A exposição frequente e prolongada a produtos químicos é um dos fatores que fazem com que os cabeleireiros pertençam ao grupo de alto risco para o desenvolvimento de câncer. A conclusão vem de um conjunto de pesquisas, que também abrange um estudo nacional recente, publicado na Environmental Research, e aponta os tumores de pulmão e bexiga como os predominantes entre os profissionais da área.

O alerta vem no mês de julho, que recebe o laço rosa-verde-roxo, para conscientizar sobre o câncer de bexiga. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), entre 2023 e 2025, 11.370 casos da doença devem ser diagnosticados no Brasil a cada ano.

O estudo brasileiro também revelou uma probabilidade maior de mortes, inclusive prematuras, entre esses profissionais, em decorrência de tumores. Além disso, as mulheres são as mais vulneráveis, segundo o estudo.

Estilo de vida saudável e a implementação de medidas de proteção à exposição prolongada e recorrente a substâncias químicas diversas são recomendações fundamentais aos cabeleireiros para evitar o desenvolvimento de câncer. André Sasse, oncologista clínico e CEO do Grupo SOnHe, alerta para a urgência da implementação de normas que garantam mais segurança a esses profissionais.

Estamos falando de segurança no trabalho e temos uma arma poderosa nas mãos: a informação. Diante disso, a regulamentação e a fiscalização precisam ser eficazes”, pontua Sasse.

Câncer de bexiga é mais frequente em homens brancos

O câncer de bexiga, que juntamente ao câncer de pulmão é um dos tumores que mais atingem os cabeleireiros, é duas vezes mais frequente em homens e pessoas brancas.  Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam que este ano deverão ser registrados 11.370 novos casos de câncer de bexiga, sendo 7.870 em homens e 3.500 em mulheres, o que corresponde a um risco estimado de 7,45 casos novos a cada 100 mil homens e 3,14 a cada 100 mil mulheres.

Segundo o Inca, este é o sétimo câncer mais incidente entre os homens (exceto o de pele não melanoma), representando mais de 3% dos cânceres no sexo masculino. Os homens também são maioria entre as vítimas fatais. O Ministério da Saúde registrou 19.160 óbitos em decorrência de neoplasia maligna da bexiga entre 2019 e 2022. Desses, 12.956 (67,6%) eram do sexo masculino e 6.204 (32,3%) do sexo feminino. No período, o Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) indica mais de 110 mil casos de neoplasia maligna da bexiga.

Nono câncer mais comum do mundo, responsável por 800 mil mortes por ano, esse tumor ocupa a 12ª posição entre os tipos de tumores mais incidentes no país. Cerca de 90% dos pacientes descobrem o câncer de bexiga após os 55 anos, apresentando algumas alterações urinárias. A maior ocorrência é observada entre os 60 e 70 anos, sendo que aproximadamente 90% dos casos são diagnosticados em pessoas com mais de 55 anos.

Fumantes têm até quatro vezes mais chances de desenvolver tumor

Assim como em outros tipos de câncer, o tabagismo é o principal fator de risco da neoplasia de bexiga

Esse tipo de tumor está totalmente relacionado ao estilo de vida e um dos principais fatores de risco é o cigarro, estando relacionado a mais de 50% dos casos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). O tabagismo, aliás, é uma das principais causas evitáveis de vários tipos de câncer e é responsável por um grande número de casos de câncer de bexiga em todo o mundo

Produtos químicos tóxicos presentes nos cigarros, como a nicotina e o alcatrão, podem danificar o revestimento da bexiga ao longo do tempo, aumentando assim o risco de desenvolver câncer. Uma pessoa que fuma tem de duas a quatro vezes mais chances de desenvolver esse tipo de doença”, explica André Berger.
Fumante, o motorista Edgar Azevedo dos Santos, de 51 anos, descobriu a doença após uma dor lombar em 2017. Ele fez ultrassom que constatou nódulos. Ele passou por uma cirurgia e sessões de quimioterapia. “Eu nunca imaginaria que teria um câncer. De lá para cá faço acompanhamentos periódicos”.

Temos observado que muitas pessoas desconhecem o câncer de bexiga, como se manifesta e quais são os principais vilões. A maioria já sabe que o fumo pode levar ao câncer de pulmão, por exemplo, mas muitos desconhecem que ele também é o principal causador do câncer de bexiga”, esclarece a diretora da SBU, Karin Jaeger Anzolch.

Por isso, o presidente da SBU, Luiz Otavio Torres, alerta: “Eliminando esse hábito, conseguimos diminuir significativamente as chances de aparecimento desse tumor;  Outro ponto fundamental na prevenção é seguir hábitos saudáveis, como manter uma alimentação balanceada, beber água em quantidade adequada e exercitar-se”

Rafael Luís do Carmo, oncologista clínico do Grupo SOnHe, reforça a necessidade de uma mudança de hábitos da população. “A atividade física precisa ser incorporada ao nosso dia a dia, assim como os demais hábitos saudáveis e isso também diz respeito ao cigarro”, alerta o médico.

Outros fatores de risco

O tabagismo (também o passivo) é o principal fator de risco do câncer de bexiga, porém há outras ameaças como exposição a substâncias químicas; alguns medicamentos e suplementos dietéticos; gênero e raça (homens brancos têm mais chances de desenvolver a doença); idade avançada; histórico familiar.

