Quase metade (47,9%) dos médicos psiquiatras de 23 estados e do Distrito Federal perceberam aumento na procura por consultas durante a pandemia do novo coronavírus. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) mostrou que os atendimentos cresceram até 25% quando comparados ao período anterior para dois terços dos entrevistados (59,4%). Sintomas de ansiedade, depressão e transtorno de pânico e alterações significativas no sono foram os mais percebidos pelos profissionais.

O aumento dos atendimentos foi motivado, em sua maioria, pelo agravamento dos transtornos ou desenvolvimento de novas patologias psiquiátricas devido ao medo da Covid-19. Entretanto, a redução dos atendimentos àqueles que assim identificaram também se deve ao medo da contaminação e às estratégias para evitar o contágio”, identifica o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP.

Ex-pacientes e novos pacientes engrossam números

A pesquisa também teve como objetivo identificar os atendimentos a pacientes novos, para os que apresentaram recaída após o tratamento já finalizado ou o agravamento de quadros psiquiátricos em pacientes que ainda estão em tratamento. A grande maioria (89,2%) dos médicos entrevistados destacou o agravamento de quadros psiquiátricos em seus pacientes devido à pandemia de Covid-19. 

De acordo com a entidade, 69,3% dos psiquiatras informaram que atenderam pacientes que já haviam recebido alta médica e que tiveram recidiva de seus sintomas, que retornaram ao consultório ou fizeram novo contato para atendimento. Segundo a ABP, 67,8% responderam que receberam pacientes novos após o início da pandemia, pessoas que nunca haviam apresentado sintomas psiquiátricos antes. 

Quando saímos de nossa homeostase, ou seja, o nosso modo usual de funcionamento, cognitivo, comportamental e emocional, temos que usar nossos mais nobres recursos para adaptação. É nesse sentido que muitas pessoas, ao não conseguirem fazer esse ajuste, adoecem e necessitam de atendimento especializado. É de se supor que, num momento de grande mudança e necessidade de adaptação, sintomas de ansiedade, depressão e relacionados ao trauma aumentem e precisem de uma abordagem imediata”, explica o psiquiatra.

Queda em atendimentos por medo da contaminação

Para ele, já era certo que a pandemia de Covid-19 teria sérios impactos nos atendimentos e na saúde mental da população. Segundo o médico, mesmo antes da pesquisa, já se sabia que uma pandemia destas proporções traria consequências graves à saúde mental de todos.

Entre o grupo que não percebeu aumento nos atendimentos durante a pandemia, 44,6% dos entrevistados, uma questão discursiva apontou o movimento contrário: a queda no número de atendimentos.

Entre os principais motivos listados, figuraram a interrupção do tratamento por parte do paciente devido ao medo de contaminação, queda no atendimento aos grupos de risco, e as restrições de circulação impostas por algumas localidades. 

‘A quarta onda já chegou e não temos tempo a perder’

Antônio Geraldo da Silva destaca a importância de monitorar o atendimento psiquiátrico durante a pandemia para traçar estratégias de cuidado à saúde mental da população. Segundo ele, a pesquisa identificou dois cenários preocupantes como consequência de uma única possibilidade.

O monitoramento da saúde mental de pacientes já em tratamento ou em remissão, bem como da população em geral, é fundamental nesse momento. O estresse é uma reação normal que nos ocorre quando temos que ajustar nosso organismo frente à mudança”, explica o presidente.

Segundo ele, a pesquisa permite ter uma ideia da realidade dos atendimentos psiquiátricos no país e os pontos aos quais os especialistas precisarão se dedicar para garantir um atendimento em saúde mental de qualidade para toda a população, mesmo em tempos de Covid-19.

A quarta onda, que é a onda das doenças mentais, já chegou e não temos mais tempo a perder. Temos que atuar firmemente para minimizar os prejuízos que todos terão deste momento, monitorando a saúde mental da população e o atendimento psiquiátrico”, ressalta.

Segundo o psiquiatra, neurocientista e pesquisador Pablo Vinicius, os transtornos emocionais serão maiores que a pandemia do vírus.  O profissional ressalta ainda que será preciso um trabalho em conjunto, para que as pessoas não adoeçam e consigam enfrentar o que está por vir.

Sem o convívio social, muitas pessoas desencadeiam reações diversas, como: ansiedade, medo, insegurança, incertezas, tristeza, insônia e solidão. Emocionalmente fragilizadas, elas tendem ao agravamento do caso. Neste momento, o médico psiquiatra é um grande aliado para o controle destas reações mentais e possível quadro depressivo”, explica o especialista.

Com Assessorias

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