É comum encontrar pessoas obesas ou com excesso de peso que já tenham sofrido algum tipo de discriminação. As atitudes preconceituosas direcionadas para os que convivem com essa condição são inúmeras, como um olhar atravessado ao passar na catraca do ônibus ou comprar roupas novas, ao montar a refeição em um restaurante ou até mesmo ao ocupar assentos no transporte público.

Julgamentos pré-concebidos podem, muitas vezes, acuar pacientes e impedir que procurem ajuda especializada. Este cenário resulta em pessoas na busca de se tratar de forma autônoma, com o uso de medicamentos e dietas restritivas que não resolvem, mas pioram a condição do indivíduo.

Muitos pensam que as causas da obesidade dependem exclusivamente de questões pessoais, como preguiça gula e a falta de força de vontade. São suposições que estão em desacordo com as evidências científicas”, repudia Sophie Deram.

A partir de diversas pesquisas, o consenso indica que o estigma da obesidade é uma questão bem difundida na sociedade. A prevalência de discriminação apresenta taxas mais altas entre aqueles com maior Índice de Massa Corporal (IMC) e entre as mulheres, quando comparadas com os homens.

Um estudo de 2018 citado pelos autores sugere que aproximadamente 40% a 50% de adultos norte-americanos com excesso de peso e obesidade sofrem internalização do estigma, e cerca de 20% experimentam isso em níveis elevados.


4 mitos ligados à obesidade

Sophie esclarece que existem quatro mitos relacionados à obesidade. Para a especialista é necessário mostrar às pessoas os reais motivos por trás desta condição pode tornar o tratamento desta doença mais humano e efetivo, não apenas no ponto de vista dos estudiosos da área, como também da população em geral que convive e, muitas vezes, maltrata quem sofre com o excesso de peso. Confira abaixo:

1 – Obesidade é uma opção
Esta é uma das declarações mais irresponsáveis que podem ser feitas em relação ao excesso de peso, pois transfere toda a responsabilidade para a pessoa que já está vulnerável. “É preciso se atentar que a obesidade é um problema multifatorial, ou seja, envolve questões genéticas, emocionais, culturais e fisiológicas”, esclarece a especialista.

2 – Consome mais calorias do que gasta
Usar esta expressão é simplificar a complexidade com a qual o corpo humano trabalha. A conta não é tão simples. “São muitos os fatores que podem levar um indivíduo a desenvolver esta condição, comer muito não pode ser considerada uma causa predominante”, destaca Sophie.

3 – Obesidade é um estilo de vida
Mais uma vez a desinformação pode levar as pessoas a tirarem conclusões equivocadas como esta. Dados de estudos realizados em diversos países mostram que a obesidade é sim um problema de saúde que pode afetar as pessoas em diferentes momentos da vida. “Considerar a obesidade como opção é transferir toda a responsabilidade para o indivíduo. Na verdade, é um problema multifatorial, que envolve questões sociais, culturais, genéticas, emocionais e fisiológicas”, avalia.

4 – Obesidade severa pode ser resolvida com dietas e exercícios físicos
E por último, porém não menos insensata, esta afirmação pode ser refutada pelo simples fato de não ter apoio científico. Estudos já comprovaram a ineficácia de tentativas voluntárias de restringir a alimentação e adicionar exercícios físicos nesta equação ajuda menos ainda. Esta combinação, para aqueles que sofrem com um quadro severo de excesso de peso, traz resultados modestos que não se sustentam em longo prazo.

Sophie explica que, quando aderimos às dietas restritivas, acontecem duas mudanças em nosso corpo: o aumento de apetite e a redução da taxa metabólica basal – mínimo de energia necessária para manter as funções vitais do organismo. “Justamente por essa combinação de resultados, nosso corpo entende que estamos passando pela privação de alimentos e promove a recuperação de peso”, aponta Sophie.

No mundo todo, inúmeras pessoas sentem-se insatisfeitas com seus corpos refletidos no espelho e lutam com problemas de imagem corporal. Devido a esse desagrado, tanta gente se submete a anos de dietas restritivas como a “low carb”, cetogênica, e as ricas em proteínas (paleolíticas), mas se engana quem acha que esta é a solução!

Estes métodos extremistas não fazem bem à saúde e, como consequência, podem produzir o famoso “efeito sanfona”, além de levar a compulsão alimentar e obesidade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos.

A busca pelo corpo magro, musculoso, ou considerado como ‘ideal’ são práticas inseridas na ‘cultura da dieta’. Quando criamos crenças sobre a comida e classificamos determinados alimentos em proibidos, eles se transformam em tabus. Com a proibição, surge o desejo de violar a regra, o que aumenta as chances de exagerar e até mesmo de desenvolver uma compulsão alimentar”, alerta a especialista em nutrição, Sophie Deram.

Para driblar essa vontade exagerada de comer, é essencial começar pela mudança no pensamento, compreendendo que excessos não fazem bem e que dentro de uma alimentação saudável é possível ter uma variedade de produtos, incluindo os mais ricos em energia (carboidratos) ou gordura. “É importante considerar que cada alimento tem uma porção e frequência adequada, e até os conhecidos como “guloseimas” e fast-foods podem fazer parte de uma rotina equilibrada, desde que consumidos com moderação”, explica a nutricionista.

Alimentar-se prestando atenção nos sinais de fome e saciedade do corpo também é uma dica para contornar os momentos de gula. É claro que ela requer paciência e autoconhecimento, mas é muito eficaz! “Quando abrir espaço para uma indulgência, escolha um que goste bastante e aprecie com calma, pois desta forma é mais fácil se saciar com uma quantidade menor. Caso exagere, evite comportamentos de compensação como omitir refeições ou fazer jejuns, pois eles apenas agravam a sensação de culpa”, diz Sophie Deram.

Durante palestra “É tempo de abandonar a cultura da dieta: entenda por que ela é um problema”, promovida pela Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), apresentada no Ganepão 2020, um dos maiores eventos de saudabilidade da América, ela deu algumas dicas para conseguir manter a sintonia entre as sensações do corpo, a comida e a mente:

1 – Antes de comer deixe os problemas de lado, relaxe e aprecie a sua refeição.

2 – Diminua as ideias de magreza e corpo ideal, aceita a sua forma física e a sua beleza natural.

3 – Use as roupas que te fazem sentir bem. Se admire ao espelho e não deixe que a beleza de outra pessoa traga aspectos negativos para forma que enxerga o seu próprio corpo.

4 – Quanto mais prazer você leva para as refeições, melhor será a sua relação com a comida.

5 – Quando temos sintonia com o nosso próprio corpo, conseguimos diferenciar o que é uma necessidade e o que é uma vontade. Tudo pode ser consumido, desde que na quantidade certa. Então, se permita!

Por fim é válido lembrar que alimentação não é apenas o consumo de nutrientes, e sim um ato social e um prazer que sempre acompanhou os seres humanos. Portanto, aproveite este momento sabendo equilibrar frequência e quantidade, sem recorrer à gula.

Com Assessorias

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