Apesar de Jair Bolsonaro, que sempre desprezou as vacinas e as vidas humanas perdidas na pandemia, o Brasil, enfim, iniciou oficialmente a vacinação. Não no “Dia D e na Hora H”, como previa o ministro da Saúde, General Eduardo Pazuelllo, mas na hora em que os estados e municípios receberam as primeiras doses da CoronaVac, aquela vacina vinda da China que Bolsonaro tanto desdenhou, mas quis comprar para não ficar ainda mais atrás no bonde da História.

Boa parte dos estados que receberam as primeiras doses da CoronaVac nesta segunda-feira (19) decidiram por antecipar a vacinação, marcada por Pazuello para quarta-feira (20), às 10 horas, ainda que de forma simbólica, como fez São Paulo no domingo, assim que a Anvisa deu sinal verde para a vacina produzida pelo laboratório chinês, em parceria com o Instituto Butantan (SP). O Rio de Janeiro, por exemplo – que recebeu apenas 24 mil das 487.520 doses do imunizante que serão destinadas ao estado – caprichou e promoveu uma celebração aos pés do Cristo Redentor para marcar o início da vacinação.

Duas mulheres – Terezinha Conceição, de 80 anos, moradora do Abrigo Cristo Redentor; e Dulcinea da Silva Lopes, de 59 anos, profissional de saúde que atua na linha de frente no combate à pandemia – foram as escolhidas para tomar a primeira dose da CoronaVac no Rio. Houve denúncias de que a cerimônia gerou aglomerações, o que é totalmente contra-indicado em tempos de pandemia.

Ainda nesta segunda, Bolsonaro comentou a aprovação da CoronaVac. Em um vídeo publicado em uma rede social do filho dele, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, disse que a CoronaVac é do Brasil e, sem citar nomes, criticou o governador de são Paulo, João Doria, do PSDB, que iniciou no domingo (17) a vacinação.

Pessoal, uma notícia. Apesar da vacina… Apesar não, né? A Anvisa aprovou. Não tem que discutir mais. Agora, havendo disponibilidade no mercado, a gente vai comprar e vai atrás de contratos que fizemos também, que era para ter chegado a vacina aqui. Então, está liberada a aplicação no Brasil. E a vacina é do Brasil, não é de nenhum governador não. É do Brasil”, declarou.

A declaração foi dada depois de mais uma tentativa sem sucesso de trazer ao Brasil as primeiras 2 milhões de doses da Covishield, a vacina da Universidade de Oxford e Astrazeneca a ser produzida aqui pela Fiocruz. Nesta segunda o presidente Bolsonaro se reuniu com o embaixador da Índia no Brasil. O ministro da Saúde alegou que o problema para o avanço nas negociações é o fuso horário da Índia, mas que espera receber as vacinas ainda esta semana.

Todos os dias nós temos tido reunião, reuniões diplomáticas com a Índia, todo dia. O fuso horário é muito complicado. Não há uma resposta positiva de saída até agora. Está sinalizado para os próximos dias desta semana o embarque da carga para cá. Nós estamos contando com essas 2 milhões de doses para que a gente possa atender mais ainda a população”, disse Pazuello.

Vacinação em asilo do Rio é desmarcada

A vacinação de 462 pessoas – entre idosos e funcionários do Abrigo Estadual Cristo Redentor, que ocorreria nesta terça-feira (18/1), às 8h, foi cancelada por “motivo de força maior”, segundo informou a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. Segundo o governador em exercício Cláudio Castro, o restante do que foi prometido pelo Ministério da Saúde deve chegar ao Rio para esta primeira fase de imunização na madrugada desta terça-feira (19/01).

Essa é a primeira etapa, ainda pequena, mas ao final dela o Brasil estará entre os cinco países que mais vacinaram no mundo. Este é o início da virada no Rio de Janeiro. É muito singular começar a vacinação no Cristo Redentor, que representa a paz, o amor e a vida. Hoje cedo fui a São Paulo e me reuni com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e mais 15 governadores para reiterar que o plano de imunização é nacional. Cada brasileiro importa igualmente ao outro”, disse Castro, aliado de Bolsonaro.

Logo no início da manhã desta terça-feira (19/01) começará a distribuição simultânea e proporcional aos 92 municípios do estado. Cinco cidades receberão o maior número de vacinas nesta primeira fase – Rio de Janeiro (capital), com 231.840 doses; São Gonçalo, 27.590; Niterói, com 23.240; Nova Iguaçu, 14.930; e São João de Meriti, 14.870.

