Pouco se ouve falar sobre câncer de ovário, mas atualmente este é considerado o tumor ginecológico mais grave e difícil de ser diagnosticado em fases iniciais e, por isso, combatido. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), para o ano de 2018 são esperados 6.150 novos casos de câncer de ovário. Esse número corresponde a 3% do total de neoplasias estimadas em mulheres. O risco de uma mulher desenvolver este câncer ao longo da vida é de 1,3%.

A doença tem maior incidência após os 50 anos de idade. Em cerca de 70% dos casos o diagnóstico se faz em estágios avançados da doença (III e IV). Como os sintomas são vagos e mal definidos e, na fase inicial, podem não se mostrar presentes, o diagnóstico precoce ainda permanece um desafio. Por isso, o Dia Mundial do Câncer de Ovário (8 de maio) é fundamental para alertar as mulheres sobre sintomas, tratamento e prevenção.

Leia ainda – Atriz Márcia Cabrita morreu com câncer de ovário

Menstruação precoce e menopausa tardia

Entre os fatores que contribuem para um risco aumentado desta doença estão a primeira menstruação precoce (abaixo dos 12 anos), menopausa tardia (acima dos 52 anos), obesidade e tabagismo. Outros fatores de risco também estão associados ao câncer de ovário, como histórico familiar e reposição hormonal na menopausa, entre outros.

Identificar de maneira precoce o câncer de ovário é um grande desafio para os médicos. É muito importante que a paciente faça o acompanhamento regular com o ginecologista”, sinaliza Daniela Amaral, oncologista do Grupo CON – Oncologia, Hematologia e Centro de Infusão.

Por outro lado, a gravidez, a amamentação e o uso de contraceptivos orais agem reduzindo o risco do câncer de ovário. Estudos recentes demonstraram que mulheres que fizeram uso contínuo de anticoncepcionais por período superior a cinco anos, houve uma diminuição em até 60% da incidência deste tipo de câncer”, diz Michelle Samora, oncologista do Centro Paulista de Oncologia CPO – Grupo Oncoclínicas.

Predisposição genética em 15% dos casos

Cerca de 15% dos tumores ovarianos são decorrentes da predisposição genética hereditária, herdada de pai ou mãe. No entanto, a especialista ressalta que as mutações genéticas que predispõem ao câncer de ovário podem não se limitar a mulheres com uma forte história familiar da doença.

Aquelas mulheres sabidamente portadoras de mutação no gene BRCA (principal gene envolvido no surgimento desta doença) têm um risco de desenvolver o câncer de ovário ao longo da vida de 25% a 45%, muito acima do risco de uma mulher não portadora de alteração genética.

Nesta situação, é possível indicar medidas como a cirurgia preventiva de retirada dos ovários e tubas uterinas, uma vez que este procedimento reduz em 96% o risco de desenvolvimento do câncer de ovário. Esta é uma decisão que deve ser tomada de forma conjunta pela paciente e seu médico”, pontua a oncologista do CPO.

Porém, um terço das portadoras da mutação do gene BRCA  não apresenta sequer um familiar portador de câncer. É por este motivo que, ao se realizar o diagnóstico de câncer de ovário, todas as mulheres devem ser testadas geneticamente.

Papanicolau não detecta o câncer de ovário

Reconhecer os primeiros sinais da doença pode levar a um diagnóstico em fase inicial, aumentando bastante a probabilidade de sobrevivência. No entanto, pouco se sabe sobre o mecanismo ou tempo de progressão do câncer de ovário localizado para o disseminado.

Até o presente momento, não há exames indicados para triagem do câncer de ovário na população em geral ou naquelas portadoras de mutação no gene BRCA – mesmo com várias modalidades de exames já avaliados, incluindo ultrassom, exames de sangue ou mesmo tomografia anuais.

As especialistas ressaltam que o exame Papanicolau também não detecta o câncer de ovário, já que é específico para detectar o câncer do colo do útero. “Alguns exames, como ultrassonografia transvaginal e a dosagem de CA 125 no sangue, são muito solicitados pelos médicos em busca do diagnóstico precoce da doença, mas não se mostraram eficazes como método de rastreio”, afirma a Dra Daniela.

Segundo a médica, esses exames não reduziram as estatísticas de mortalidade, mesmo realizados anualmente em mulheres sem sintomas e sem histórico familiar. “A ultrassonografia pélvica ou transvaginal se mostrou útil apenas para diagnosticar a doença já existente e, na maioria das vezes, já avançada”, completa.

 

Sintomas são confundidos com outros desconfortos

O câncer de ovário é discreto e demora a se manifestar. Por isso, na maioria dos casos, é diagnosticado tardiamente, quando já se espalhou pelo aparelho reprodutor e outros órgãos abdominais. Quando os sintomas são aparentes, pode ocorrer um aumento do volume abdominal, dor, alterações no ciclo menstrual, no hábito urinário e intestinal.

A suspeita de neoplasia de ovário se dá com o inchaço abdominal contínuo, sem melhora, a perda de apetite, dor na região pélvica e o aumento na necessidade de urinar”, explica a Dra. Daniela.

“O problema é que os sintomas, quando aparentes, são parecidos com os desconfortos do dia a dia da mulher e, na maioria dos casos, são deixados de lado. Por isso, é recomendado que a mulher procure um especialista caso perceba qualquer alteração, mesmo que pareça usual”, afirma Dra.Michelle.

Tratamento inclui retirada dos ovários

É importante destacar que toda paciente com alguma massa suspeita deve ser submetida a uma abordagem cirúrgica, realizada por um cirurgião oncológico experiente. A partir daí, será estabelecido o diagnóstico definitivo, a extensão da doença e o tratamento.

A definição do tratamento para pacientes com câncer de ovário depende do tipo e estágio da doença. “Em linhas gerais, a cirurgia ainda é o principal tratamento e a quimioterapia pode ser indicada, dependendo do caso, antes e/ou após a intervenção cirúrgica”, explica a oncologista.

“Em casos selecionados do desenvolvimento do câncer de ovário em idade fértil, o tratamento visando a manutenção da fertilidade feminina, deverá ser particularizado”, finaliza.

Fonte: CPO e CON, com Redação

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