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A polêmica com a chamada “pílula do câncer” voltou à tona esta semana. Reportagem do ‘Fantástico’ anunciou que pesquisadores que participaram dos estudos sobre a fosfoetanolamina como medicamento para combater o câncer agora querem vendê-la como suplemento alimentar. A notícia caiu como uma bomba no meio médico e científico.

“Há uma brecha na legislação que permite substâncias sem grandes toxicidades conhecidas a se postarem no mercado sem nenhum objetivo exceto o de faturamento. A pílula do câncer não tem nenhum efeito conhecido contra o câncer. Todos os testes feitos até o momento deram negativos”, explica o oncologista clínico Álvaro Machado, diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e do Centro de Tratamento do Câncer (CTCAN).

Segundo ele, se a fosfoetanolamina não tem indicação como medicamento e não tem ação identificada que possa trazer qualquer benefício de saúde, não há por que ser consumida como suplemento alimentar. “Não há nenhum motivo para uma substância que não é comprovadamente benéfica para o organismo ser consumida com qualquer outro interesse”, ressalta.

Sem comprovação

O especialista ainda explica que, nos primeiros estudos em humanos, a fosfoetanolamina se mostrou sem toxicidade grave aguda, ou seja, sem efeitos colaterais graves que possam aparecer após o consumo.”Isso não exclui a possibilidade de efeitos colaterais tardios e crônicos pelo uso continuado. A ingestão crônica dessas substâncias só poderá revelar efeitos não desejados após vários anos de observação”, ressalva.

Machado destaca que o mais importante é alertar a população de que é absolutamente inverídica qualquer menção de benefício para a saúde. “Hoje estamos em campanha de esclarecimento reforçando que a fosfoetanolamina não é medicamento, não tem papel de manutenção ou de promoção da saúde e qualquer menção, mesmo que subjetiva, de que ela possa fortalecer a imunidade ou proteger o organismo contra células defeituosas é pura abstração e mentira do ponto de vista científico”.

Propaganda foi proibida

A fosfoetanolamina, que não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), era distribuída irregularmente pelo químico Gilberto Chierice no Instituto de Química de São Carlos (IQSC-USP) como tratamento de câncer. Agora o biólogo Marcos Vinícius de Almeida e o médico Renato Meneguelo anunciaram o lançamento da substância como suplemento alimentar. Os pesquisadores, responsáveis pelo suplemento da Quality Medical Line, faziam parte do grupo de Chierice, mas romperam com o químico e agora anunciam sua comercialização em forma de suplemento.

Mas a Anvisa está de olho na questão e determinou na terça-feira (21) a suspensão das propagandas de duas marcas de suplementos alimentares que contêm fosfoetanolamina. A publicidade dos produtos das marcas Quality Medical Line (do Laboratório Frederico Diaz) e New Life sugerem propriedades terapêuticas, o que é proibido pela legislação sanitária brasileira.

Segundo Machado, a propaganda afirmando que ela reforçaria a imunidade e teria um papel na eliminação de células com problemas é especulação, com nenhuma base científica. “É uma situação muito ruim, traz mais confusão para pacientes e familiares que estejam enfrentando o câncer”, ressalta.

O que são suplementos alimentares?

A suplementação alimentar é recomendada por médicos e nutricionistas para suprir alguma deficiência. Segundo Machado, existem suplementos que são preparados especificamente para contornar alguma situação momentânea ou crônica com relação à deficiência alimentar. Entretanto, existem vários compostos no mercado sem nenhuma contribuição para a saúde.

“Suplementos alimentares são uma gama de substâncias muito grande. A própria cartilagem de tubarão já foi vendida como suplemento alimentar, sem nenhum benefício reconhecido. Não tem papel terapêutico definido e não é um medicamento”, esclarece.

Meios de prevenção

O oncologista ressalta que números cânceres são relacionados com o sedentarismo e a obesidade. Ações simples são eficazes na prevenção contra o câncer e promoção da saúde física e mental. De acordo com o oncologista, alguns hábitos aumentam a imunidade e protegem contra o câncer e várias outras doenças. “A atividade física e uma alimentação saudável nos dão um organismo saudável, onde os nossos mecanismos de controle interno vão ser muito mais eficazes em eliminar células eventualmente defeituosas e vamos ter menos chances de ter câncer e outras doenças”, recomenda Machado.

 

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