Estimativas apontam que, até 2040, a doença renal crônica será a quinta maior causa de morte no mundo e que atinge cerca de 5 milhões de brasileiros. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a DRC já pode ser considerada epidêmica, visto que um a cada dez adultos pode ter algum grau de disfunção renal.
Alguns estudos reportam prevalência próxima de 15% em populações de países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Dados mostram uma progressão anual no número de pacientes em tratamento dialítico – em 2020, foram mais de 144 mil no Brasil, cerca de 50 mil a mais do que em 2010, e confirma que mais de 80% dos tratamentos são realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo informações da Sociedade de Nefrologia do Estado do Rio de Janeiro (Sonerj), apenas no estado, 13 mil pessoas sofrem com a doença. Para chamar atenção global para a necessidade de cuidado com os rins, foi instituído em 2006 o Dia Mundial do Rim (10 de março). A campanha é idealizada pela International Society of Nephrology (ISN) e coordenada no Brasil pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).
Ainda que as projeções para os próximos anos sejam alarmantes, há vasto desconhecimento sobre a doença e seus impactos na saúde pública. Por isso, esse ano, a campanha foca justamente na educação sobre a doença renal em todos os setores de saúde: comunidades, profissionais de saúde e formuladores em saúde pública.
Com o lema “Educando sobre a Doença Renal”, a campanha esquematiza a necessidade de gerar conscientização em três diferentes eixos da sociedade: comunidade, profissionais de saúde e formuladores de políticas em saúde. Para celebrar a data, a partir das 19h, o monumento ao Cristo Redentor será iluminado com as cores azul e vermelho com o objetivo alertar a população sobre a DRC. Personalidades como o ex-futebolista Zico já vestiram a camisa em apoio à causa.
Entendendo a doença renal crônica
Quando uma lesão nos rins se mantém por três ou mais meses, alterando o funcionamento do órgão, trata-se de uma doença renal crônica. Essa condição é capaz de proporcionar impactos negativos em funções vitais do organismo, como a regulação da pressão arterial; a filtragem do sangue; a eliminação de toxinas do corpo; o controle de sal e água e a produção de hormônios que evitam complicações diversas.
O nefrologista Pedro Tulio Rocha, presidente da Sonerj, explica que, por se tratar de uma condição muitas vezes assintomática e de progressão silenciosa, o cenário atual não é dos melhores. “Por causa do isolamento social causado pela pandemia de Covid-19, exames de rotina e visitas a médicos se tornaram mais negligenciados. Para uma doença como essa, o diagnóstico precoce é fundamental”, afirma.
Entre as principais causas, podem ser citados o diabetes, a pressão alta (hipertensão), as infecções do tecido renal e o uso excessivo de alguns medicamentos que podem reduzir a função dos rins a longo prazo.
“Nos estágios iniciais, a doença renal crônica é silenciosa. Em outras palavras, não apresenta sintomas ou eles são poucos e inespecíficos. Em muitos casos, o diagnóstico acontece tardiamente, acompanhado da progressão da doença. Se o funcionamento dos rins já estiver suficientemente comprometido, pode ser necessário recorrer à diálise ou mesmo ao transplante renal”, explica o médico.
Alguns dos principais exames para a detecção precoce da DRC são a dosagem de creatinina no sangue e o exame de urina simples. De baixo custo, possibilitam evitar os agravos da doença e, consequentemente, permitem melhor qualidade de vida ao paciente.
Entre os sinais de alerta da DRC, o nefrologista cita menor produção de urina; inchaço nas mãos, no rosto e nas pernas; falta de ar; dificuldade para dormir; perda de apetite; náusea e vômito; pressão alta e sensação de frio e cansaço.
Pacientes renais podem viver com mais qualidade de vida
Uma palavra usual da medicina tornou-se mais do que falada por conta da pandemia do coronavírus, caindo no conhecimento da população: comorbidade. E refere-se a duas ou mais doenças em um mesmo indivíduo. Normalmente, uma nova doença se desenvolve porque já existia a anterior. Muitas vezes, é o que ocorre com a doença renal, que pode surgir após a diabetes ou a hipertensão. Ao longo de anos ou décadas, essas comorbidades podem provocar danos em diversos órgãos, dentre eles o rim, sobretudo quando não são acompanhadas e tratadas adequadamente.
“A doença renal crônica (DRC) é definida como qualquer alteração estrutural ou funcional do rim que persista por mais de três meses. A creatinina é utilizada como um marcador no sangue para identificação do estágio da doença. Então, um simples exame de sangue já pode mostrar que algo vai errado com os rins de um indivíduo”, explica Ana Beatriz Barra, nefrologista e diretora médica na Fresenius Medical Care.
Segundo ela, a perda de função renal pode ser leve, moderada ou avançada, também chamada de falência real. Nos casos avançados, a terapia renal substitutiva é necessária para a sobrevivência dos pacientes e as três principais opções disponíveis são: hemodiálise, diálise peritoneal e transplante. Eventualmente a paliação é a melhor opção e pode ser uma decisão conjunta das famílias e profissionais de saúde.
Empoderamento do paciente renal
Há muito o que se aprender sobre saúde renal a fim de prevenir a doença, que muitas vezes é silenciosa. Também é possível melhorar a qualidade de vida dos pacientes portadores de doença renal através de educação e conscientização sobre o manejo da doença renal, dos sintomas e a participação do paciente através do seu empoderamento. É importante envolvê-lo em processos decisórios sobre o tratamento, além de estimular o desenvolvimento de habilidades para o autocuidado.
“O foco no paciente e sua família é muito importante para promover maior participação e integração do paciente e seus entes queridos com o nefrologista e a equipe de cuidado multiprofissional. Esse processo visa dar atenção individualizada para os pacientes, buscando identificar sintomas mais importantes, e consequentemente o suporte à doença”, ressalta a dra Ana Beatriz.
Mesmo no contexto de uma doença renal avançada, quando os rins param de funcionar de vez, o entendimento e a participação do paciente no seu tratamento são fundamentais. O desafio de enfrentar esta fase da doença passa por medos e angústias, sobretudo quando ocorre dependência de uma terapia para viver, como a hemodiálise.
No entanto, um diálogo adequado entre todos os envolvidos, como pacientes e famílias, médicos e todas as equipes de saúde pode contribuir para um “ressignificado”, dependendo de como cada paciente lida com seu poder de transformação ao iniciar esta nova jornada. E que nada mais é do que a grande chance de continuar vivendo mesmo sem os rins e sendo protagonista da própria história.
“É muito importante que os pacientes saibam também que o desenvolvimento tecnológico e o conhecimento vêm trazendo melhorias na qualidade da diálise, com novas terapias, como a hemodiafiltração online e, portanto, mais opções para os pacientes viverem mais e melhor. Nossa meta é criar um futuro que vale a pena viver para todos os pacientes com doenças renais, mas especialmente para aqueles que dependem da diálise para viver”, completa a especialista da Fresenius.
Com Assessorias