Além do tabagismo, o contato com substâncias químicas como as presentes em defensivos agrícolas, tinturas utilizadas na indústria, fumaça de diesel ou outras substâncias também podem predispor a essa doença. Medicamentos como a pioglitazona, utilizada para o controle do diabetes, já foram associados com o desenvolvimento do câncer de bexiga.

Contudo, o risco é relativamente baixo, e o principal ponto de atenção deve ser para pacientes que já tiveram câncer de bexiga e utilizam essa medicação”, explica o supervisor da Disciplina de Câncer de Bexiga da SBU, Fernando Korkes.

Tipos de câncer de bexiga

Esse tumor afeta a mucosa da bexiga urinária, sendo considerado superficial quando se limita ao tecido de revestimento do órgão e infiltrativo quando transpassa a parede muscular, podendo afetar órgãos próximos ou gânglios linfáticos. Na maioria dos casos, o câncer de bexiga se apresenta de maneira leve, atingindo a mucosa de revestimento interno, chamada de urotélio.

O câncer de bexiga pode ser classificado de acordo com a célula que sofreu alteração, sendo os principais:

  • carcinoma de células transicionais (ou urotelial) que representa a maioria dos casos e tem início na camada mais interna da bexiga;
  • carcinoma de células escamosas (ou epidermoide) que afeta as células delgadas e planas da bexiga, ocorre após infecção ou inflamação prolongadas; e
  • adenocarcinoma que é mais raro, tem início nas células glandulares (de secreção) após infecção ou irritação prolongadas.

Sangue na urina é o principal sintoma

Apesar de geralmente ser silencioso no estágio inicial, o tumor de bexiga pode provocar sangue na urina, maior frequência urinária, ardência ao urinar, urgência para urinar e jato urinário fraco. 

A presença de sangue visível na urina é o sintoma mais comum do câncer de bexiga e está normalmente presente em 80% dos pacientes. Outros sintomas comumente relatados são aumento da frequência urinária, urgência miccional e dor para urinar, que podem estar relacionados à presença de carcinoma in situ. O câncer de bexiga pode ser também assintomático”, explica o coordenador do Departamento de Uro-Oncologia da SBU, Mauricio Dener Cordeiro.

Apesar de muitas vezes causar sangramento na urina, geralmente no início o tumor é intermitente e não provoca dor. Por isso é comum as pessoas não dão a devida importância e retardam a ida ao médico, podendo agravar o quadro. Por isso, é importante destacar que quanto mais cedo o câncer for diagnosticado, melhor.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico do câncer de bexiga pode ser feito por exames de urina e de imagem, como ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética ultrassom e cistoscopia.

Este último exame consiste na investigação interna da bexiga por meio do cistoscópio, instrumento dotado de câmera introduzido pela uretra. Durante a cistoscopia, caso o especialista identifique alguma alteração, pode ser retirado material para biópsia.

O tratamento do câncer de bexiga varia conforme o estágio da doença e pode consistir em cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Os tipos de cirurgia consistem em:

  • ressecção transuretral – remoção do tumor por via uretral;
  • cistectomia parcial – retirada de uma parte da bexiga;
  • cistectomia radical – remoção completa da bexiga, com a construção de um novo órgão para armazenar a urina.

Nos casos de lesões iniciais, após removido o tumor, pode ser administrada a vacina BCG ou algum quimioterápico dentro da bexiga, a fim de evitar recidiva (retorno) da doença.

Algumas das novidades incluem medicações como imunoterapia, terapias alvo e terapias com anticorpos conjugados a drogas que já têm sido utilizados na prática e trazem benefícios para muitos pacientes. A cirurgia robótica auxilia bastante nos casos em que é necessário remover a bexiga e fazer algum tipo de reconstrução”, ressalta Fernando Korkes.

Julho Roxo

O diagnóstico de câncer de bexiga é relativamente raro, sendo um tumor pouco comum. No entanto, se detectado precocemente, o tratamento é mais eficaz, com altas chances de cura. Por isso, a ideia de campanhas como o Julho Roxo é promover a detecção precoce, e apoiar aqueles que estão lidando com ela. 
Ele não apenas melhora significativamente as taxas de sobrevida, mas também oferece a possibilidade de tratamentos menos invasivos, reduz complicações, e melhora a qualidade de vida dos pacientes”, finaliza André Berger.

Para o diretor da Escola Superior de Urologia da SBU, Roni de Carvalho Fernandes, para rastrear o câncer de bexiga e desenvolver políticas públicas eficazes para reduzir a incidência e mortalidade, é essencial considerar várias estratégias, começando por campanhas de conscientização e educação.

Também é importante identificar grupos de alto risco, garantir que todos tenham acesso a serviços de saúde que ofereçam diagnóstico e tratamento adequados com a criação de centros especializados para garantir padrões elevados de cuidado e resultados melhores para os pacientes.

Implementar essas medidas requer colaboração entre profissionais de saúde, governos, instituições de pesquisa, organizações não governamentais e a própria comunidade para enfrentar de forma eficaz esse grande desafio, que é reduzir as taxas de mortalidade do câncer de bexiga”.

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) aproveita a data para alertar sobre a importância da detecção precoce deste tipo de tumor, quando as chances de cura são maiores. Nas redes sociais, posts, vídeos e live com especialistas informam o público leigo.

Com Agência Brasil e Grupo SOnHe
Shares:

Related Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *