Pesquisas científicas vêm tentando cada vez mais comprovar a segurança e o potencial terapêutico do uso da cannabis medicinal no manejo dos mais variados tipos de doenças, como epilepsia, esclerose múltipla, autismo, Alzheimer, Parkinson, além de dor crônica e sintomas frequentemente associados ao câncer, como náuseas, vômitos, inapetência e, ainda, outros problemas que também atingem a qualidade de vida de milhares de pessoas, como a insônia e a ansiedade.
Com isso, a demanda de pacientes vem seguindo crescimento exponencial no Brasil: neste ano, entre janeiro e junho, foram 66.159 autorizações para importações de medicamentos concedidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O aumento é de 95% em relação ao mesmo período de 2022, isso sem contar o volume cada vez maior de pacientes que já compram os produtos diretamente em farmácias de todo o Brasil.
De acordo com o neurologista Gabriel Micheli, gerente médico da farmacêutica brasileira Health Meds, apoiadora da Rio Innovation Week, a medicina canábica vive hoje um segundo momento, de aprofundamento da pesquisa e desenvolvimento de fórmulas mais sofisticadas, destinadas a tratamentos específicos. “São mais de 140 canabinóides identificados na planta”, diz ele.
Por conta disso, o tema não poderia ficar de fora da maior conferência global dedicada à inovação, tecnologia e negócios, que acontece no Rio de Janeiro, entre 3 e 6 de outubro. A Rio Innovation Week vai abordar o uso da maconha com grau farmacêutico para fins medicinais, além de políticas publicas, um tema urgente para evolução deste mercado em expansão no Brasil. A Conferência Health Tech, que acontece durante o evento, traz, entre outros debates, o painel ‘Cenário da Cannabis no Brasil e Mundo’, nesta quarta-feira (4), às 15h.
Além de Gabriel Micheli, da Health Meds, o debate reúne Renata de Freitas, diretora do Instituto Nacional do Câncer (Inca) – Hospital do Câncer IV – Unidade de Cuidados Paliativos; Alex Lucena, CIO da The Green Hub; e Paula Dall’Stella, fundadora da Sativa global education. Outros painéis sobre a medicina canabinoide também estão em pauta na conferência, que acontece das 10h às 19h, no Píer Mauá (Av. Rodrigues Alves 10 – Centro). Veja mais detalhes da programação aqui.
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Uso de canabinoides raros com efeito sedativo
Apoiadora do Rio Innovation Week desde a primeira edição, a Health Meds está presente na para troca sobre ciência, pesquisa e a regulamentação da medicina canabinóide. Em janeiro deste ano, em parceria com a Hospital Israelita Albert Einstein, reconhecido como o melhor hospital da América Latina, a indústria iniciou uma pesquisa inédita no mundo sobre o uso dos derivados da Cannabis (canabidiol 133mg + canabigerol 66mg + tetraidrocanabinol – THC), no tratamento de enxaqueca crônica.
A pesquisa com 110 pacientes é liderada por Alexandre Kaup, neurologista do Einstein e também observa o uso de analgésicos no período e o comportamento das comorbidades comuns a esses pacientes, como transtorno de ansiedade e distúrbios do sono. O estudo comparativo com placebo busca avaliar o desempenho das substâncias na redução da frequência, intensidade e duração das dores e nas comorbidades que afetam o bem-estar dos pacientes.
O neurologista Flávio Henrique Rezende da Costa, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Health Meds, faz parte desse movimento de pesquisa aprofundada com os chamados “canabinóides raros”. Ele é um dos responsáveis pela primeira formulação com fitocanabinóides totalmente focada na insônia.
“No desenvolvimento desse produto inédito utilizamos três canabinóides raros com efeito sedativo: o canabigerol (CBG), o canabinol (CBN) e o Canabicromeno (CBC), todos sem psicoatividade. Dessa forma, o medicamento é mais tolerável e tem baixíssimas chances de causar dependência ou efeitos colaterais”, explica o médico.
O neurologista Gabriel Michelli diz que a formulação, inédita no mercado, não possui THC e nem CBD e já é a mais usada nesta terapia para insônia. O medicamento também inclui terpenos, extraídos da própria planta da cannabis, substâncias que incorporam ao produto odor e sabor de frutas e vegetais.
“Eles criam uma ação sinérgica na composição, o chamado ‘efeito entourage’, que potencializa o poder sedativo dos canabinóides – a marca detém o produto com a maior concentração de terpenos do mercado, 2,5%”.
Médicos poderão aprofundar conhecimentos em cannabis medicinal, em evento científico
A neurocirurgiã Patricia Montagner, fundadora da WeCann Academy, comunidade internacional e centro de formação em Medicina Endocanabinoide, ressalta que as constantes evidências científicas em torno dos benefícios da cannabis medicinal colocam a Medicina diante de um potencial farmacológico disruptivo. “Diante do cenário de crescimento da indústria canabinoide no Brasil, o aprofundamento médico se faz cada vez mais necessário para contribuir com os avanços”, diz.
Patrícia é idealizadora do WeCann Summit 2023, que acontece nos dias 24 e 25 de novembro, no Royal Palm Hall, em Campínas (SP), para compartilhar conhecimento técnico com embasamento científico sobre o uso medicinal da cannabis, visando quebrar paradigmas na comunidade médica e ampliar o acesso seguro e assertivo às terapêuticas baseadas no sistema endocanabinoide.
Em dois dias de imersão, serão mais de 30 palestras com a presença das maiores referências nacionais e internacionais no assunto, participação de mais de 1.500 médicos, além de feira de exposições, com a apresentação das principais empresas e indústrias do mercado.
A especialista lembra que, no entanto, em meio a uma avalanche de informações equivocadas e enviesadas, existem milhares de pacientes que estão usando produtos à base de cannabis sem a orientação adequada de seu médico assistente.
“E pior, muitas vezes, usam sem indicação e acompanhamento médico. A maioria desses pacientes são portadores de doenças crônicas e incapacitantes, e fragilizados por falhas sequenciais nos tratamentos convencionais, tentam usar derivados canabinoides de forma empírica, pouco segura e assertiva”, ressalta.
Patricia salienta que, mesmo que sem aprofundamento, todo e qualquer médico deve ter conhecimento mínimo nessa área para orientar e proteger o paciente. “Há questões equivocadas, com interesses nitidamente direcionados e precisamos nos unir para orientar a comunidade médica de forma ética e cientificamente apropriada”, conclui.
Mais sobre o WeCann Summit 2023
O evento será realizado em cooperação técnica com a IACM (International Alliance for Cannabinoid Medicines), sociedade científica de maior respaldo e credibilidade na disseminação do conhecimento sobre cannabis medicinal existente atualmente no mundo, sendo essa a primeira a iniciativa apoiada pela renomada instituição na América Latina.
Durante o WeCann Summit, também será apresentado o inédito Mapa de Evidências de Cannabis Medicinal, com o objetivo de facilitar o acesso completo e imparcial às evidências científicas disponíveis.
O estudo e análise do Mapa foi realizado em parceria com o Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN) e o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME), responsável pela democratização do acesso e uso de informação baseada em evidência científica da Organização Pan-Americana da Saúde e Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS).
As equipes técnicas da WeCann, CABSIN e BIREME/OPAS/OMS uniram esforços para atualizar a literatura científica sobre o uso medicinal da cannabis a fim de apoiar profissionais de saúde, tomadores de decisão e pesquisadores na construção de ações de saúde baseadas em evidências.
As vagas são limitadas e médicos de variadas áreas, além de acadêmicos de Medicina, podem se inscrever no site summit.wecann.academy.
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