. A escolha do dia faz referência direta aos genes BRCA1 e BRCA2, protagonistas no debate sobre predisposição hereditária.

O reconhecimento oficial da Oncogenética como área de atuação pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Médica Brasileira (AMB) representa um marco histórico para a medicina no país. A partir deste momento, a oncogenética deixa de ser apenas uma promessa de futuro e passa a integrar o presente da prática médica brasileira, oferecendo novas ferramentas para a prevenção, diagnóstico e tratamento de pacientes com predisposição hereditária ao câncer.

A iniciativa, de autoria da vereadora Tânia Bastos e coautoria do vereador Dr. Marcos Paulo foi construída com base nos textos enviados pela mastologista Maria Júlia Calas, presidente da SBM Rio, e pelo médico geneticista Yuri Moraes.  Para a presidente da SBM Rio, a medida é um divisor de águas.

O câncer de mama hereditário corresponde a 10% dos casos, mas seu impacto é muito maior porque envolve gerações. Identificar uma mulher em risco é salvar não apenas a vida dela, mas de toda a sua família.”

Testes genéticos para câncer de mama hereditário

Entre discussões relevantes que têm envolvido SBM, associações médicas, universidades e entidades com atuações importantes, e resultaram em documentos encaminhados ao Ministério da Saúde para implementação de procedimentos e serviços em todo o Brasil, está a estruturação de testagem genética para detecção de mutações patogênicas e provavelmente patogênicas para pacientes com câncer de mama e ovário e seus familiares no âmbito do SUS.

Entre os fatores aumentados de risco, especialistas destacam a mutação do gene BRCA. De acordo com a SMB, esta alteração genética representa até 80% de possibilidade de desenvolvimento de câncer de mama e de 40% para o de ovário.

O exame para Detecção de Mutação Genética dos Genes BRCA1 e BRCA2, custeado pelo SUS, é um meio eficiente para identificar a mutação e realizar medidas profiláticas que podem salvar milhares de mulheres. Embora exista legislação que permite a realização do teste em cinco Estados brasileiros, incluindo Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal e Amazonas, somente Goiás, de fato, implementou o exame.

De acordo com  Maira Caleffi, presidente fundadora da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA) e chefe do Núcleo Mama do Hospital Moinhos de Vento, a medicina de precisão desempenha um papel fundamental no mapeamento de riscos e na definição de estratégias personalizadas de tratamento, especialmente para mulheres com histórico familiar e risco agravado.

Atualmente, há um projeto de lei sob análise da Câmara dos Deputados que torna obrigatório a realização dos testes genéticos BRCA1 e BRCA2 no Sistema Único de Saúde (SUS) para pacientes com câncer de mama de alto risco, com o objetivo de identificar mutações genéticas hereditárias ligadas a maiores probabilidades do desenvolvimento de câncer de ovário, mama e colorretal.

Mutações genéticas respondem por metade dos casos

O oncogeneticista Yuri Moraes explica que mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 são responsáveis por cerca de metade dos casos hereditários. Esses genes funcionam como “engenheiros de reparo” do DNA e, quando sofrem alterações, aumentam significativamente o risco não apenas para câncer de mama, mas também para ovário, próstata, pâncreas e até melanoma.

O rastreamento precoce e as medidas preventivas mudam completamente o prognóstico. Uma mastectomia redutora de risco, por exemplo, pode diminuir em até 90% as chances de desenvolver a doença. E hoje já temos medicamentos específicos, como os inibidores de PARP, que abrem novas perspectivas de tratamento”, destaca.

Embora o câncer de mama seja mais frequente em mulheres, o especialista reforça que os homens também precisam estar atentos. Na população em geral, o risco masculino é de apenas 0,1%, mas portadores de mutação no gene BRCA2 podem ter até 8% de chance de desenvolver a doença. Ele alerta que “o câncer hereditário não é uma questão apenas feminina. Homens também precisam observar o histórico familiar e procurar avaliação médica.”

Testes genéticos ampliam as chances de cura

A mastologista Maria Júlia Calas também reforça a relevância histórica da consolidação da oncogenética como área de atuação oficial no Brasil ao afirmar que “a oncogenética deixa de ser futuro: agora é presente, transformando vidas e moldando uma nova era da medicina no Brasil.” A presidente da SBM Rio também destaca os avanços recentes que tornam o cuidado mais acessível e preciso.

Hoje, os testes genéticos multigênicos, que identificam mutações além do BRCA1 e BRCA2, associados ao uso da ressonância magnética e ao acompanhamento personalizado, ampliam as chances de detectar tumores em estágios iniciais, quando são altamente curáveis.”

Viviane Esteves, 2ª secretária da SBM Rio, ressalta que a prevenção deve ser pensada de forma ampliada. “Cada caso hereditário envolve uma rede de parentes em risco. Testar e orientar uma mulher pode significar proteger irmãs, filhos e sobrinhos. O câncer hereditário exige que pensemos em termos de famílias, não apenas de indivíduos.”

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Orientações práticas para reduzir riscos e cuidar da saúde da mama

Conscientização busca orientar mulheres sobre medidas de prevenção e a detecção precoce da doença

Embora o câncer de mama não possa ser totalmente prevenido, a adoção de hábitos saudáveis e a realização de exames regulares reduzem significativamente os riscos e aumentam as chances de cura quando a doença é detectada em fases iniciais.

Maria Júlia Calas explica que quanto mais cedo as alterações forem identificadas, maiores são as possibilidades de sucesso no tratamento, reforçando a mensagem central da campanha deste ano: quanto antes, melhor.

Prevenir é salvar vidas. Não podemos perder tempo, porque o tempo é justamente o recurso mais crucial para determinar o desfecho clínico e a qualidade de vida dessas mulheres.”

  • Realize mamografias regularmente: a partir dos 40 anos, o exame deve ser feito anualmente, conforme recomendação médica. Em casos de histórico familiar ou fatores de risco, a avaliação pode começar antes.
  • Considere o ultrassom como exame complementar: indicado em situações específicas, principalmente para mulheres mais jovens e com mamas densas, mas nunca como substituto da mamografia.
  • Pratique atividade física regularmente: o ideal são pelo menos 150 minutos por semana de exercícios moderados ou 75 minutos de atividades intensas.
  • Mantenha uma alimentação equilibrada: priorize frutas, verduras, legumes e proteínas magras, evitando ultraprocessados, excesso de açúcares e bebidas alcoólicas.
  • Não fume e reduza o consumo de álcool: ambos aumentam o risco para diferentes tipos de câncer, inclusive o de mama.
  • Esteja atenta a sinais de alerta: nódulos, retração de pele ou mamilo, secreções e alterações na textura da pele devem ser investigados imediatamente.

VI Corrida e Caminhada da SBM-RJ celebra o Outubro Rosa

A presidente da SBM Rio reforça que a mensagem do Outubro Rosa 2025 é clara: informação, prevenção e diagnóstico precoce são essenciais para enfrentar a doença, especialmente em um estado que registra a maior incidência do país. Neste contexto, além das ações educativas, a instituição também incentiva a prática de atividade física como aliada na prevenção.

No dia 19 de outubro de 2025, a SBM-Rio realizará a VI Corrida e Caminhada de Prevenção ao Câncer de Mama, na Lagoa Rodrigo de Freitas (altura do Parque da Catacumba), no Rio de Janeiro.

O evento, parte das ações do Outubro Rosa, reunirá participantes em modalidades de corrida de 7,5 km e corrida/caminhada de 4 km, promovendo a conscientização sobre a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e da adoção de hábitos saudáveis.

As inscrições já estão abertas no site da SBM Rio.

Com informações da SBM-Rio

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