Estudos apontam que a nicotina persiste como uma das drogas mais utilizadas no mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o tabagismo matou mais de 100 milhões de pessoas no século XX, E poderá matar um bilhão no século XXI. Mas enquanto a OMS celebra uma redução global no consumo de tabaco – passando de 1 em cada 3 adultos em 2000, para 1 em cada 5 no ano passado –, outra preocupação emerge: o uso de Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) – também chamados de cigarros eletrônicos, vapes ou ‘pen-drives’.

No Brasil, a situação é preocupante. Desde 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a fabricação, venda, importação e propaganda dos DEFs, o que torna o produto ilegal no país. No entanto, é fácil realizar a compra online e em lojas físicas e nos últimos anos – até camelôs vendem livremente o produto, especialmente próximos de bares e outros locais de grande aglomeração de jovens.

Por conta dessa violação clara da lei, o país vem demonstrado um notável aumento no consumo dos vapes. De acordo com pesquisa apresentada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), mais de 2 milhões de brasileiros afirmaram ter usado os DEFs com o objetivo de deixar o cigarro tradicional, e outros 6 milhões de pessoas fumantes disseram já ter experimentado o cigarro eletrônico em algum momento.

Além disso, o Google Trends mostrou que, entre 2021 e 2023, as pesquisas por “cigarro eletrônico” aumentaram mais de 1.150% no país. Esses dados levantam questões intrigantes sobre a percepção das pessoas em relação aos riscos do produto à saúde, já que muitos optam pelo uso do vape acreditando que seja uma alternativa menos prejudicial que o cigarro comum.

No entanto, a realidade é diferente. “O tabagismo é maléfico e vaporizadores e cigarros eletrônicos são iguais ou piores do que os cigarros tradicionais”, diz o especialista do Hospital Cema, Cícero Matsuyama. Entre os males, ele cita processos alérgicos e inflamatórios em toda a árvore respiratória

Consumo de tabaco cai, mas jovens ‘migram’ para cigarro eletrônico

Enquanto o consumo de tabaco diminui globalmente, dispositivos eletrônicos ganham popularidade, preocupando comunidade médica

Apesar de tudo isso, já amplamente divulgado, inclusive aqui pelo Portal ViDA & Ação, que é totalmente antitabagista e há 8 anos edita especial Vida Sem Fumo’ –, nos últimos anos, os vapes se tornaram mais comuns entre os jovens. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), de 2019, aponta que os maiores índices de experimentação de cigarro eletrônico foram observados entre adolescentes de 13 a 17 anos.

“Esses itens têm sido uma verdadeira febre, especialmente entre os jovens, mas é importante lembrar que cigarro eletrônico é tão nocivo quanto outras formas de tabaco. Se utilizado por longo período, pode provocar severas complicações”, diz o médico.

Os números já têm reflexo nos consultórios. “Notamos um aumento significativo de jovens com quadros de asma exacerbada, tosse, falta de ar e, em casos mais graves, pneumonia e insuficiência respiratória aguda em decorrência do uso desses dispositivos”, revela a médica.

Segundo Andrea Sette, pneumologista do Hospital São Luiz Itaim, da Rede D’Or, uma análise mais aprofundada revela que o público jovem é particularmente atraído pelos cigarros eletrônicos. A facilidade de acesso, os aromas, sabores e apelos de marketing contribuem para a sua crescente popularidade entre os adolescentes.

“Há ainda a falsa sensação de poder fumar sem culpa, pautada na ideia de que o produto consiste apenas em vapor de água, o que é uma ilusão”, destaca a médica.

Apesar da imagem de alternativa “mais segura”, por não conter monóxido de carbono, os cigarros eletrônicos contêm nicotina e dezenas de outras substâncias químicas, incluindo cancerígenos comprovados para pulmão, bexiga, esôfago e estômago.

“Eles oferecem ainda perigos específicos, como o vazamento de metais pesados no filamento aquecido, aumentando o risco de câncer, adoecimento por síndrome respiratória aguda e até mesmo explosão do dispositivo”, alerta pneumologista.

Por isso, afirma Sette, “é imperativo que a sociedade compreenda os reais riscos envolvidos no uso desses dispositivos eletrônicos e que medidas sejam tomadas para conter essa tendência”.

Ela vê com muita cautela a elaboração de um novo posicionamento da Anvisa quanto à liberação desses dispositivos – a consulta pública termina neste dia 9 de fevereiro – veja como opinar aqui. “A situação, que já é alarmante, pode piorar muito”, enfatiza a médica.

Com Assessorias

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