O Rio de Janeiro volta a respirar literatura com a 40ª edição da Bienal do Livro, de 1º a 10 de setembro. O evento é uma oportunidade para se desconectar do mundo virtual e mergulhar no universo mágico dos livros. Mas como incentivar o hábito da leitura entre as crianças em um mundo cada vez mais dominado pelas telas? Este é um desafio imposto a pais e educadores não só no Brasil, mas no mundo inteiro.

“Enquanto muitos pais se esforçam para desconectar os filhos de dispositivos eletrônicos, a Bienal do Livro traz a oportunidade de envolvimento com histórias fora das telas. Ao ver, tocar um exemplar e conversar com escritores, o fascínio pelo prazer da leitura é ressaltado. É o momento dos autores se transformarem em presenças reais, capazes de compartilhar histórias e suas motivações de forma pessoal e envolvente”, diz a escritora Renata Dembogurski (veja o artigo abaixo).

O incentivo à leitura deve começar cada vez mais cedo. A reflexão é importante especialmente terminando esse agosto, o Mês da Primeira Infância, que tem por objetivo estimular a realização de atividades pedagógicas, culturais e esportivas para as crianças até 6 anos. De acordo com o DataSUS, publicado em 2021, no Brasil, há 20,6 milhões de brasileirinhos e brasileirinhas nesta faixa-etária.

Um estudo recente mostra que é possível disputar espaço com o apelo das telas a partir do exemplo em família, especialmente na chamada primeira infância. A leitura do adulto com uma criança é uma das formas mais significativas de se desenvolver um laço afetivo entre ambos. Essa experiência se torna ainda mais impactante quando ocorre nos primeiros seis anos de vida, pois contribui também com a compreensão da realidade e desenvolve outros benefícios socioemocionais que acompanharão da infância até a idade adulta.

Essa é uma das conclusões do estudo “Impacto da leitura feita pelo adulto para o desenvolvimento da criança na primeira infância”, realizado pelo Itaú Social, que analisa impacto da leitura realizada pelos adultos para o desenvolvimento, desde a primeira infância até a fase adulta.

Outro destaque do levantamento é a constatação de que a mediação de leitura deixa a criança mais bem preparada para a entrada do Ensino Fundamental e para o início da alfabetização, além de proporcionar um melhor desempenho socioeconômico na fase adulta.

O estudo mostra que o envolvimento dos familiares durante a pré-escola é significativamente associado à aquisição da habilidade da leitura com reflexos que chegam até a conclusão do Ensino Fundamental, inclusive apresentando índices de repetência mais baixos.

“O contato com o livro na primeira infância é uma oportunidade para a construção da identidade da criança. Quando esse contato ocorre por meio da mediação de leitura com um adulto próximo, essa experiência se torna ainda mais significativa, estimulando aprendizagem, a imaginação, a criatividade e a empatia para lidar com sentimentos e emoções”, conclui a gerente de Implementação do Itaú Social, Cláudia SIntoni.

‘No mundo de hoje, é preciso ler muito’, diz professora

A educadora Mônica Barbosa Macedo, de Corumbá (MS), desenvolve ações de mediação de leitura no Instituto Moinho Cultural Sul-Americano. “Além de núcleos de dança, música e tecnologia, temos nos dedicado à leitura que, no meu entendimento, é uma arte que dialoga com todas as outras. Afinal, os espetáculos de dança e concertos de nossa orquestra, em boa parte, são inspirados em grandes obras literárias. E, no mundo de hoje, para se manter atualizado sobre novas tecnologias, é preciso ler muito”, conta.

A pedagoga é uma das 68 mil formadas pelo percurso “Leitura e Escrita”, oferecido gratuitamente pelo Polo, ambiente de formação do Itaú Social. A iniciativa é composta por quatro cursos, sendo que dois deles são os mais procurados pelos cadastrados da plataforma: o Infância e leitura e o Leitura para bebês, com mais de 39 mil e 27 mil inscrições, respectivamente.

“Meu curso mais recente foi o Infâncias e Leituras, marcando o início de uma jornada na área de Multiletramentos. Nossa equipe conta com quatro professores de literatura, acompanhando o desenvolvimento no ensino regular e realizando atividades com foco na interpretação de textos e rodas de leituras”, conta a educadora.

Polo – Além das formações gratuitas e certificadas, o Polo disponibiliza um acervo de conteúdos referentes à educação pública. São 260 arquivos com acesso aberto e gratuito, entre artigos, infográficos, estudos, pesquisas e galerias. Conta ainda com a seção editorial, que traz análises sobre temas desafiadores do setor, como equidade racial, pandemia, fortalecimento das vozes indígenas, monitoramento e avaliação.

Em agosto de 2022, recebeu a medalha de prata do prêmio internacional Brandon Hall – Exccellence Awards 2022 na categoria: “Best Advance in Learning Technology Implementation / Melhor Avanço na Implementação de Tecnologia de Aprendizagem”.

Palavra de Especialista

Bienal do Livro Rio: oportunidade de viver a literatura fora das telas

Por Renata Dembogurski*

É impressionante como o entretenimento disputa nossa atenção. Filmes, séries, redes sociais e videogames orbitam nossas telas e vidas. Com a ascensão imponente dessas mídias, o mundo da literatura enfrenta uma acirrada disputa para ter um espaço nessa rotina.

É aí que a força de eventos literários como a Bienal do Livro do Rio de Janeiro surge como impulso, capaz de dar nova significância aos livros e oferecer uma interação capaz de cativar novos leitores, além de estabelecer um equilíbrio nesse embate entre mídias.

Toda a interação direta e imersiva que a Bienal oferece, consegue criar uma conexão entre escritores e o público que vai muito além do próprio livro. Esses encontros são catalisadores essenciais para solidificar o vínculo dos leitores com o universo da literatura.

Afinal, é na Bienal do Livro que crianças, jovens e adultos podem achar a porta de entrada nesse mundo emocionante e formar novos leitores entusiasmados. Enquanto muitos pais se esforçam para desconectar os filhos de dispositivos eletrônicos, o evento traz a oportunidade de envolvimento com histórias fora das telas.

Ao ver, tocar um exemplar e conversar com escritores, o fascínio pelo prazer da leitura é ressaltado. É o momento dos autores se transformarem em presenças reais, capazes de compartilhar histórias e suas motivações de forma pessoal e envolvente.

Isso cria um laço humano que é páreo para a sensação de imersão proporcionada por outras mídias e reforça a ideia de que, por trás de cada história, há uma mente criativa e uma voz única, tornando a experiência literária ainda mais envolvente.

A atmosfera vibrante do evento destaca a literatura que é base para a criação de diversos roteiros e até videogames. Muitas vezes, os jovens desconhecem os livros que originaram essas narrativas. Em meio à crescente ênfase em multiversos, metaversos e viagens no tempo, que é bem o tema que eu escrevo, é importante reconhecer que esses assuntos têm raízes profundas na literatura.

Autores como Neal Stephenson, Isaac Asimov, Philip K. Dick, H. G. Wells e William Gibson exploraram esses conceitos em suas obras muito antes de se tornarem tendências populares que fascinam a cultura pop contemporânea.

Em um mundo saturado de estímulos digitais, experiências reais e presenciais como a Bienal são fundamentais para romper as barreiras entre ficção e realidade, tanto para leitores quanto autores, que podem acolher seu público com o “olho no olho”.

*Renata Dembogurski é escritora, ghostwriter, diretora de redação publicitária e roteirista. Autora do sci-fi Virkadaz, ela estará na Bienal do Livro do Rio de Janeiro para encontrar com os leitores.

Com Assessorias

Leia mais

Dicas de livros para incentivar o hábito da leitura nas crianças
Leitura e cérebro: O que acontece quando você lê todos os dias?
Como distrair as crianças em casa com boa leitura
Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *