Bullying: como identificar se um estudante está sofrendo?

Projetos em escolas conscientizam sobre efeitos do bullying na autoestima, no desempenho escolar e nas relações sociais

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O termo bullying (inglês) tem sua origem na palavra bully, que significa tirano, brigão ou valentão. Seu conceito clássico foi criado na década de 1970, pelo psicólogo sueco-norueguês Dan Olweus. Ele descreveu o bullying como o comportamento agressivo, intencional e repetitivo de uma pessoa, que ocorre em circunstâncias de desequilíbrio de poder. No Brasil, o termo se popularizou em 1990, culminando para a oficialização, em 2016, do Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, celebrado em 7 de abril.

Um estudo realizado em 44 países pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que o cyberbullying cresceu de 13% para 16.67%, enquanto o bullying físico se manteve estável em 11% das crianças questionadas. A pesquisa “Comportamento de saúde em crianças de idade escolar” foi realizada entre 2021 e 2022 e contou com a participação de 279 mil crianças e adolescentes de 44 países da Europa, Canadá e Ásia Central. A última edição foi realizada em 2018, antes da pandemia.

Segundo um estudo global realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil tem um dos maiores índices de violência escolar do mundo. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), mais de 40% dos estudantes adolescentes admitiram ao Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) já ter sofrido com a prática de bullying, de provocação e de intimidação.

Os impactos do bullying vão além de danos ao aprendizado

Além de um possível isolamento e de queda do rendimento escolar, crianças e adolescentes vítimas desse tipo de violência podem apresentar doenças psicossomáticas e sofrer traumas que influenciam seu desenvolvimento emocional e cognitivo.

Um estudo publicado no Journal of Pediatric Psychology encontrou que cerca de 30% das crianças que sofrem bullying apresentaram sintomas de depressão, um número significativamente maior em comparação àquelas que não foram expostas a tais experiências.

Em casos extremos, o bullying pode levar o jovem a considerar opções mais drásticas para se distanciar do sofrimento, como a autoagressão. O impacto do bullying na autoimagem e na autoestima é outro aspecto preocupante. A grande exposição a mensagens negativas pode fazer com que a criança guarde pra si essas visões, levando a uma imagem distorcida. Isso pode afetar não apenas seu emocional, mas também seu desempenho acadêmico e relações interpessoais.

Além disso, pode causar isolamento social, pois crianças que são intimidadas costumam se afastar, temendo novos episódios de agressão. Esse isolamento aumenta o risco de problemas psicológicos, já que o apoio social é fundamental para o desenvolvimento saudável da criança.

Cresce cyberbullying entre crianças e jovens após pandemia

A forma virtual do bullying aumenta na medida em que crianças e jovens têm mais acesso e passam mais tempo no mundo virtual, explica a coordenadora de Apoio Educacional do Colégio Marista Paranaense, Priscila Cirino. Um cenário favorecido especialmente durante e após a pandemia, quando as relações se tornaram majoritariamente virtuais.

Para a coordenadora, a questão envolve conscientização sobre relacionamentos e também educação midiática. “Os aparelhos eletrônicos oferecem uma falsa proteção e anonimidade para quem faz bullying, mas é preciso entender que assim como no mundo real, há regras e leis que devem ser seguidas. O que acontece online tem repercussões diretas no mundo real”, afirma.

bullying é caracterizado por atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetitivos, sem motivação evidente, contra uma ou mais pessoas, com objetivo de intimidá-la ou agredi-la. Pode ser verbal, físico, social, moral, entre outras formas. Os resultados dessas ações podem aparecer de diferentes maneiras, incluindo vergonha, retração social, ansiedade, depressão e até sinais físicos como enjôo, tontura, dores de cabeça e muito mais.

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Como debater o bullying nas escolas e em casa

Cerca de 38% das escolas brasileiras dizem enfrentar problemas de bullying, segundo dados do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A escola é um espaço importante e essencial para a prevenção, identificação e combate de práticas de violência, assumindo a responsabilidade do que já é previsto em lei e promovendo uma cultura de cuidado e proteção.

Por isso, é inegável a importância do Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola para chamar a atenção da sociedade sobre um tema tão grave – e que por vezes é tratado com superficialidade -, mas mais urgente e necessário é que o bullying seja debatido nas escolas e também em casa durante todo o ano.

Para o psicólogo Henrique Costa Brojato, coordenador de Cuidado Integral do Marista Brasil, é urgente e necessário que o bullying seja debatido nas escolas e em casa durante todo o ano. “A escola precisa atuar em três dimensões: na prevenção, na identificação e nos encaminhamentos dos casos confirmados de bullying, promovendo um ambiente inclusivo e de bem-estar aos estudantes”.

Diálogo com as famílias pode ajudar

Brojato ressalta que o diálogo, a disponibilidade para a escuta e a participação ativa na vida escolar dos filhos são fundamentais para estabelecer uma relação de confiança e amenizar o sofrimento causado por violências físicas e psicológicas.

“As famílias precisam ter proatividade no diálogo com as crianças e adolescentes. Elas não precisam esperar que os assuntos apareçam, podem se antever a eles, demonstrando interesse sobre o contexto escolar e sobre os seus relacionamentos interpessoais”, destaca o coordenador do Marista Brasil.

Outro movimento dos pais e responsáveis que merece atenção é quanto à orientação de como os estudantes devem resolver os conflitos ou problemas que surgem dentro do ambiente escolar. Henrique Brojato salienta que “é imprescindível que a família compreenda e esteja de acordo com os valores e a cultura da escola”.

Como identificar se estudante está sofrendo com bullying?

Por último, o psicólogo cita a importância de buscar orientação de um profissional, caso os pais percebam que seus filhos precisam de apoio emocional ou psicoterapia. Nesse sentido, ele cita alguns comportamentos que podem auxiliar os familiares a identificar que a criança ou o adolescente está sofrendo com intimidações:

  • Desinteresse nas atividades e tarefas escolares;
  • Isolamento no momento do recreio ou aproximação de adultos com objetivo de se proteger;
  • Em casos extremos, apresenta hematomas, cortes, arranhões, roupas danificadas;
  • Apresenta postura retraída, mostra-se comumente triste ou aflito;
  • Apresenta queixas de dores de cabeça, enjoo, dor de estômago, tontura, perda de apetite (principalmente antes do horário de aula);
  • Tem faltas frequentes;
  • Tem poucos amigos.

Perguntas que podem ser feitas a crianças e jovens para identificar situações de bullying

Você já recebeu algum apelido ofensivo na escola?

Você já deu algum apelido ofensivo para alguém?

Algum colega já te machucou fisicamente?

Você já precisou trocar de lugar para não ser incomodado?

Alguém já mexeu (guardou, escondeu, jogou) seu material escolar ou lanche?

Você já se sentiu excluído na escola?

Você já teve medo de vir para a escola?

Você já recebeu algum comentário ofensivo de colegas nas redes sociais?

Você já presenciou alguma situação de bullying?

Como foi?

Para você, a escola/clube/parquinho/playground do prédio é um lugar seguro?

Deixe seu comentário, observação ou relato de alguma situação vivida.

Agenda Positiva

Rede de colégios promove atividades de combate ao bullying

Durante o mês de abril, escolas e colégios Marista Brasil de todo o Brasil promovem atividades de combate ao bullying e ao cyberbullying. São palestras, oficinas, rodas de conversa, leitura reflexiva, sessão de cinema e questionários para diagnóstico de situações de violência.

A campanha Marista sem Bullying faz parte do selo +Cuidado e Proteção, e tem como objetivo tornar o ambiente escolar um espaço potente de debate, prevenção, identificação e combate a práticas de violência, promovendo a cultura da paz e do respeito às diferenças.

O selo +Cuidado e Proteção desenvolve ações voltadas à atenção psicossocial nas escolas e colégios Marista Brasil, em 2024, abordando temas relacionados ao cuidado e proteção integral de crianças, adolescentes e jovens.

Conexão segura, combate ao bullying, valorização da vida e consciência negra

A iniciativa, seguindo as leis nº 11.645 e 14.819, se desdobra em quatro áreas de atuação: conexão segura, combate ao bullying, valorização da vida e consciência negra, que serão realizadas ao longo do ano letivo.

Conexão Segura: Garantir a segurança digital é fundamental na formação de crianças e adolescentes. Por isso, a ação Conexão Segura busca promover reflexões e ações junto aos estudantes, famílias e educadores sobre como assegurar uma experiência online segura e saudável.

Combate ao BullyingA intenção é sensibilizar a comunidade escolar, estimulando a prevenção e propondo ações concretas contra qualquer forma de violência no ambiente escolar entre os estudantes. Afinal o combate ao bullying é essencial para garantir um ambiente escolar saudável e acolhedor a todos.

Valorização da Vida: Promover o cuidado integral é fundamental para garantir o desenvolvimento pessoal e social e psicológico das crianças e adolescentes. Nesse sentido, a iniciativa tem como intenção informar estudantes, famílias e todos os colaboradores sobre formas de proteção à saúde mental e incentivar a valorização da vida.

Consciência Negra: O objetivo é ampliar a conscientização da comunidade escolar sobre questões raciais, como meio de conscientizar, sensibilizar e trazer o tema para o cotidiano de crianças e adolescentes.

Colégio de Brasília cria projeto ‘Colega Solidário’

Um bom acolhimento em sala de aula pode evitar diversos problemas comuns na rotina escolar. Para fortalecer as relações, promover interações saudáveis entre os estudantes e prevenir casos de bullying, o Colégio Marista Asa Norte, em Brasília, acaba de implementar um projeto inovador, o “Colega Solidário”.

Em funcionamento desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, a proposta funciona com o objetivo de acolher os colegas novatos, tirar dúvidas, apresentar os espaços escolares e fortalecer os vínculos entre os pares durante o ano letivo. Além disso, trabalha valores, como cuidado, respeito e solidariedade, entre as crianças e jovens.

Para a orientadora pedagógica dos Anos Finais do Ensino Fundamental, Ellen Cristina Gonçalves, o “Colega Solidário” pode ser entendido como uma mentoria: “a intenção é que o estudante novato seja acolhido pela turma e caso tenha dúvidas ou se sinta inseguro, tenha um auxílio seguro. Esse guia ou mentor está ali durante todo o ano e ajuda na promoção de um ambiente saudável dentro da sala de aula. Por um lado, o que acolhe apresenta o colégio, explica o funcionamento das plataformas, integra o novato nos grupos de amigos, do outro, o acolhido se sente valorizado e percebe que é bem-vindo na nossa escola”.

Colégio de São Paulo cria o ‘Projeto Anjo’

Crédito: Divulgação

Para evitar a propagação do bullying infantil, o Colégio Unasp criou um projeto que busca anular essa violência, “Sabemos que chegar em um lugar novo e diferente não é fácil e traz uma grande ansiedade. Com isso em mente, preparamos um projeto, chamado “Projeto Anjo”.

Nele, o “Anjinho da Guarda” tem o papel de proporcionar uma ótima experiência no colégio para o aluno novo, o aluno é “Protegido”, através do acolhimento, da apresentação dos ambientes do colégio e ainda da apresentação de novos amigos.

“Esta adaptação não se resume apenas ao início do ano, mas sim em todos os momentos que o “Protegido” necessitar de auxílio ao longo do ano letivo”, comenta Adalgiza Domingues, orientadora educacional do Fundamental 1.

Intervenções precoces são cruciais para apagar os efeitos do bullying. Programas escolares de prevenção e conscientização, além de apoio psicológico às vítimas, podem desempenhar um papel significativo na redução da incidência e no impacto da violência. Essas medidas podem ajudar a criar um ambiente mais seguro e acolhedor para todos os estudantes.

“Percebemos que este projeto auxilia não apenas os “Protegidos” no acolhimento e adaptação ao colégio, mas também aos “Anjinhos da Guarda” a desenvolver as suas habilidades sociais, a sua responsabilidade, a sua empatia, o seu senso coletivo e a grande parceria durante todo o ano”, finaliza Adalgiza.

  • Com Assessorias
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