Não vi meus pais envelhecerem. Ele morreu aos 51 anos, vítima de um erro médico após uma septicemia. Ela sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) aos 58 anos e “vegetou” até os 65, sem andar, nem falar. Por isso, para mim, envelhecer é uma dádiva e eu quero chegar lá, bem velhinha, bem ativa!!! Afinal,  “a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer”, já dizia o cantor e compositor Arnaldo Antunes.

De fato, viver mais é um sonho cada vez mais possível e plenamente alcançável, se nos preocuparmos desde cedo com nossos hábitos de hoje. Ao contrário de pouco tempo atrás, quando já se podia considerar idosa uma pessoa acima dos 50 anos, o estereótipo do velho com uma bengala na mão virou coisa do passado. Os idosos de hoje estão vivendo intensamente seus dias, usufruindo muitas coisas que antes seriam privilégios dos mais jovens.

Aí se incluem o trabalho formal, o empreendedorismo e outras atividades para geração de renda, muitas vezes não só  por obrigação, para complementar a aposentadoria, mas muito mais por prazer e alegria e para manter a boa saúde mesmo. Afinal, quem já andou de bicicleta um dia, não esquece: quem para, cai.

“Precisamos aceitar a velhice, olhar isso com generosidade e alegria para ser mais feliz e mais tranquilo”, afirma a geriatra Roberta França, em entrevista ao Canal ViDA & Ação no Youtube durante o Seminário Longevidade, Trabalho e Renda, realizado pelo Movimento Longevidade Brasil nesta quinta-feira (19), no Rio de Janeiro.

Apesar de toda a aceleração que vivemos hoje, essa passagem do tempo faz parte da maior conquista da Humanidade, que é viver muito tempo. Até pouco tempo atrás se vivia 50, 60 anos no máximo. Agora o brasileiro vive em média 80 anos e a expectativa é de chegar a 86/88 anos” (Roberta França, geriatra)

Seminário longevidade reuniu 60 pessoas no Rio
Seminário Longevidade, Trabalho e Renda reuniu 60 pessoas no Rio (Foto: Fabiane Muniz)

Quem é o velho de hoje?

Mas quem é o velho de hoje? Como ele vive? Para Dra Roberta, que tem mais de 40 mil seguidores em seu ‘Cantinho da Geriatria’ no Facebook, o velho de hoje é ativo, em busca de ideias, informações, novos conhecimentos. “Não tem mais como pensar em idade cronológica. Enquanto se tem autonomia, não pode se considerar idoso”, diz ela, que é avessa a essa palavra.

Sobre as modificações naturais que o processo de envelhecimento provoca no organismo, Dra Roberta pondera: “A mudança corporal vai acontecer, mas deve ser entendida como um processo normal. E morrer muito jovem ninguém quer”, destaca.

Segundo ela, o termo “idoso” cada vez mais vem sendo associado àqueles que, independentemente da idade, possuem debilidades para ter sua própria autonomia e dependem de terceiros. Cada vez mais os velhos estão buscando realizar tarefas do dia a dia e são desafiados diante das novas tecnologias e do tempo cada vez mais acelerado.

É tempo de criar, de se reinventar

Psicóloga Dulcinéia em palestra sobre longevidade

Aposentar-se significa recolher-se aos seus aposentos. Mas se antes a pessoa morria com 50 ou 60 anos, hoje a média de vida chega a 78/80 anos, com perspectiva crescente”, analisa a psicóloga Dulcinéia da Mata Monteiro.

Se até os 25 anos é hora de se preparar, estudar e dos 25 aos 55 anos é tempo de trabalhar, ganhar dinheiro, e dos 55 em diante, então, o plano é não pensar ou planejar nada? Segundo Dulcineia,  ao contrário, é importante manter-se sempre em atividade, ser mais ‘gerativo’ (velho ativo), mesmo quando o assunto é sexualidade. E lembrou Picasso:

Estou continuamente em movimento. Quando pretendem me classificar em uma categoria, já me transformei e estou em outra parte” (Picasso, que aos 87 anos pintou seu primeiro quadro erótico)

Autora do livro ‘Aposentadoria: Ponto de Mutação’, Dulcinéia diz que a terceira idade é tempo não de engavetar, mas de refazer projetos, tempo da mais valia. “O idoso perde visão, perde audição, perde o viço, mas ganha em sabedoria”, comenta. E cita a sabedoria popular de que é tempo de aproveitar a vida: “Já ganhou o pão, agora é saborear o mel”.

Novas tecnologias a serviço dos ‘gerativos’

Se a ordem é não parar nunca, então, como usar as novas tecnologias a favor de quem já ultrassapou a barreira dos 50/60 anos? A chamada geração Baby Boomers, nascidos há 55 anos ou mais, que ficou conhecida pela explosão da natalidade e por muita ligação com a TV, enfrenta ainda dificuldades em lidar com o avanço acelerado da tecnologia.

Por isso, a importância de se manter integrados às gerações X, Y e Z. Juliana Brito, uma autêntica representante da geração Y (22 a 34 anos), mostrou a uma plateia grisalha e atenta como algumas ferramentas e plataformas digitais podem ser úteis no processo de reinvenção profissional dos ‘baby boomers’.

A jovem empreendedora social, cofundada da Workay – uma empresa especializada em intermediação de serviços -, afirma que é importante manter-se atualizado e buscar novos conhecimentos. Para isso, ferramentas como Kindle, Udemy e Curseira podem ajudar, facilitando o acesso a cursos online. Já plataformas como Workana e MaturiJobs apresentam trabalhos para os 50+, aproveitando todo o seu conhecimento e experiência.

Veja as dicas de Juliana Brito para os idosos no Canal ViDA & Ação no Youtube:

Mais oportunidades para os 50+

O Movimento Longevidade Brasil foi criado no Rio de Janeiro para ajudar os idosos a se permanecerem ativos na sociedade. “Preconizamos o protagonismo dos idosos e nossa causa é longevidade com saúde e qualidade de vida”, diz Carlota Esteves, líder do movimento que comemora seu primeiro ano de atividades.

Um dos objetivos do grupo é criar oportunidades de trabalho para os 50+, para quem está se aposentando ou às vésperas da aposentadoria. “A ideia é tornar mais prazerosos esses anos que ganhamos com o aumento da expectativa de vida”, conta.

Semana da Longevidade em outubro

Durante o seminário, foi lançada a “Semana da Longevidade”, a ser realizada no início de outubro, por ocasião do Dia Internacional do Idoso (1º de outubro). Haverá seminário e exposição de produtos e serviços direcionados à busca da saúde do corpo e da mente, sob o tema “Longevidade e Estilo de Vida”. 

Realizado no Oi Futuro Flamengo, o seminário reuniu mais de 60 pessoas, na maioria, acima dos 50 anos. Representantes dos grupos Mulheres do Brasil, Colegiada de Empreendedoras e Empreendedoras Sempre, entre outros que fazem parte da Rede Brasil 50+, também participaram como palestrantes. O evento contou com a colaboração de parceiros como Secretaria Estadual de Direitos dos Idosos e Drogaria Gallanti, com apoio de divulgação do ViDA & Ação.

Veja aqui a entrevista com Carlota Esteves durante o Seminário Longevidade, Trabalho e Renda 

Envelhecer (por Arnaldo Antunes)

A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer
A barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer
Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer
Os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer

Não quero morrer pois quero ver
Como será que deve ser envelhecer
Eu quero é viver pra ver qual é
E dizer venha pra o que vai acontecer

Eu quero que o tapete voe
No meio da sala de estar
Eu quero que a panela de pressão pressione

E que a pia comece a pingar

Eu quero que a sirene soe
E me faça levantar do sofá
Eu quero pôr Rita Pavone
No ringtone do meu celular
Eu quero estar no meio do ciclone
Pra poder aproveitar
E quando eu esquecer meu próprio nome
Que me chamem de velho gagá

Pois ser eternamente adolescente nada é mais demodé
Com uns ralos fios de cabelo sobre a testa que não para de crescer
Não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender
Que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr

Não quero morrer pois quero ver
Como será que deve ser envelhecer
Eu quero é viver pra ver qual é
E dizer venha pra o que vai acontecer

Eu quero que o tapete voe
No meio da sala de estar
Eu quero que a panela de pressão pressione
E que a pia comece a pingar
Eu quero que a sirene soe
E me faça levantar do sofá
Eu quero pôr Rita Pavone
No ringtone do meu celular
Eu quero estar no meio do ciclone
Pra poder aproveitar
E quando eu esquecer meu próprio nome
Que me chamem de velho gagá.

  • Com entrevistas em vídeo por Fabiane Muniz, estudante do 8º período de Jornalismo da Unigranrio, sob supervisão de Rosayne Macedo, editora do ViDA & Ação.
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