Se o uso abusivo de álcool já faz muito mal à saúde, imagine se a bebida alcoólica é adulterada? O estado de São Paulo registrou nove casos de intoxicação por metanol em 25 dias, com pelo menos três mortes, o que levou à divulgação de um alerta pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em nota, a secretaria informa que os casos ocorreram a partir da ingestão de bebida alcóolica adulterada.

O metanol é uma substância líquida, inflamável e incolor. É amplamente utilizado como solvente, na fabricação de combustíveis, plásticos, tintas e medicamentos Tem grande potencial de intoxicação, e quando consumido pode levar à morte mesmo em doses pequenas.

Os casos foram notificados pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) de Campinas (SP), unidade de referência em toxicologia no estado e que atende diversos municípios, e foram encaminhados à secretaria por serem considerados “fora do padrão para o curto período de tempo e também por desviar dos casos até hoje notificados de intoxicação por metanol”.

O Ciatox recebeu, nos últimos dois anos, casos de intoxicação por metanol a partir de consumo de combustíveis por ingestão deliberada em contextos de abuso de substâncias, frequentemente associada à população de rua. Contudo, de acordo com a notificação de hoje, a ingestão se deu em cenas sociais de consumo alcóolico, incluindo bares, e com diferentes tipos de bebida, como gin, whisky, vodka, entre outros”, informa.

Um pico de casos ocorreu na região, no primeiro semestre de 2023, com intoxicação de 14 pessoas em situação de rua.  A Secretaria de Saúde de Campinas informou que não houve registro de intoxicação por metanol na cidade este ano e que o “Ciatox realiza análises para diversos municípios”.

A prefeitura de Campinas informou realizar ações de combate ao mercado ilegal e comércio de bebidas alcoólicas falsificadas, sendo a mais recente no início do mês com a fiscalização de 130 estabelecimentos e 48 tipos de produtos.

Leia mais

App promete ajudar na moderação do uso de bebidas alcóolicas
Intolerância a bebida: teste ajuda a identificar o ‘gene antiálcool’
‘Copo meio cheio’: 83% querem provar bebidas não alcoólicas

‘Boa Noite, Cinderela’: estudantes criam teste rápido para bebidas adulteradas

Projeto de cinco jovens de escola pública nasceu da preocupação com casos de abuso após adulteração de bebidas

Um grupo de cinco estudantes da Escola Estadual Mario D’Elia, em Franca (SP), desenvolveu um protótipo de teste rápido para bebidas adulteradas. O projeto, apelidado de ‘Acorda, Cinderela’, foi desenvolvido por estudantes da segunda série do Ensino Médio ao longo de três meses com uso de alcaloides e outros compostos químicos.

A proposta veio da estudante Kemily Patrícia Lira, que desde o início do ano se sensibilizou com as notícias de vítimas de abuso na região envolvendo o “boa noite, Cinderela”.  Ela vive com constante hipoglicemia, e foi durante o uso do glicosímetro que a ideia nasceu.

Pensei: ‘e se eu pudesse descobrir se a minha bebida está adulterada tal como quando eu meço a minha glicemia?’ Nós já queríamos fazer algo para a feira de ciências da escola, então a ideia foi imediatamente aceita”, explica a estudante.

Kemily se uniu aos colegas Matheus Carboni, Natália Ferreira, Ana Livia Barbosa e Daniel de Andrade para desenvolvimento do projeto. Para esta tarefa, os estudantes contaram com a orientação dos professores Milena Aímola Falqueto e Irineu Zulato, ambos mestres com amplo conhecimento em ciências biológicas e neurociência, respectivamente.

Inicialmente tivemos que apresentar as substâncias presentes no ‘boa noite, Cinderela’, tal como cetamina e GHB, para que os estudantes compreendessem como eles funcionam no nosso corpo. Em um segundo momento, buscamos reproduzir essa dinâmica com alcaloides, que são compostos químicos orgânicos”, explica Milena.

O  estudante Daniel de Andrade explica que os alcaloides são de origem vegetal, por isso estão presentes na maioria das plantas. “Além de conter uma boa quantidade de nitrogênio, eles também são responsáveis por proteger as plantas de predadores e dar um sabor amargo à maioria delas”, detalha.

Ele, que sempre se interessou pela área de artes, tomou gosto pela ciência e hoje fica animado com o potencial do projeto: “os alcaloides atuam no sistema nervoso central, então faz todo sentido usá-los como exemplo de algo maior, como medicamentos mais fortes”, acrescenta.

Os estudantes criaram um kit de reação colorimétrica com fita de absorção e reagente químico que atualmente já identifica a presença de alcaloides em bebidas. A proposta dos estudantes é aprimorar a técnica de forma que o mesmo kit também identifique benzodiazepínicos, não-benzodiazepínicos além de inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS).

Para atestar a viabilidade do projeto, de junho a agosto, os estudantes, juntamente com os professores Milena e Irineu, realizaram 30 testes aplicando 2ml de alcaloides em 200ml de seis tipos de bebidas diferentes, independentemente serem alcóolicas. Até mesmo a colorimetria precisou ser avaliada por meio de três tipos de papéis de absorção, além das interferências externas. “Para um projeto como esse, é necessário o máximo de rigor laboratorial e o máximo de atenção.”, explica a professora Milena.

O método escolhido por nós é um aspecto importante, pois outras propostas já fizeram o mesmo por meio de canudos ou mesmo copos”, descreve a estudante Kemily sobre o kit desenvolvido pela turma. “A nossa proposta se assemelha mais com um teste rápido, pois impede o contato da pessoa com o objeto que atesta o que tem a mais na bebida”, conclui.

Atualmente, o grupo se concentra na finalização de um artigo científico com os resultados da fase de testes, enquanto dá entrada na solicitação de compra de patente da iniciativa. A ideia do grupo é que a proposta se popularize e possa ajudar a população, sobretudo mais jovem em épocas como a do carnaval.

A diretora da Escola Estadual Mario D’Elia, Rosemeire de Oliveira Mora Domenegheti, parabenizou a iniciativa dos estudantes e o trabalho dos professores. Para ela, “o sucesso da pesquisa é fruto da ‘sementinha’ de cada um dos participantes envolvidos, que dedicaram tempo, leitura, criatividade e senso de pertencimento”. “É emocionante ver jovens que se importam com os seus e fazem a diferença. Nossa escola não poderia estar mais orgulhosa”, finaliza.

Com Agência Brasil e GovSP

 

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *