O atentado no Colégio Goyases, em Goiânia, reabriu um debate que deve ser olhado com mais atenção no ambiente escolar e também nas redes sociais. Filho de pais policiais, um adolescente de 14 anos abriu fogo contra seus colegas, deixando dois mortos e quatro feridos em estado grave. O bullying é apontado como o motivo para a tragédia. Segundo declaração do estudante atirador e de alguns outros colegas, o rapaz era constantemente alvo de piadas e brincadeira de mau gosto.
Especialistas ouvidos pelo Vida & Ação destacam que o bullying sempre esteve presente no cotidiano dos estudantes, mas recentemente vem se tornando mais recorrente e com consequências cada vez piores. “O bullying é uma agressão intencional física ou psicológica de forma repetitiva que pode transformar a vida da pessoa em um pesadelo, que trará o entendimento confuso de si e sua existência, desencadeando a depressão e em casos extremos ao suicídio”, explica a psicóloga Edyclaudia Gomes de Sousa, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia.
O psiquiatra Leandro Franco, da RT Médicos (RJ), analisa o comportamento do estudante. Segundo ele, estados extremos, como o ocorrido em Goiânia, acabam acontecendo quando a criança e/ou adolescente vem sofrendo sistematicamente com o bullying. Normalmente, essas pessoas já demonstram um isolamento muito grande que acaba, infelizmente, não sendo sendo percebido pelos pais e até mesmo pelas escolas.
“Pelos depoimentos de colegas de classe desse menino de Goiania, ele já sofria bullying há muito tempo, pelo odor que os colegas diziam que ele exalava. É difícil dizer se esta criança tem alguma patologia, como transtorno de personalidade, mas normalmente se a criança tem uma predisposição a ter patologias como depressão, ansiedade, podem ser levadas a ter um comportamento explosivo”, afirma.
De acordo com o especialista, o comportamento pode gerar no agredido um sentimento de não aceitação dentro da comunidade, isolamento social, ansiedade e até mesmo provocar sintomas depressivos e agressivos. “A melhor forma de ajudar é promovendo um amplo diálogo em escolas e entre familiares, trabalhando a educação ambiental, baseado no respeito aos indivíduos e respeito às diferenças”, ressalta o especialista.
Ouvimos os dois especialistas para tirar as principais dúvidas sobre o tema. Confira:
1 – O que é bullying e como pode ser identificado?
“O bullying é grave problema social que ocorre quando um indivíduo ou um grupo apresente uma atitude agressiva, seja ela física ou verbal, de forma intencional, deliberada é repetitiva para com o outro sem qualquer motivo, buscando intimidar ou agredir de alguma forma”, afirma Leandro. Segundo Edyclaudia, o surgimento do bullying caracteriza-se em esferas coletivas e em tal fenômeno social, a violência dos agressores é valorizada. “É necessário lembrar que existe ainda o cyberbullying já que esses mesmos ataques podem ser expandidos para ambientes eletrônicos, através das redes sociais, mensagens de textos, sites, blogs, entre outros”, explica a psicóloga.
“A vítima se sente intimidada, envergonhada e com sentimento de menos valia (valor diminuído), podendo trazer sensações próximas a sintomas depressivos, como querer se esconder, diminuir o contato com outras pessoas, se culpar por situações que não tem culpa, forte sensação de tristeza e medo”. esclarece a psicóloga. Edyclaudia lembra que o pensamento da pessoa sobre si e os outros muda. ‘Ninguém gosta de mim’, ‘estão todos contra mim’, ‘meus pais não vão acreditar em mim se eu contar a eles’ são pensamentos que tomam conta da pessoa, modificando seu comportamento. “Em alguns casos, a vitima se sente tão sufocada que começa a formular ideias de vingança e suicídio em seguida”, conta Edyclaudia.
4 – Como o bullying pode ser tratado?
“O tratamento é feito por um profissional psicólogo, onde será procurado o entendimento da situação e ver as questões que ajudam na autoestima e no auto-entendimento diante da situação em que o indivíduo se encontra. O acompanhamento psicológico e as conversas com quem vive com essa pessoa que sofre bullying, como pais e irmãos, também são muito importantes nesse momento”, afirma Efyclaudia.
5 – Como as escolas podem ajudar na prevenção?
Quando isso é vivenciado nas escolas, professores e coordenação devem agir como peças importantes na recuperação do aluno vítima das agressões. Países desenvolvidos têm adotado sistema efetivos de prevenção ao bullying, com cursos, palestras e aulas especiais. Algumas escolas do Brasil já estão adotando essa prática, estimulando que as crianças interajam umas com as outras e não se restrinjam a grupos. “Recentemente, saiu na impressa o que acontece na escola do príncipe George, que não permitiria que a criança tivesse um melhor amigo, estimulando a interação com todos da turma”, afirma Leandro.
Fonte: Leandro Franco e Edyclaudia Gomes de Sousa
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