O paulistano e administrador de empresas Márcio Frascino Neto, então com 32 anos, trabalhava há vários anos no escritório de um multinacional na Zona Oeste da capital paulista. Ia e voltava quase diariamente do trabalho, no trajeto Lapa-Perdizes, de motocicleta. Tinha uma vida intensa, com muitas viagens e prática esportiva regular. No dia 23 de março de 2018, isso tudo mudou: ele sofreu um acidente, se chocando contra um ônibus com a moto, e teve a perna direita amputada pouco acima do joelho.
Foi uma longa jornada até a total cicatrização do corte (que teve mais de 100 pontos), aprender a andar de muletas, conseguir uma prótese (caríssima) capaz de lhe proporcionar qualidade de vida adequada e encontrar um propósito para sua vida. A prótese, que valia perto de R$ 40 mil, foi doada por uma pessoa desconhecida, o que ele considerou um verdadeiro “milagre”. Passou quase sete meses em casa antes de retornar ao trabalho, já com a prótese, mas ainda sem dominar o seu uso.
“E agora? Como será minha vida?”, pensou na época, totalmente desolado. A resposta veio da própria irmã: “A partir de agora, você terá de decidir se vai ser a vítima, ou se vai ser o cara que vai fazer acontecer, vai inspirar outras pessoas com dificuldades”. Ele optou pela segunda opção. Desde janeiro de 2019, já realizou dezenas de palestras motivacionais em locais e empresas diversificados. Deixou seu emprego e hoje se dedica a isso. “Como todo mundo me via muito positivo nesse assunto do acidente, decidi investir no trabalho de palestrante motivacional”, diz ele, que já foi procurado por diversas agências de publicidade e fez comerciais para a TV para marcas.
Monociclo elétrico virou terapia
Neste meio tempo, Márcio não só aprendeu a dominar a prótese como investiu em outra atividade que o tornou um dos únicos em todo o mundo: ele aprendeu a pilotar um monociclo elétrico, aquele veículo com apenas uma rodinha no qual o condutor vai em pé. Ele é o único amputado do Brasil que pilota com grande desenvoltura este equipamento – e um dos raros do mundo. “Uso o monociclo principalmente como lazer. É minha terapia.”
Márcio possui um modelo da distribuidora Eletricz, fabricado pela marca King Song, o 16S, capaz de atingir 30 km/h de velocidade máxima. Na rua, hoje em dia, pilotando seu monociclo elétrico pelas ciclofaixas, não é raro encontrar uma criança que, depois de juntar o monociclo (um veículo ainda pouco comum na paisagem paulistana) e sua prótese, logo se apressa em chamá-lo de “super-herói”, rótulo que Márcio descarta com bom humor. “Sou uma pessoa comum reaprendendo a viver e, hoje, com um propósito muito claro de inspirar pessoas”, afirma.
‘Lidar com o problema é a chave para ser ou não feliz’
Mesmo antes do acidente, Márcio já vivia uma fase de reflexões, questionando o rumo da própria vida. Quando voltou à rotina da empresa de novo, quase sete meses depois, logo bateu de novo a sensação de vazio. Ele pensava: “O que eu estou fazendo da minha vida?”.
No dia do acidente, chovia e Márcio ficou quase uma hora deitado na rua sangrando e aguardando o resgate, que demorava. “Passei este tempo questionando minha vida e achando que ia morrer. Do meu lado, uma enfermeira que estava dentro do ônibus não me largou nem um instante. Foi meu anjo da guarda”, acredita.
Hoje, aos 35 anos, Márcio tem como objetivo inspirar pessoas, mostrando que um acidente ou uma situação ruim no nosso dia a dia nós podemos não ser capazes de controlar, mas que a forma como vamos lidar com o problema é a chave para ser ou não feliz e contribuir para ajudar outras pessoas com suas próprias dificuldades.