Estima-se que 2% a 4% dos adolescentes com idade entre 10 e 20 anos apresentem o problema, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 6 milhões de brasileiros têm curvatura lateral acentuada na coluna vertebral e 50 milhões de crianças no mundo. Popularmente chamado de “coluna torta”, a escoliose é mais comum entre adolescentes do sexo feminino.
O problema está tão evidente que recentemente médicos de Goiânia, com o projeto Mude a Curva, fez um mutirão com adolescentes que aguardavam na fila do SUS. A empresa global Barbie and Dolss, da Mattel, criou uma Barbie com escoliose com o intuito de promover a inclusão de crianças que sofrem com o problema, já que muitas relatam casos de bullying.
  • “A escoliose idiopática ainda afeta a qualidade de vida e a autoestima dos pacientes. Infelizmente, adolescentes sofrem bullying pela doença, situação inadmissível, mas comum”, relata Carlos Romeiro, cirurgião de coluna e integrante do Mude a Curva, projeto que reúne médicos voluntários e realiza cirurgias pelo país para desafogar o sistema público de saúde.
A doença ainda é desconhecida pela população e nem sempre é diagnosticada precocemente, um obstáculo já que os médicos afirmam que quanto mais cedo a descoberta da enfermidade, maior é a probabilidade de sucesso do tratamento não operatório.

O que causa escoliose?

Conjunto de ossos articulados que formam o eixo de sustentação do corpo, a coluna vertebral não tem como função apenas a proteção da medula espinhal, do sistema nervoso central, como possibilita agilidade e movimento dos membros, viabilidade e manutenção da postura ereta, proteção aos órgãos internos, além de absorção e dissipação de choques mecânicos e pressão gravitacional. Com tantas funcionalidades, é possível compreender o que uma deformidade nessa estrutura pode significar a longo prazo para a saúde do paciente.

escoliose pode ter origem congênita, ou seja, desde o nascimento. Devido à malformação da própria vértebra, podendo ter origem neuromuscular, desta forma problemas de saúde como a paralisia cerebral, lesões medulares e algumas distrofias musculares podem levar ao aparecimento desta curvatura exagerada da coluna vertebral.

Felipe Mourão, neurocirurgião que é membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e professor, explica que essa condição pode estar presente desde o nascimento, assim como se desenvolver na infância, em sua maioria dos casos são leves, mas o mais comum é surgir na adolescência durante a fase do estirão puberal que é a fase de crescimento acelerado na fase de puberdade.

Tipos de escoliose

Existem diferentes tipos de escolioses em relação a sua origem (degenerativa, neuromuscular, congênita). A mais incidente é a escoliose idiopática cuja principal característica é o surgimento no início da fase de puberdade. Como o próprio nome já diz, a escoliose idiopática não tem causas definidas, mas sabe-se da forte influência genética, já que a incidência é alta em parentes diretos de pacientes com escoliose e ocorre com maior prevalência em adolescentes do sexo feminino.
“Mais comum na população é a escoliose idiopática do adolescente. Recebe este nome por ser mais comum de acontecer na adolescência, durante a fase de crescimento do esqueleto, a coluna nasce normal e vai curvando ao longo do crescimento. Ainda não apresenta uma causa conhecida para sua origem. De uma maneira geral é percebido pelos pais ou pelo próprio adolescente através da diferença de altura dos ombros, ou do mesmo do quadril, quando olhado de frente” , ressalta Mourão.

Segundo Romeiro, a escoliose idiopática pode ser identificada pela alteração do contorno das costas e coluna, além de um desalinhamento dos ombros, diferenças entre os lados na cintura e nos quadris e queixas de desconforto e dores. “O desafio é que muitas vezes essas adolescentes não expõem o próprio corpo, utilizando roupas largas, o que retarda tanto a percepção do problema por parte da família como a procura por ajuda médica”, esclarece.

Sintomas da escoliose

O sintoma mais marcante para o adolescente é a dor, mas o aspecto social que envolve este tipo de deformidade não pode ser desconsiderado na vida de um adolescente. Mas o neurocirurgião Felipe Mourão (foto) explica que de maneira geral, a acentuação da curvatura lateral da coluna não causa dor.
Por isso, em alguns pacientes o diagnóstico acaba sendo tardio, com curvas mais avançadas. O recomendado, no entanto, é o acompanhamento médico, uma vez que o diagnóstico precoce faz toda diferença na condução e evolução do paciente.
“Pais ou cuidadores e até mesmo a própria pessoa percebe o desalinhamento dos ombros ou do quadril (cintura). Esta é a forma mais fácil de perceber a escoliose, percebendo a alteração faz-se necessário a avaliação do especialista em coluna”.

Como diagnosticar?

O diagnóstico é confirmado através do exame físico, onde avaliamos o dorso e a altura dos ombros e quadril, assim como com exames de imagem principalmente radiografias panorâmicas da coluna vertebral em AP, perfil e com inclinações laterais e a medida do ângulo de Cobb, uma técnica para medir a deformidade da coluna vertebral. Já em crianças a avaliação é feita e a classificação de Risser é usada para classificar a maturidade esquelética.
Outro ponto fundamental é a definição da maturação óssea do esqueleto também medida através da radiografia do punho ou bacia onde avaliamos o índice de Risser. Nesta avaliação é possível identificar a capacidade de progressão da curvatura. Somente após avaliação da curvatura da maturação do esqueleto o tratamento poderá ser definido.

Como tratar escoliose?

Dependendo das particularidades de cada caso, o tratamento pode ser feito de forma conservadora através de exercícios supervisionados por um fisioterapeuta e do uso do colete ortopédico, que vai depender do grau de curva (ângulo de Cobb) e do Risser.
Outra alternativa em casos mais complexos é a artrodese da coluna. O procedimento cirúrgico realinha e promove a fusão das vértebras, e é indicado quando o paciente apresenta curvas de 45 graus ou mais, segundo Romeiro. O tratamento cirúrgico deve ser estabelecido em algumas condições, entre elas progressão da curva, apesar do uso de órtese.
“Cirurgias são feitas em situações de curvas elevadas, aquelas superiores a 40 graus ou em progressão apesar do tratamento conservador. O pós-operatório é variável e depende da extensão da cirurgia”, esclarece Mourão.
Cirurgias mais longas no pós-operatório imediato o paciente fica em observação no CTI nas primeiras 24h, para um monitoramento mais próximo, após essas horas segue para o quarto onde se inicia a recuperação com fisioterapia motora e reabilitação corporal, pois há uma mudança de altura e alinhamento que o corpo precisará de adaptar logo após a cirurgia. De maneira geral, o processo de fusão ocorre no período de 3 a 6 meses quando o paciente está liberado para as atividades físicas.

Fila para tratamento da escoliose no SUS

O SUS (Sistema Única de Saúde) oferece serviços de apoio e atendimento aos pacientes, mas há uma fila de espera para quem necessita de procedimento cirúrgico. Esta necessidade, inclusive, move o projeto Mude a Curva, movimento filantrópico, conduzido pelo Brazilian Spine Study Group (BSSG), uma organização sem fins lucrativos fundada por seis cirurgiões de coluna de diferentes localidades do Brasil, que objetiva operar pacientes regulados pelo SUS com deformidades vertebrais via mutirões.

Recentemente, o projeto beneficiou pacientes que aguardavam na fila do SUS em um mutirão que operou 20 pacientes com escoliose em Goiânia, em parceria com a Medtronic, multinacional referência em tecnologia em saúde, e responsável pelos equipamentos necessários para o procedimento cirúrgico. Mas o projeto já passou por outras regiões do país e deve continuar com a ação no ano de 2023.

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