A vacina é uma luz no fim do túnel para todos nós e, sem dúvida, nos trará grandes resultados. O Governo do Estado coordena a ação de todos os municípios e, ao mesmo tempo, apoia a logística. Se não fosse a preparação do Governo do Estado, nós, por exemplo, não teríamos a quantidade necessária de seringas para a vacinação”, afirmou o prefeito do Rio, Eduardo Paes.

Antes, as vacinas serão catalogadas no Centro de Distribuição da Secretaria de Estado de Saúde, em Niterói. Na sequência, carros, caminhões e vans serão utilizados na logística de distribuição às cidades. A operação terá também o apoio de cinco helicópteros do estado (Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros) para que a vacina chegue até as mais distantes cidades no menor tempo possível.

Novo pedido para mais 4,8 milhões de doses

Nesta segunda-feira (18), a Anvisa começou a analisar novo pedido do Instituto Butantan para registro emergencial de um segundo lote de 4,8 milhões de doses da CoronaVac, que foram finalizadas, envasadas e rotuladas pelo órgão em São Paulo, já que a autorização dada neste domingo (17) pela agência foi apenas para as primeiras 6 milhões de doses. A previsão é de que em dez dias seja dada uma resposta final.

O pouco número de vacinas disponíveis até agora é a grande preocupação de especialistas. “A gente precisa avançar. Isso está considerado no documento que o ministério apresentou já mês passado. A gente precisa avançar essas negociações. Não só com novos fabricantes, mas o fechamento, a concretização dessas negociações já feitas, com o envio das vacinas contratadas pelo Brasil”, afirmou Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, ao Jornal Nacional.

‘Agora vou poder sair um pouco pra dar um passeio’, diz idosa

Terezinha,,de 80 anos, recebe a primeira dose aos pés do Cristo (Foto: Eliane Carvalho)

Terezinha da Conceição, 80 anos, se surpreendeu quando soube que ia subir o Corcovado e que seria a primeira pessoa a ser vacinada no Estado do Rio. Ela mora no Abrigo Cristo Redentor, em Bonsucesso, desde 2015, quando teve sua casa demolida pela Defesa Civil, devido às condições precárias e ao risco de desabamento.

“Todo mundo precisa se vacinar contra a Covid. Não tenham medo, a vacina é para que a gente fique com saúde e volte à vida normal”, incentiva Dona Terezinha. Ela já tem planos para quando estiver imunizada: voltar a fazer seu artesanato, passear e frequentar a quadra da escola de samba onde desfila na ala das baianas.

Solteira, sem filhos, Dona Terezinha recebe o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e antes da pandemia tinha uma rotina de passeios, que incluía idas à quadra da escola de samba Estácio de Sá. Ela é a única idosa do abrigo a fazer parte do projeto do município do Rio de Janeiro chamado ‘Agente Experiente’, onde os idosos possam preencher o tempo ocioso com atividades diversas.

Que bom ser escolhida para ser a primeira a receber a vacina no meu Estado. Fico muito feliz, até porque vou sair um pouco para um passeio. Com todo cuidado do mundo e seguindo rigorosamente as medidas sanitárias. Não consigo ficar muito tempo parada, estou doida para voltar a trabalhar” concluiu Terezinha.

Lúcida e independente, dona Terezinha também quer se imunizar para voltar a receber a visita dos amigos. “Tomara que seja logo”, torce a mineira de Belo Horizonte que veio para o Rio de Janeiro ainda criança e daqui não saiu mais.

Há cinco anos a casa onde dona Terezinha morava, no Santo Cristo, foi interditada e por decisão judicial ela foi levada para o Abrigo Cristo Redentor. No abrigo, uma instituição federal sob gestão do estado, residem 207 idosos. Eles são cuidados por uma equipe interdisciplinar de 262 profissionais, entre médicos, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas e nutricionistas.

Quem pode se vacinar nesta primeira fase

Os 6 milhões de doses da vacina CoronaVac, do Instituto Butantan, foram divididos da seguinte forma: Sudeste, pouco mais de 2,5 milhões (sendo quase 1,5 milhão para São Paulo, berço da vacina); Nordeste, quase 1,5 milhão de doses; Sul, 750 mil; região Norte, 708 mil doses e Centro-Oeste, 574 mil doses.

Nessa primeira fase, vão ser vacinados profissionais de saúde, idosos com 75 anos ou mais, idosos com mais de 60 anos que moram em instituições de longa permanência, indígenas que vivem em aldeias e comunidades ribeirinhas e pessoas com deficiência que vivem em Residências Inclusivas. E todos deverão tomar duas doses da vacina. Serão necessários quase 30 milhões de doses.

Fonte: Jornal Nacional, Agências e SES-RJ

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