Nesta segunda-feira, 19 de junho, é lembrado o Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Falciforme, uma alteração genética e hereditária que causa uma alteração na forma das hemácias (glóbulos vermelhos do sangue). Por ser uma doença de origem africana, a DF é mais comum – mas não exclusiva – em pretos e pardos, e pode afetar quase todos os órgãos e sistemas, surgindo a partir do primeiro ano e se estendendo por toda a vida.

Dados do Programa Nacional de Triagem Neonatal, do Ministério da Saúde, apontam que entre os anos de 2014 e 2020, a média anual de novos casos de crianças diagnosticadas foi de 1.087, numa incidência de 3,75 a cada 10 mil nascidos vivos. Estima-se que há 60 mil a 100 mil pacientes com DF no país. A distribuição no Brasil é bastante heterogênea, sendo a Bahia, o Distrito Federal e Minas Gerais as unidades de maior incidência.

Em condições adequadas, as hemácias são redondas, mas assumem a forma de “meia lua” ou “foice” (daí o nome “doença falciforme”). Essa mudança de formato ocorre em situações de esforço físico, estresse, frio, traumas, desidratação, infecções, entre outros. Os glóbulos vermelhos não oxigenam o organismo de maneira satisfatória porque têm dificuldade de passar pelos vasos sanguíneos, causando má circulação em quase todo o corpo.

Crises de dor são algumas das principais manifestações clínicas da Doença Falciforme, que incluem icterícia, anemia, infecções, complicações renais, oculares, dentre outras, incluindo complicações tardias relacionadas à sobrecarga de ferro secundária às transfusões. Também são identificados outros sintomas como síndrome mão-pé, crise de sequestração esplênica, acidente vascular encefálico, priaprismo, síndrome torácica aguda, crise aplásica, ulcerações e osteonecrose.

Acupuntura pode aliviar a dor de pacientes

Uma pesquisa inédita da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgada em outubro de 2022, concluiu que a Acupuntura, considerada uma das técnicas da Medicina Tradicional Chinesa, é uma terapia complementar eficaz à medicação na redução da intensidade da dor em pacientes com doença falciforme. O estudo também mostrou que a aplicação da técnica foi capaz de diminuir o consumo de analgésicos entre os pacientes avaliados.

Essas conclusões estão na tese de doutorado de Stela Cezarino de Morais, orientada pela professora Maria Stella Figueiredo e coorientada pelo professor Ysao Yamamura (in memoriam). O trabalho foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Medicina (Hematologia e Oncologia) da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) – Campus São Paulo.

O estudo foi realizado com 42 pacientes acompanhados pelo Ambulatório de Anemia Hereditária da EPM/Unifesp que referiram dor durante a consulta de rotina. Eles foram randomizados em dois grupos: 16 no grupo de medicação (GM), medicados com analgésicos de acordo com intensidade de dor imediatamente e posteriormente em domicílio, e 26 no grupo de acupuntura (GA), submetidos a uma sessão de 15 minutos de acupuntura imediatamente, seguido de medicação em domicílio.

Ambos os grupos receberam receita e amostras de analgésicos para levar para casa, além de um diário para registrar episódios de dor durante 14 dias. Nele, deveriam informar o nome e a quantidade de doses das medicações analgésicas utilizadas em cada dia, bem como a intensidade da dor referida de acordo com a escala numérica da dor. Uma comparação quantitativa da melhora da dor foi realizada em 15 minutos após a intervenção e, diariamente, ao longo dos 14 dias seguintes.

Comparado com o GM, o GA apresentou melhora expressiva da dor após 15 minutos da intervenção: 96,2% dos pacientes tiveram redução da dor maior ou igual a dois pontos na escala da dor, descrita como desejável na literatura médica, contra 58,3%. Já ao final do primeiro dia em que foi feita a aplicação, a tendência de ter mais pacientes com redução da dor maior ou igual a dois pontos foi de 50% para o GA contra 20% para o GM. Também houve menor consumo de analgésicos pelo GA no período de até 14 dias.

“Além disso, dentro do grupo de acupuntura, quando analisamos o desfecho ‘ficar totalmente sem dor’, 14,3% dos pacientes apresentaram essa condição previamente somente com medicações, enquanto que 95,2% deles ficaram totalmente sem dor após a sessão de acupuntura”, descreve Morais.

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doença falciforme e a dor

Segundo a pesquisadora, a Doença Falciforme causa a deformação das hemácias (glóbulos vermelhos do sangue), que assumem a forma de ‘foice’ (falcização). Essa morfologia achatada e tentacular permite, com maior facilidade, a adesão ao endotélio — tecido que reveste a parede interna dos vasos sanguíneos — e entre as próprias hemácias, facilitando a obstrução do fluxo sanguíneo principalmente nos vasos capilares.

As manifestações clínicas, as quais ocorrem ao longo da vida dos pacientes, são decorrentes da isquemia tecidual pela vaso-oclusão, quando há obstrução do fluxo sanguíneo gerando sofrimento para os tecidos correspondentes, da lesão endotelial ou da hemólise crônica, caracterizada pela destruição precoce de hemácias.

“A dor é a característica mais comum do paciente falciforme, sendo a sua frequência o principal fator na queda da qualidade de vida desses indivíduos. Nesse trabalho, valorizamos o sistema desenvolvido pelo professor Ysao Yamamura, que provoca alívio imediato da dor — o que dificilmente se obtém com medicações”, relata a pesquisadora.

Diagnóstico pelo Teste do Pezinho

De acordo com o Ministério da Saúde, a Doença Falciforme (DF) é caracterizada por uma mutação no gene que produz a hemoglobina (HbA), fazendo surgir uma hemoglobina mutante denominada S (HbS), que é de herança recessiva. Existem outras hemoglobinas mutantes: C, D, E,  etc., que em par com a S constitui-se num grupo denominado de doença falciforme. A anemia falciforme é a forma HbSS.

Apesar das particularidades que distinguem as doenças falciformes e das variadas gravidades, todas essas doenças têm manifestações clínicas e hematológicas semelhantes. O diagnóstico da DF é feito, principalmente, no Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) – “Teste do Pezinho”.

Crianças a partir dos quatro meses de idade, jovens e adultos que ainda não fizeram diagnóstico para detecção da doença podem realizar o exame de sangue chamado eletroforese de hemoglobina, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). A eletroforese de hemoglobina também está inserida na rotina do pré-natal, que é garantido a todas as gestantes e parceiros.

Com informações da Unifesp e do Ministério da Saúde

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